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Cozinha smart: vale a pena investir em eletrodomésticos por comando de voz?

Geladeiras smart gerenciam até mesmo a data de validade dos alimentos - Divulgação/Samsung
Geladeiras smart gerenciam até mesmo a data de validade dos alimentos Imagem: Divulgação/Samsung

Rosália Vasconcelos

Colaboração para Tilt, do Recife

28/07/2022 04h00

Os produtos inteligentes, com assistente de voz conectados à internet, já migraram dos escritórios e salas para a cozinha do brasileiro. De 2020 para cá, marcas já lançaram modelos smart de geladeiras, micro-ondas, air fryers, cafeteiras, sensores de fumaça e, mais recentemente, um modelo de cooktop. Em breve, devem chegar fogões e lava-louças.

À medida que se popularizam no mercado, os produtos devem ganhar futuras versões ainda mais completas. Mas as atuais já conseguem fazer listas de compras, reduzir o consumo energético e de água e automatizar uma parte da rotina na cozinha.

Será que já vale a pena investir um pouco mais nesses eletrodomésticos?

O que já temos por aqui

Primeiro, vale entender as opções do mercado atual:

  • Geladeira

São as que têm mais funcionalidades. Permitem visualizar o que têm dentro sem precisar abrir a porta, avisam quando um produto está faltando ou acabando, fazem lista de compras, ativam cronômetros e lembretes, gerenciam a validade dos alimentos e sugerem receitas. Algumas até contam com serviço de entretenimento. A partir de R$ 18.049.

  • Micro-ondas
Micro-ondas smart da LG - Divulgação/LG - Divulgação/LG
Micro-ondas smart da LG
Imagem: Divulgação/LG

Os fornos smart controlam com mais eficiência a potência e a temperatura, de modo que os alimentos sejam aquecidos ou descongelados de maneira mais uniforme. Em um futuro próximo, podemos receber modelos que já existem no exterior, com grill e fritadeira, aptos para preparos mais complexos. A partir de R$ 2.249.

  • Cooktop

Cooktop smart Samsung - Divulgação/Samsung - Divulgação/Samsung
Cooktop smart da Samsung
Imagem: Divulgação/Samsung

Pode se conectar ao smartphone e também a outros produtos smart da cozinha, como a geladeira. Oferece opções de receitas e possibilita o controle do cozimento à distância. A partir de R$ 1.994.

  • Fritadeiras elétricas
Air fryer smart da Xiaomi - Divulgação/Xiaomi - Divulgação/Xiaomi
Air fryer smart da Xiaomi
Imagem: Divulgação/Xiaomi

Avisam sobre o andamento do processo de cozimento para que o usuário saiba o momento certo de virar os alimentos. Alguns modelos permitem o preparo à distância: a pessoa escolhe uma receita e envia remotamente para o equipamento. A partir de R$ 1.700.

  • Cafeteiras

Também controladas à distância, preparam a bebida mais rapidamente. Possuem boxes que evitam o acúmulo de sujeira e fazem autolavagem das partes internas. A partir de R$ 1.599.

  • Sensores de fumaça

Podem ser acionados remotamente em caso de incidentes, emitindo alertas em tempo real e evitando tragédias. A partir de R$ 100.

O custo-benefício também é smart?

Os especialistas consultados por Tilt são unânimes em dizer que produtos inteligentes são tecnologias que conseguimos viver sem — pelo menos por enquanto. Porém, após conhecê-los, dificilmente vamos querer abrir mão.

"Toda tecnologia que se mostra útil e resolve problemas práticos do usuário se torna necessária", acredita Tsang Ing Reno, professor do Centro de Informática da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco).

"Se vale a pena ou não, vai depender do perfil do cliente. Mas é fato que o assistente de voz humaniza o processo. O cliente está cada vez mais ansioso, desejando agilidade, fácil acesso, assertividade e humanização", afirma Fernando Coelho, professor de canais e marketing digital da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) Rio.

Embora o uso de assistentes de voz seja mais popular entre os mais jovens (especialmente os nascidos entre 1990 e 2010), ele pode se tornar especialmente conveniente em outro segmento: idosos ou pessoas com alguma dificuldade de locomoção.

"O uso da voz libera os braços da necessidade do toque e a visão da tela, dando mais mobilidade às pessoas. Ou seja, tudo o que você faz com o toque e a visão, você pode substituir pela voz, introduzindo uma nova forma de acessar informações. É possível dispensar os óculos e mesmo a locomoção", diz Ivandro Sanches, professor do departamento de engenharia elétrica do Centro Universitário FEI, de São Bernardo do Campo (SP).

Com uma interface rápida e conveniente, para o público acima dos 60 anos, os assistentes de voz auxiliam também a memória e o processo de integração social, lembrando como fazer as receitas, listando itens faltantes da geladeira e até auxiliando nas compras sem que seja necessário sair de casa. Também são mais seguros, evitando superaquecimento caso o idoso esqueça alguma comida no fogo, por exemplo.

"É a mesma ideia dos carros autônomos, que ajudam a aumentar a segurança do trânsito. À medida que a gente introduz os eletrodomésticos inteligentes, aumenta a segurança de uma casa", compara Sanches.

O uso de eletrônicos com interface de voz é apontada como uma das tendências irreversíveis no mundo. Então, mesmo quem ache tudo absurdo hoje, poderá se surpreender conversando com a geladeira em cinco anos. "Cada vez mais essas máquinas estarão realizando atividades tal qual o ser humano", completa Sanches.

Falta grana, falta internet

Apesar de promissora para o mercado, a popularização dos eletrodomésticos com assistente de voz ainda enfrenta desafios, como altos preços, internet limitada e segurança de dados.

No primeiro caso, a previsão dos especialistas ouvidos por Tilt é de que os valores ficarão mais acessíveis nos próximos cinco anos. Isso porque esses produtos tecnológicos serão úteis para facilitar a jornada omnichannel — uma tendência importante do marketing, porque agrega todos canais de comunicação do consumidor com uma marca, unindo melhor a experiência online e offline.

O segundo desafio a ser vencido é a oferta de internet estável e com qualidade para mais pessoas. "Mesmo depois de 33 anos de internet no Brasil, temos 44 milhões de pessoas sem acesso à rede. Logo, limita o uso de equipamentos conectados a uma determinada parcela da sociedade", afirma Coelho. "As tecnologias vestíveis são um exemplo disso, mesmo sendo produtos mais em conta do que os eletrodomésticos."

Sendo assim, o país precisará fortalecer a qualidade das redes de internet já existentes e levar conectividade para locais em que ela ainda é falha.

Por fim, a segurança dos dados é mais um fator de atenção para esse mercado de eletrônicos deve ficar atento. A tendência é que, quanto mais as marcas garantirem a privacidade, mais consumidores serão atraídos.

"Se a sua geladeira está conectada à rede, a informação sobre o que você está consumindo está em algum lugar. Imagine que um hacker consiga entrar no seu sistema, ligar seus aparelhos, fazer várias atividades ou manipular de uma forma que quebre os equipamentos?", questiona Ing Reno.