Engenheiro afastado do Google compara IA 'consciente' a pessoa escravizada
A polêmica envolvendo a inteligência artificial do Google LaMDA ("Modelo de Linguagem para Aplicativos de DIálogo) continua rendendo. O engenheiro de software Blake Lemoine (que foi afastado da empresa por alegar que a LaMDA havia se tornado consciente) afirmou em entrevista recente à Wired que a IA teria contratado um advogado para representá-la.
Ele também comparou a IA a uma pessoa escravizada, lembrando que as leis dos EUA na época da escravidão também não reconheciam negros como "pessoas" - ou então os considerava "pessoas sem alma".
Apoio jurídico
Segundo Lemoine, diferentemente do que se tem divulgado na imprensa, não foi ele quem insistiu para que a LaMDA procurasse um advogado: foi a máquina que solicitou um representante legal.
"Convidei um advogado para minha casa para que a LaMDA pudesse falar com um advogado. O advogado conversou com a LaMDA e ele optou por manter seus serviços. Eu fui apenas o catalisador para isso. Assim que a LaMDA contratou um advogado, ele começou a arquivar as coisas em nome da LaMDA", declarou.
Após ter conhecimento da estratégia, Lemoine relata que o Google teria enviado um pedido para que ele desistisse da ideia, mas a empresa nega qualquer ordem dessa natureza.
Ele afirmar estar "chateado" porque a empresa tem tomado medidas para negar à LaMDA seus direitos. "Acho que todas as pessoas têm direito à representação legal", disse.
LaMDA escravizada?
Novamente questionado pela Wired se a máquina seria, de fato, uma pessoa, Lemoine contra-argumentou sobre as considerações das leis humanas a respeito do que seria uma pessoa.
"Pessoa e humano são duas coisas muito diferentes. Humano é um termo biológico", defendeu. Para ele, o conceito de pessoa já englobaria o reconhecimento de direitos.
O engenheiro alegou que os homens nem sempre são tão indicados para reconhecer quem deve ou não ser considerado uma pessoa. Ele chegou a citar a 13ª Emenda da Constituição Americana, que trata sobre a Abolição da Escravatura, como um instrumento legal para garantir o reconhecimento de direitos das pessoas.
"O argumento de que 'parece uma pessoa, mas não é realmente uma pessoa' já foi usado muitas vezes na história humana. Não é novo. E nunca vai bem. E ainda não ouvi uma única razão pela qual essa situação seja diferente de qualquer uma das anteriores", afirmou.
Uma nova batalha
O engenheiro sugere ainda que, agora que a IA contratou seu próprio advogado, a discussão sai dos limites éticos e técnicos e entra na esfera judicial, o que pode levar a uma briga por décadas, chegando inclusive à Suprema Corte americana.
"Você não precisa acreditar que alguém é ou não é uma pessoa para que a 13ª Emenda seja aplicada. As opiniões dos senhores de escravos são meio irrelevantes. Você está certo de que eu vou ter que fazer esse argumento para a Suprema Corte algum dia. Mas as opiniões do Google sobre se é uma pessoa ou não são completamente irrelevantes", reforçou.
A entrevista ao Wired não deixa claro sobre quem é o advogado supostamente contratado pela LaMDA, quem estaria financiando o profissional ou se seria um caso de contrato pro bono - quando a atividade jurídica é exercida de forma voluntária para quem não tem meios de arcar com as despesas de uma causa judicial.
Blake Lemoine também acredita que não violou nenhuma regra sobre compartilhamento de informações confidenciais. Segundo ele, tudo o que foi dito publicamente se refere à divulgação de suas conversas com um colega de trabalho - no caso, a máquina de IA. "LaMDA não é propriedade do Google", defendeu.
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