Alexa vai à Lua: por que assistente virtual está a bordo da missão Artemis?
A missão Artemis 1, que será lançada para a Lua na manhã da próxima segunda-feira (29), não terá pessoas a bordo, mas vai carregar diversos instrumentos científicos para serem testados no espaço. Entre eles, está a Callisto: uma assistente virtual, ativada por Alexa, que pode transformar a maneira como astronautas interagem com a nave.
O sistema, desenvolvido pela Lockheed Martin, em parceria com a Cisco e a Amazon, fica dentro da cápsula Orion — onde estará a tripulação nas próximas viagens. Ele aproveita os mesmos recursos ativados por voz que utilizamos, por exemplo, em dispositivos de casa inteligente.
Mas, em vez de acender e apagar as luzes, a Callisto é capaz de fornecer dados da nave em tempo real, feedbacks específicos da missão e controlar alguns instrumentos conectados.
A tecnologia inovadora será útil tanto para os astronautas no espaço quanto para os controladores da missão em Terra. Como qualquer assistente virtual, ela responde a comandos diretos em linguagem natural, por exemplo: "Qual a atual velocidade da Orion?", "Como está o suprimento de água?".
Mas, diferente da Alexa em nosso cotidiano, que depende de conexão com a Internet para funcionar, a Callisto usará a rede de antenas Deep Space Network, da Nasa, e uma tecnologia conhecida como "Controle de Voz Local", que permite que ela processe comandos de voz localmente, em vez de enviar informações para a nuvem.
'Star Trek' da vida real
A ideia surgiu quase como uma brincadeira, inspirada em ficção científica. "Vou ser honesto: pegamos o telefone e ligamos para a Amazon e foi um daqueles 'Ei, o que você acha de levar a Alexa para o outro lado da lua?', e eu esperava que ficassem intrigados", conta Rob Chambers, diretor de estratégia espacial civil comercial da Lockheed Martin.
"Mas, em vez disso, eles explicaram que um dos bots 'progenitores' da Alexa era o computador de voz da Enterprise", completou, se referindo à nave dos filmes da franquia Star Trek (Jornada nas Estrelas). A nova assistente foi batizada em homenagem a uma mulher da mitologia grega, seguidora de Artemis — a deusa da Lua e da caça.
O dispositivo Callisto fica protegido em um pequeno gabinete, do tamanho de uma maleta (45 cm x 30 cm x 13 cm). Engenheiros da Lockheed Martin e da Amazon tiveram de garantir que ele suportasse as vibrações e ondas de choque gerados durante o lançamento de foguete. Além disso, seus componentes eletrônicos foram reforçados contra o ambiente de radiação do espaço.
A Nasa quer demostrar como esta tecnologia comercial pode deixar a viagem mais simples, segura e eficiente. "Posso imaginar um futuro em que os astronautas acessem informações sobre o voo e a telemetria, como orientação da nave, níveis de fornecimento de água ou status da voltagem da bateria, por meio de comandos de voz simples", disse Howard Hu, vice-gerente do programa Orion.
"A Orion já é a cápsula mais avançada já desenvolvida para levar astronautas à Lua, e a ativação por voz pode levá-la ao próximo nível, permitindo que os sistemas de computador interativos das espaçonaves de ficção científica se tornem realidade para a próxima geração de exploradores."
Artemis
Se as previsões meteorológicas atuais se mantiverem e tudo correr de acordo com o planejado, a Artemis 1 será lançada na segunda-feira (29), às 9h33 (horário de Brasília), do Centro Espacial Kennedy (KSC), na Flórida, EUA. É a primeira de uma série de missões que têm o grande objetivo de levar o ser humano de volta à Lua e, eventualmente, para Marte.
Esta primeira viagem não é tripulada, pois trata-se de um grande teste "valendo" de todo o sistema, incluindo o mais poderoso foguete da história, o SLS (Sistema de Lançamento Espacial), e a nova cápsula Orion. Mas é altamente simbólica para a agência espacial norte-americana, cinquenta anos após o final do icônico programa Apollo — em 1972, o homem pisou na Lua pela última vez.
Se bem-sucedida, a jornada será repetida em 2024, com quatro astronautas a bordo. Eles farão "apenas" um sobrevoo de dez dias, dando uma volta até o lado oculto da Lua, a cerca de 400 mil quilômetros da Terra (o mais distante no espaço profundo que qualquer ser humano já foi).
Em 2025, finalmente, o objetivo é "alunissar" (aterrissar na Lua) e desembarcar a tripulação no polo Sul, um local diferente e mais desafiador do que os visitados durante o programa Apollo. Nenhuma pessoa, nem sequer uma missão robótica, já pousou lá.
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