Brasileiro perde 11% do cérebro, sobrevive e vira estudo científico
A recuperação de um operário carioca que perdeu 11% do cérebro após ter a cabeça perfurada por um vergalhão de ferro em 2012 virou estudo científico que deve servir de base para ajudar outras pessoas acidentadas no mundo.
Eduardo Leite estava agachado em uma obra no dia 16 de agosto de 2012, usando capacete de proteção, quando foi ferido. O vergalhão de ferro de 2,5 metros que o atingiu caiu de uma altura de 15 metros, entrando pelo alto da cabeça e saindo entre os dois olhos dele com um impacto de cerca de 300 quilos.
O carioca foi hospitalizado, passou por uma cirurgia de seis horas e saiu do hospital duas semanas após sua internação. Como ele era apenas o segundo caso médico do tipo na história, médicos passaram a acompanhar a recuperação dele, considerada bem sucedida.
"Surpreendeu e muito. Durante esses 10 anos o Eduardo mantém uma regularidade constante, a relação dele familiar, a relação dele com pessoas na redondeza, continua a mesma durante esses 10 anos", afirmou o pesquisador da Fiocruz Renato Rozental em entrevista ao Fantástico.
A suspeita dos especialistas foi de que o córtex pré-frontal dele, que foi atingido pelo vergalhão e teve atividade elétrica comprometida após perda de 11% de massa encefálica, foi "compensado" por outra parte do cérebro.
"O que nós vimos nesse caso é que o outro hemisfério, que está sadio, ele pode sim modular, compensar essa atividade elétrica. Até então, nunca foi descrito um mecanismo em que nós tínhamos visto um lado do córtex modulando o outro", explicou o médico Pedro Henrique de Freitas.
Uma série de testes foi executada em Eduardo ao longo dos 10 anos de recuperação dele. Em parceria com pesquisadores dos Estados Unidos, os brasileiros chancelaram a suspeita de que um lado do cérebro "compensava" a atividade do outro.
Hoje, o operário tem apenas dificuldade em realizar tarefas que exigem simultaneamente os dois lados do cérebro. Agora, o estudo sobre a recuperação do brasileiro será publicado na revista científica Lancet, uma das mais renomadas do mundo.
A partir desse resultado, os médicos vão buscar estratégias de reproduzir a compensação cerebral em pacientes com traumas como AVC, derrames e outros traumatismos variados. A expectativa é de que em 15 anos eles consigam entregar moduladores externos capazes de fazer essa atividade.
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