Saudades, Plutão: 16 anos atrás, o planeta foi rebaixado a 'anão'
Um anúncio de 24 de agosto de 2006 causa nostalgia e revolta até hoje: o rebaixamento de Plutão, que deixou de ser considerado o nono e último planeta do Sistema Solar. Naquele dia, a União Astronômica Internacional (IAU) decidiu que ele não passava de um "planeta-anão".
"Plutão não é um planeta. Há, oficialmente, oito planetas no Sistema Solar", anunciou o pesquisador Mike Brown há 16 anos.
Foram meses de debate que culminaram na polêmica decisão, que fez com que livros fossem reescritos e a gente precisasse "desaprender" o que a escola ensinou. Participaram do processo de votação 424 astrônomos internacionais — a maior parte deles acredita que a recategorização foi uma vitória da ciência.
Outros, porém, assim como boa parte da população, acham que Plutão é especial e deveria ter mantido seu título. "Estou com vergonha da astronomia. Menos de 5% dos astrônomos do mundo votaram. Essa definição 'fede', por razões técnicas", disse Alan Stern, líder da missão New Horizons, da Nasa.
O que define um planeta?
A IAU não fez um ataque pessoal ao simpático Plutão; ela redefiniu as regras para classificar os objetos do Sistema Solar, para que não houvesse uma avalanche de novos planetas com o avanço da exploração espcial.
São três categorias:
- planetas (os oito grandes mundos, de Mercúrio a Netuno);
- planetas-anões (objeto esféricos, exceto satélites, que não tenha "limpado" a vizinhança ao seu redor);
- pequenos corpos (todos os outros em torno do Sol).
Assim, pela definição atualizada, um planeta precisa:
- orbitar o Sol;
- não ser um satélite de outro planeta;
- ser grande o suficiente para a gravidade o tornar esférico;
- ser dominante em sua órbita e não compartilhá-la com outro objeto significativo.
Plutão foi rebaixado não apenas por seu tamanho pequeno, mas por não ser capaz de "limpar" sua órbita: ao redor dele, há um mar de objetos. Isso acontece porque sua gravidade não é forte o suficiente para atraí-los, como ocorre com os planetas tradicionais. E, embora cumpra os três primeiros requisitos, não é o objeto principal de sua órbita, que se cruza com a de Netuno.
O ex-planeta tem cerca de 2.370 km de diâmetro — ele é menor que a Lua (3.470 km) e até "caberia" em cima do Brasil. Se desse para fazer uma viagem de carro ao redor do equador de Plutão, ela terminaria em cerca de cinco dias. Mas é o maior dos "anões" conhecidos, o que reforça o limbo do rebaixamento.
Como Plutão foi descoberto?
Desde 1906, buscava-se um hipotético e misterioso "Planeta X", que influenciava as órbitas de Urano e Netuno. Quando Plutão foi finalmente encontrado Clyde Tombaugh, em 18 de fevereiro de 1930, foi prontamente classificado como planeta — o menor e mais distante do Sol — e batizado em homenagem ao deus romano do submundo.
Porém, nas décadas subsequentes, outros objetos semelhantes foram descobertos naquela região, conhecida como Cinturão de Kuiper — uma "rosquinha" do Sistema Solar, em volta dos planetas, onde transitam milhares de pequenos corpos gelados.
Entre eles, estão Eris, Haumea e Makemake, grandes o suficiente para também serem considerados planetas, de acordo com a definição antiga. Foram essas descobertas que estimularam a redefinição do termo pela IAU.
Assim, temos agora cinco planetas-anões no Sistema Solar: além de Plutão e dos três transnetunianos, há Ceres, que fica entre as órbitas de Marte e Júpiter, no Cinturão de Asteroides.
Pode voltar a ser planeta?
A discussão ganhou novos argumentos com a missão New Horizons, que foi lançada também em 2006 e chegou à órbita de Plutão em 2015. A sonda revelou imagens impressionantes do planeta-anão e suas luas: lá tem céu azul, vulcões, montanhas e geleiras; ele também é rochoso, e bem mais parecido com Terra do que os gigantes gasosos (Júpiter, Saturno, Urano e Netuno).
"Quando vemos estas estruturas familiares, naturalmente usamos 'planeta' para descrevê-lo. Há um poder psicológico nesta palavra que ajuda as pessoas a entenderem que aquele é um lugar importante do espaço", declarou Stern.
Com estas descobertas, o líder da missão reuniu um grupo que fez uma nova proposta de definição de planeta: "um corpo de massa subestelar que nunca foi submetido à fusão nuclear, e que possui autogravitação suficiente para assumir uma forma esferoidal, independentemente de seus parâmetros orbitais".
Porém, isso implicaria que aproximadamente uma centena de objetos conhecidos seriam elevados à categoria, não apenas planetas-anões, mas também satélites naturais. Todas as luas redondas do Sistema Solar, incluindo a nossa, se tornariam planetas. Isso causaria uma confusão na astronomia e nas escolas.
O debate continua entre a comunidade astronômica internacional mas, para a tristeza de muitos nostálgicos, é pouco provável que Plutão volte a ser planeta. Só podemos aceitar e nos apegar aos belos 76 anos de reinado, desde sua descoberta.
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