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Telescópio James Webb encontra nuvens feitas de areia em um mundo alien

Astrônomos há muito especulam que alguns tipos de anãs marrons são envoltas em uma atmosfera turbulenta e instável - NASA/JPL-Caltech
Astrônomos há muito especulam que alguns tipos de anãs marrons são envoltas em uma atmosfera turbulenta e instável Imagem: NASA/JPL-Caltech

Colaboração para Tilt

08/09/2022 13h38Atualizada em 08/09/2022 13h38

Desde que começou a registrar imagens espetaculares do espaço, o Telescópio Espacial James Webb não cansa de nos surpreender. Após revelar com nitidez o universo profundo, detalhes de Júpiter e até uma foto rara de um "Anel de Einstein", o equipamento agora um encontrou nuvens de areia um raro exoplaneta — mundo muito distante, fora do Sistema Solar.

Segundo a equipe responsável, essa é a primeira vez que foi possível observar este tipo de formação em um objeto de massa planetária fora do Sistema Solar. As nuvens espessas são ricas em grãos de silicato e estão entorno de uma anã marrom, chamada de VHS 1256 b, que tem quase 20 vezes o tamanho de Júpiter.

Além da nuvem de areia, o telescópio também detectou água, metano, monóxido de carbono, dióxido de carbono, sódio e potássio na atmosfera do objeto. VHS 1256 b fica a 72 anos-luz da Terra, na constelação do Corvo, e foi descoberta em 2016. Ela costuma chamar atenção dos astrônomos por conta de seu brilho avermelhado.

Os dados obtidos pelo James Webb são tão detalhados que mostraram que a proporção de vários gases muda em toda a atmosfera da anã marrom, o que sugere se tratar de um local selvagem e turbulento.

"Em uma atmosfera calma, há uma proporção esperada de, digamos, metano e monóxido de carbono. Mas em muitas atmosferas de exoplanetas, estamos descobrindo que essa proporção é muito distorcida, sugerindo que há uma mistura vertical turbulenta nessas atmosferas, dragando o dióxido de carbono das profundezas para se misturar com o metano mais alto na atmosfera", explicou à Forbes Sasha Hinkley, astrônomo da Universidade de Exeter, no Reino Unido, e um dos coautores do estudo.

A detecção foi feita pelos instrumentos NIRSpec (Near Infrared Spectrograph, ou "espectômetro de infravermelho próximo") e MIRI (Mid-Infrared Instrument ou "instrumento de infravermelho médio") do telescópio espacial.

Por que é importante?

De acordo com os astrônomos, os resultados obtidos nestas observações podem ajudar a compreender as chamadas "estrelas fracassadas", como são conhecidas as anãs marrons.

Estes estranhos mundos, semelhantes a planetas, não são grandes o suficiente para se transformar em estrelas, mas são um pouco grandes demais para serem classificados como planetas comuns — chegam a 80 vezes o tamanho de Júpiter, o maior do Sistema Solar.

Embora as anãs marrons não possam queimar hidrogênio normal como as grandes estrelas (por exemplo, nosso Sol), elas podem produzir sua própria luz e calor queimando deutério (um isótopo menos comum de hidrogênio, que contém um nêutron extra).

A descoberta parece confirmar algumas antigas teorias sobre as "estrelas fracassadas" — por exemplo, que elas sejam circundadas por nuvens irregulares, que influenciam a variabilidade de seu brilho.

Para os pesquisadores, estes conhecimentos podem ajudar a encontrar novas anãs marrons pelo universo, além de ser uma ferramenta para interpretar observações das já conhecidas.

"Os resultados iniciais das observações científicas de lançamento antecipado do James Webb são inovadores e também podem ser obtidos para várias outras anãs marrons próximas que serão observadas em futuros ciclos de observação", disse a equipe.

A descoberta do exoplaneta foi descrita em um novo artigo, ainda em fase de revisão dos pares, publicado pela Cornell University no repositório arXiv.

Com informações de Space, Science Alert e Forbes