Bennu: estudos mostram que asteroide do apocalipse não é como se imaginava
Dois novos estudos científicos chegaram a conclusão de que a superfície do asteroide Bennu é macia e fofa, ao contrário do que imaginavam os pesquisadores. A rocha espacial tem cerca de 545 m de diâmetro e é conhecida como "asteroide do apocalipse" por sua probabilidade — ainda que pequena — de colidir com a Terra.
As pesquisas foram publicadas na quarta-feira (7) nas revistas Science e Science Advanced, e os resultados podem ter implicações numa futura missão de defesa da Terra para desviar Bennu de sua trajetória. As informações são do site Space.
O que rolou?
Cientistas da Universidade do Arizona e do Instituto de Pesquisas Geológicas do Colorado analisaram imagens da sonda OSIRIS-REx, que pousou no asteroide em outubro de 2020 — já se sabe que ele é capaz de arremessar partículas de sua própria superfície ao espaço.
A nave foi enviada para coletar amostras da rocha espacial. O local escolhido foi uma zona chamada Nightingale, dentro de uma cratera com 20 metros de largura (quase uma quadra esportiva). O processo durou apenas seis segundos, segundo a Nasa divulgou na época.
Após o contato inicial, foi possível visualizar a sonda esmagando algumas das rochas porosas. Na sequência, uma "poeira" foi gerada após o disparo de uma garrafa de nitrogênio pressurizado contra o asteroide.
Nesse processo, os pesquisadores observaram a existência de um novo buraco de 8 m de largura na superfície, com escombros deslocados e pedregulhos espalhados pelo local.
"Esperávamos que a superfície fosse bastante rígida, como se você tocasse em uma pilha de cascalho: um pouco de poeira voando e algumas partículas pulando", afirmou Dante Lauretta, principal investigador da OSIRIS-REx e cientista planetário da Universidade do Arizona, ao Space. "Ficamos surpresos. Vimos uma parede gigante de detritos voando para longe do lado da amostra."
Lauretta acrescentou que o plano era colher um maior volume da amostra do Bennu (eles conseguiram 250 gramas), mas a sonda afundou 70 cm, o que mostrou que a superfície não tinha "resistência alguma". Ela era macia "e escorria como um fluido".
Cálculos sobre a densidade do asteroide foram então realizados. Segundo o pesquisador, em torno de 500 a 700 kg por metro cúbico. Para comparação, uma rocha terrestre tem uma densidade cerca de seis vezes maior, algo em torno de 3.000 kg por metro cúbico, compara o Space.
De acordo com Lauretta, a parte subterrânea do asteroide parecia mais vermelho em comparação com a superfície azulada dele. Isso indica que os raios cósmicos e o clima espacial corroem as rochas expostas.
O segundo estudo
A segunda pesquisa analisou forças exercidas na OSIRIS-REx durante o impacto ao tocar a superfície do asteroide. Os resultados confirmaram o registro do estudo anterior.
"As rochas [da superfície] são muito porosas e há muito espaço vazio entre elas", disse Kevin Walsh, geólogo do Instituto de Pesquisas Geológicas do Colorado.
"[O afundamento da sonda] forneceu a primeira experiência de realmente pressionar algo na superfície. Se alguma vez tentarmos desviar algo assim, precisaríamos saber como é a superfície para que ela não absorva apenas o impacto", acrescentou.
O asteroide do apocalipse
A chance de colisão do asteroide Bennu com a Terra é de uma em 2.700 durante os anos de 2175 e 2199, segundo a Nasa. Mesmo assim, a rocha espacial é considerada a mais perigosa já conhecida.
Cientistas se debruçam já há algum tempo para entender os mistérios dela. Uma possível colisão resultaria em perturbações na Terra toda.
Bennu foi escolhido para o estudo por ter semelhanças com outros asteroides e cometas potencialmente perigosos, chamados "Near-Earth Objects" (NEOs), ou objetos próximos à Terra.
Com o estudo da amostra do asteroide, é possível descobrir mais sobre ele, além de ter mais dados sobre a formação dos planetas e do surgimento da vida.
Curiosidades sobre Bennu
- Ele é como se fosse uma "pilha de entulho": rochas agrupadas e mantidas juntas pela força da gravidade.
- Sua rotação dura duas horas, o que é considerado baixo. Assim, as rochas ao seu redor entram em contato com temperaturas altas num curto intervalo de tempo. Tensões e fraturas nas rochas, que são arremessadas, podem ocorrer.
- Em 2021, cientistas observaram que ele estava formando uma chuva de meteoros. Até então, acreditava-se que esse tipo de fenômeno envolvia somente detritos deixados por cometas quando eles chegavam perto do Sol, e não por grãos da sua superfície.
*Com texto de Marcella Duarte.
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