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O 'velório do Insta': por que fãs e influencers estão desistindo da rede

Instagram: usuários reclamam de baixa distribuição, feed confuso e "forçação" de vídeos tipo TikTok - Arte/UOL
Instagram: usuários reclamam de baixa distribuição, feed confuso e "forçação" de vídeos tipo TikTok Imagem: Arte/UOL

Rosália Vasconcelos

Colaboração para Tilt, do Recife

15/07/2022 04h00

Influenciadores dependem de boas relações com as redes sociais que ajudam a distribuir seu conteúdo. Então é alarmante quando eles deixam o receio de lado e falam abertamente sobre problemas em alguma plataforma. E, recentemente, a bola da vez é o Instagram.

Nas últimas semanas, o divulgador científico Pirula, a educadora financeira Nath Finanças, a gamer Samira Close e o crítico de cinema Pablo Villaça foram alguns que desabafaram no Twitter.

O descontentamento não é exclusivo dos grandes criadores de conteúdo. Na última semana, Tilt ouviu várias pessoas que possuem conta profissional ou pessoal no Instagram. Todos, unanimemente, declararam estar insatisfeitos com as mudanças na plataforma, especialmente pela queda no engajamento, reorganização sem critério do feed e constantes problemas técnicos.

"Antes, em um dia com baixo engajamento, meus stories tinham 200 views. Agora, chega a 20, o que é ridículo, porque não entrega nem mesmo às pessoas mais próximas", conta a empresária Deborah de Melo, 33, que gerencia a rede de sua loja de roupas de ginástica, a @t2b.fitness.

Segundo ela, suas postagens continuam a seguir o mesmo modelo e ela não consegue notar "um padrão" entre o que seria um dia bom e um dia ruim para o engajamento.

"Muitos seguidores simplesmente dizem que não recebem meus posts. Conteúdo que antes tinha uma entrega ótima, ultimamente 'flopa'. Isso é muito desanimador e eu tenho reduzido a frequência das postagens, porque nem sempre dá pra fazer Reels [vídeo]", lamenta a empresária.

Crise de ansiedade

A professora de Gestão de Redes Sociais e sócia na escola de comunicação Berlim Digital, Isabela Andrade, conta que as mudanças na plataforma e a queda de performance das contas têm feito muitas pessoas desistirem do Instagram, abandonarem o perfil e até mesmo desenvolver crises de ansiedade e estresse.

Foi o caso da publicitária Camilla Guerra, 26 anos. Ela chegou a publicar um post no seu feed anunciando um afastamento temporário, porque a corrida por engajamento estava afetando sua saúde mental. "Penso que não só estou refém do algoritmo mas também tenho conteúdo ruim. Ou então que não sou boa".

Camilla disse que não gosta da ideia de precisar encaixar seu conteúdo em trends ou virais para obter mais engajamento. Para ela, seus seguidores fazem parte de sua comunidade por se identificarem com seu conteúdo e ela não deveria precisar patrociná-lo ou "fazer dancinha" para conseguir chegar até eles.

"Quando me senti engolida, com crise de ansiedade e esperando muito por números, eu preferi me distanciar", confessou Camilla a Tilt. Disse que hoje prefere o TikTok, onde consegue se divertir e curtir de uma maneira mais leve. "Não preciso me preocupar com likes, nem em crescer muito".

TikTok, o carrasco do Insta

Ironicamente, a migração de Camilla para o TikTok é tudo que o Instagram está tentando evitar nos últimos meses. A rede social concorrente, criada na China em 2014, cresce em velocidade desenfreada — em dezembro, já contava com mais de um bilhão de usuários ativos, encostando nos 1,2 bilhão do Insta.

Segundo relatório do site Business of Apps, em 2021 o faturamento do TikTok subiu 142% em relação ao ano anterior, alcançando US$ 4,6 bilhões.

A reação da concorrência (incluindo YouTube e até o Twitter) foi copiar o formato de vídeos curtos verticais. E é a insistência do Instagram nos chamados Reels que pode ter sido a gota d'água para muitos fãs antigos.

A percepção é que, como forma de estimular essa produção, a plataforma só distribui os vídeos curtos. Quem não quer "dançar conforme a música" (literalmente) vê o alcance das postagens diminuído radicalmente.

A opinião foi reverberada por diversos seguidores.

Indo para a concorrência

Em um comentário no post de Pirulla, a seguidora Nívea Alves (@NiveaAlves16) confessou:

Tem gente que não tá nem cogitando: já tomou a decisão, motivado pelas constantes mudanças, pela cobrança em fazer Reels, pela instabilidade ou pela desorganização do feed (que também está entregando mais Reels, inclusive "sugestões" de contas que o usuário não segue).

