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Misterioso objeto espacial está enviando sinal de 'batidas de coração'

Sinal pode ser emitido por um magnetar ou pulsar de rádio, diz estudo - Maciej Rebisz
Sinal pode ser emitido por um magnetar ou pulsar de rádio, diz estudo Imagem: Maciej Rebisz

Marcella Duarte

Colaboração para Tilt, em São Paulo

15/07/2022 16h37

Astrônomos descobriram um sinal de rádio persistente vindo de uma galáxia muito distante da Terra, a cerca de um bilhão de anos-luz. Nomeado FRB 20191221A, o padrão repetitivo desse sinal lembra as batidas de um coração, segundo os cientistas.

O fenômeno é do tipo FRB (rajadas rápidas de rádio): flashes de ondas de rádio breves e muito intensos, que se propagam pelo Universo. Uma única destas explosões pode liberar mais energia do que o nosso Sol emite em 80 anos. As origens astrofísicas exatas sobre o fenômeno ainda são um mistério.

Inesperadas, essas rajadas, normalmente, duram milissegundos e desaparecem. O sinal detectado recentemente, porém, tem cerca de três segundos de duração - em torno de mil vezes mais longo e um milhão de vezes mais brilhante que o comum. É a maior FRB já descoberta, e a primeira com sinal tão periódico.

"Não apenas durou muito, com cerca de três segundos, mas tinha picos periódicos estranhamente precisos emitidos a cada fração de segundo, como batimentos cardíacos", disse Daniele Michilli, pesquisadora do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts , nos EUA) e coautora de um estudo sobre o tema, publicado esta semana na revista Nature.

A localização exata da galáxia em que o sinal se origina e o objeto em questão são desconhecidos. Estudá-lo pode fornecer pistas sobre suas origens e uma visão mais completa dos confins distantes do cosmos.

Como foi o estudo

Em 21 de dezembro de 2019, astrônomos que monitoravam dados do radiotelescópio canadense Chime (Canadian Hydrogen Intensity Mapping Experiment) detectaram um sinal peculiar, que chamou a atenção. "Eu mesma inspecionei o sinal e notei que era formado por múltiplos pulsos. Parecia um pouco com um eletrocardiograma", disse Michilli.

chime - Divulgação - Divulgação
Radiotelescópio CHIME, no Canadá
Imagem: Divulgação

Após uma análise mais aprofundada, a equipe descobriu um padrão periódico claro nos pulsos, semelhante a um batimento cardíaco, que se repetia a cada 0,2 segundos. "Isso nos surpreendeu, porque não existem muitas fontes no Universo que possam produzir este tipo de sinal."

Segundo a pesquisadora, a FRB 20191221A poderia estar relacionada a dois tipos diferentes de estrelas de nêutrons (remanescentes da morte de um enorme Sol) de nossa galáxia: um magnetar ou um pulsar de rádio.

Um magnetar é denso e com um campo magnético incrivelmente poderoso; um pulsar libera feixes estreitos de ondas conforme gira. Eles emitem sinais previsíveis e confiáveis, como a luz intermitente de um farol costeiro, passando pela Terra de tempos em tempos

Por que é importante?

A maioria das rajadas rápidas de rádio acontece apenas uma vez; apenas 10% delas apresentam alguma repetição ou padrão. Por isso, astrônomos usam esses sinais consistentes e repetitivos para investigar teorias.

Por exemplo, a frequência e a mudança da emissão, de acordo com o movimento do objeto que a origina, pode servir como uma espécie de relógio para medir a taxa de expansão do Universo.

Sinais que se repetem com constância permitem aos cientistas apontar telescópios para aquele trecho específico do céu e estudar a explosão com mais detalhes, para descobrir exatamente de onde vêm e o que os causa.

Embora o novo sinal pareça ser de um único evento, com vários picos (como um coração batendo), a equipe ainda não viu a explosão se repetir. "Esperamos continuar monitorando para ver rajadas adicionais desta FRB e descobrir outras parecidas no futuro", disse Michilli.

Para isso, o Chime está sendo expandido, em uma colaboração com telescópios adicionais em toda a América do Norte. Juntos, observarão o mesmo pedaço de céu, para triangular as localizações das rajadas e conectá-las a galáxias específicas.

"Queremos saber exatamente de onde eles vêm e estudar seu ambiente local", disse a astrônoma. "E, no futuro, esperamos olhar para alguns com o novo Telescópio Espacial James Webb, para ver exatamente o que são e o que existe ao seu redor."

*Com informações dos sites Insider e MIT