19 anos da tragédia em Alcântara: foguete brasileiro explodiu e matou 21
O dia 22 de agosto de 2003 entrou para a história do Programa Espacial Brasileiro — mas como seu mais triste episódio. Dezenove anos atrás, o foguete brasileiro VLS-1 explodiu na base de Alcântara, no Maranhão, matando 21 pessoas e atrasando nosso sonho aeroespacial.
O acidente ocorreu três dias antes do lançamento, que colocaria em órbita dois pequenos satélites para aplicações científicas: o Satec (Satélite Tecnológico), desenvolvido pelo Inpe, e o Unosat, da Universidade Norte do Paraná (Unopar).
Foguete brasileiro
O VLS (Veículo Lançador de Satélites) foi o resultado de 18 anos de pesquisa e desenvolvimento, em um momento que a engenharia espacial brasileira, apesar de modesta em comparação com a norte-americana ou russa, estava em plena evolução.
Era um foguete de 19,4 metros de altura e quase 50 toneladas, composto por quatro estágios. Ele era capaz de levar uma carga de até 380 kg para uma órbita a 750 km de altitude.
Nos dois lançamentos anteriores (1997 e 1999), os VLS-1 apresentaram falhas e foram destruídos. Mas havia grande expectativa para a terceira tentativa, em 2003.
O acidente
Às 13h26 daquele fatídico 22 de agosto, enquanto equipes trabalhavam na preparação do VLS-1 V03 para o lançamento que ocorreria no dia 25, um dos propulsores do primeiro estágio foi acionado indevidamente — ao que tudo indica, houve uma indução eletrostática no detonador.
Preso e dentro de um galpão, ele explodiu ao tentar subir. Em poucos segundos, tudo foi destruído: foguete, satélites, base. Um grande incêndio sucedeu a explosão. E isso custou a vida de 21 civis, nossos grandes cientistas, engenheiros, mecânicos, técnicos e até cinegrafistas.
Sabotagem?
Muito se especulou sobre as causas do acidente. Algumas teorias da conspiração sugeriam sabotagem de alguma das potências espaciais da época, como a Rússia. Mas essa hipótese foi totalmente descartada pela comissão criada para investigar os fatos.
A conclusão do relatório, sem apontar culpados, é que diversos fatores comprometeram a segurança da operação e culminaram na tragédia: falta de investimentos no programa, redução de pessoal, sobrecarga de trabalho, falta de procedimentos.
Futuro
Depois do acidente, uma nova e mais segura base de lançamentos foi construída, e o projeto do VLS-1 totalmente revisado. Mas acabou extinto em 2016. Foi a Índia que lançou, em 2020, o primeiro satélite 100% brasileiro de observação da Terra, o Amazônia-1.
Até hoje, o Brasil não conseguiu levar, sozinho, um satélite para o espaço. Nosso programa aeroespacial empacou, encolheu e agora vive o atraso tecnológico. Com baixo orçamento e dependente de tecnologia estrangeira, seu foco são apenas nanossatélites, do tamanho de uma caixa de sapatos. O desenvolvimento do motor de nosso próximo foguete, o VS-50, segue a passos lentos.
Mas o governo finalmente dará uso comercial ao rebatizado Centro Espacial de Alcântara (CEA), que segue sem operações desde o acidente. Até o final de 2022, a sul-coreana Innospace deve realizar o primeiro lançamento privado no local. Assim, espera-se captar recursos para o programa espacial brasileiro.
O CEA é a base de lançamentos mais próxima da linha do Equador, o que representa uma vantagem significativa no lançamento de satélites geossíncronos — o Centro Espacial da Guiana também se beneficia da posição privilegiada.
16 Comentários
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Falta ao Programa Espacial Brasileiro o item mais importante para qualquer projeto desse tipo: destinação maciça de recursos !!! Nenhum programa espacial, seja dos EUA, URSS, China ou Índia conseguiu "decolar" sem essa condição "sine qua non"..
Esses projetos demandam investimentos que possivelmente não foram disponibilizados