A empresária Deborah de Melo, da T2B Fitness, disse que fez testes com o TikTok e gostou dos resultados. "Recebi mais de 25 mil visualizações mesmo com uma conta de apenas seis seguidores. Isso nunca aconteceria no Instagram, mesmo se eu usar o Reels. Dependendo do nicho e do tipo de negócio, vale mais a pena hoje em dia investir em tráfego orgânico pelo TikTok".

A jornalista Anamaria Nascimento, 33, também está optando pelo caminho de outras redes sociais. "No início, tentamos mudar, nos adaptando às novidades do Instagram, mas, depois, analisando mais estrategicamente, deixou de fazer sentido ficar buscando algo para 'agradar' a rede e não o nosso público. Acabou que o Instagram deixou de ser nossa prioridade", comenta.

Atualmente, ela administra dois perfis profissionais: de um escritório de advocacia e outro de gastronomia. "No caso do escritório, as constantes atualizações no Instagram geraram uma mudança na nossa posição estratégica nas redes e passamos a apostar mais no LinkedIn. No do guia de cafeterias, elas geraram um desestímulo na produção de conteúdo e estou há mais de um mês sem postar nada", conta.

Embora tenha adicionado o polêmico botão "Loja" para ajudar os empreendedores na plataforma, o Instagram diminui o faturamente de alguns deles ao reduzir o alcance das postagens em foto.

"As interações nos perfis convertiam em vendas e isso não tem mais ocorrido. Notamos que, principalmente em outros estados, nossas postagens não são mais entregues", lamenta Simone Medeiros, 37, das contas @mariapaninho e a @mariapaninhobaby.

Ela compara: "Antes um story era visualizado por 1,4 mil pessoas, agora esse número fica em 400 visualizações no máximo. Já no feed, fotos que tinham 800 curtidas, agora têm 30".

"São poucas as interações mesmo produzindo mais vídeos e tentando acompanhar o que os especialistas. Acho que o algoritmo entrega muito do mesmo. No meu feed pessoal, vejo as mesmas fotos das mesmas pessoas e muito conteúdo patrocinado", afirma Simone.

Com o desestímulo, ela está investindo em plataformas alternativas, como o Pinterest e também a BeReal - plataforma de fotos à semelhança do Instagram, mas que proíbe o uso de filtros.

A mentora Amanda Bertato, que administra uma página de 50 mil seguidores, conta que no início das alterações do Instagram chegou a perder três mil seguidores. Sua estratégia alternativa foi investir no YouTube.

"O 'problema' vem da plataforma e suas atualizações. O desespero pode tomar conta e a pessoa pode achar que é com a página dela. É aí que encontro a causa do fracasso nessa plataforma, porque ou você entende e faz as pazes com o algoritmo, ou você se desespera", afirma Amanda.

Outras opções citadas pelos entrevistados de Tilt foram o Snapchat, precursor dos vídeos no formato Storeis, e a VSCO, que inicialmente se propunha a editar imagens e hoje se tornou uma rede social.

Este último, em particular, é procurado por profissionais cujo trabalho é principalmente visual, mas não se converte facilmente em vídeo, como fotógrafos e ilustradores — dois segmentos que ajudaram a popularizar o Instagram quando surgiu lá atrás, em 2010.

O que diz o Instagram

A empresa afirma estar investindo em vídeos porque esse formato tem se tornado o preferido de quem consome conteúdo nas redes sociais. "Isso não significa que outros formatos, como fotos, deixem de ser relevantes ou integrem o aplicativo, mas mostra que o Instagram hoje é uma plataforma diferente de quando foi lançada, e evoluiu com o tempo em suas mais diversas possibilidades e formatos".

Segundo o Instagram, é importante que as pessoas testem as diferentes funções e ferramentas da plataforma para entender a que melhor atende ao seu público.

A empresa explica que o Reels traz a proposta de alcançar novos públicos, enquanto os Stories têm o objetivo de aproximar o criador de sua comunidade. Já o feed seria uma espécie de vitrine do perfil.

"Existem diversas formas de entender o que funciona melhor para seu público em termos de engajamento", declarou a plataforma em nota.

*Contribuíram para a matéria: Henrique Casagranda, diretor de mídia da Cadastra, empresa de soluções de marketing e tecnologia; e Samuel Pereira, fundador do Segredos da Audiência Ao Vivo.