'#RenameJWST': movimento quer rebatizar o telescópio James Webb; entenda
O telescópio James Webb, considerado um sucessor do Hubble nas missões de observação espacial, revelou nesta semana suas primeiras imagens do espaço profundo. Após 20 anos de preparação colaborativa entre a Nasa, a Agência Espacial Europeia e a Agência Aeroespacial Canadense, este nome rapidamente se tornou sinônimo de êxtase científico, já que está equipado para visualizar a imensidão espacial com uma nitidez e qualidade até então nunca vistas.
No entanto, diversos cientistas, astrônomos e pesquisadores permanecem ultrajados com o batismo do telescópio, e desde 2021, pressionam as agências espaciais para mudar o nome.
O observador espacial carrega o nome do segundo diretor de administração da Nasa, o militar e congressista norte-americano James Edwin Webb. Em 14 de novembro de 1961, foi convidado por John F. Kennedy para substituir o então diretor interino, Hugh L. Dryden. Como resultado, seu nome esteve ligado às diversas missões Apollo nos anos 60, durante a corrida espacial.
Porém, Webb também está ligado polêmicas do governo dos Estados Unidos. Durante seu período como secretário do Estado, nos anos 50, foi responsável por aplicar políticas discriminatórias contra a comunidade LGBTQ+, num movimento conhecido como "Ameaças Lavanda" ("Lavender Scare") durante a guerra Fria.
Na prática, as decisões administrativas tomadas eram motivadas pelo pânico moral de que gays e lésbicas representavam uma ameaça à sociedade, num movimento similar ao ocorrido com os acusados de comunismo pelo senador republicano Joseph McCarthy.
Como resultado destas políticas, diversos integrantes da comunidade LGBTQ+ foram perseguidos e expulsos de cargos públicos. Dentro da Nasa, James Webb não fez muito diferente: em sua administração, demitiu o empregado Clifford Norton, em 1963, por "condutas imorais, indecentes e vergonhosas" após suspeitar de homossexualidade.
Posteriormente, Norton processou e venceu a instituição na justiça, por exoneração indevida.
Nasa não via motivo para mudança
Mesmo comemorando os sucessos da operação espacial do telescópio, parte da comunidade científica ainda se ressente das decisões de Webb.
"Muitos astrônomos estão muito descontentes que o observatório seja batizado por conta dele. É difícil querer usar um instrumento usando o nome de alguém que quer negar sua própria existência", escreveu o astrônomo estadunidense Phil Plait em sua newsletter, Bad Astronomy.
Antes de seu lançamento, em 25 de dezembro de 2021, houve uma petição para que as agências espaciais modificassem o nome do telescópio. Até outubro do ano passado, a petição contou com 1.700 assinaturas, mas não obteve resultado.
Em setembro do ano passado, Bill Nelson, atual diretor de administração da Nasa, explicou que a agência não pretendia rebatizar o observatório espacial.
"Não encontramos evidências neste momento que reforcem a mudança de nome do telescópio espacial James Webb", afirmou em declaração.
Em março deste ano, o periódico Nature publicou 400 páginas de documentos da Nasa, obtidos pela lei de acesso a informação dos EUA, chamada FOIA. Neles, havia papéis que deixavam explícitas as discriminações: "Nasa decidiu que a remoção de empregados homossexuais seria a sua política. Eles tiveram a possibilidade de escolha durante a administração de Webb para decidir ou modificar esta política."
Atualmente, após a divulgação das primeiras imagens, diversos cientistas e entusiastas de astronomia movimentaram a hashtag "#RenameJWST" ("rebatize JWST", em tradução livre) para obter uma resposta da Nasa.
A agência espacial não emitiu nenhum novo posicionamento sobre a questão.
(*) Com informações de The Guardian e Scientific American
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