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Empresa dos EUA recria Rio no metaverso. Quer morar no Leblon por R$ 250?

Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

Colaboração para Tilt, em Florianópolis

15/09/2022 04h00

Um dos bairros mais conhecidos do país, o Leblon, na zona sul do Rio de Janeiro, ostenta apartamentos que custam pelo menos R$ 100 mil o metro quadrado, o que o coloca como um dos lugares mais caros para morar no Brasil.

Isso no mundo real. No virtual, comprar um imóvel no bairro é bem mais acessível do que se imagina: basta desembolsar R$ 250.

Isso já é possível desde julho, por meio do Upland, jogo que recria cidades do mundo real no metaverso. A cidade brasileira foi a primeira fora dos Estados Unidos a ser inserida na plataforma.

A lógica é semelhante ao Banco Imobiliário, com compra e venda de terrenos virtuais, mas que realmente existem no mundo real. A transação dentro da plataforma se dá pela moeda do próprio jogo, a UPX, que custa US$ 1 (R$ 5) para cada 1 mil UPXs. É assim que se pode comprar um imóvel em uma localização que sempre sonhou no Rio de Janeiro.

Como o terreno virtual é um NFT (Token Não-Fungível), o jogador pode revendê-lo por um preço maior do que o da compra. O rendimento é pago através do PayPal, que faz a conversão do dólar para o real. Ou seja: é teoricamente possível enriquecer via especulação imobiliária virtual.

Com pouco mais de dois meses no Rio de Janeiro, o Upland já comercializou 70 mil terrenos virtuais espalhados em 62 bairros da cidade. A ideia é expandir e abrir novos lotes no metaverso para abranger toda a região urbana fluminense.

De acordo com Ney Neto, diretor da Upland no Brasil, a escolha pelo Rio de Janeiro se deu pela popularidade da plataforma no país. Dos 2,9 milhões de usuários no mundo, pouco mais de 7% são de brasileiros — que agora podem comprar imóveis mais próximos do que conhecem no mundo real.

"A escolha pelo Rio foi pelo aspecto mais turístico. Agora, o Brasil se deu pela força da comunidade. O país é um dos que mais crescem em números de usuários ativos. É uma comunidade muito forte", comentou a Tilt.

Como compro um imóvel metaverso?

Para entrar no jogo, é preciso apenas um email e uma conta no PayPal ou cartão de crédito internacional.

Ao entrar na plataforma, o usuário entra com o status de "visitante" e com 6 mil UPXs no bolso, equivalente a US$ 6 (R$ 30). O câmbio virtual entre a moeda virtual e o dólar não sofre oscilação, isto é, sempre será o mesmo valor.

Para ganhar o status de "uplander", é preciso chegar a 10 mil UPXs. Para isso, o usuário pode comprar mais moedas para acelerar o processo dentro do jogo ou cumprir algumas tarefas.

"Só se torna um cidadão no metaverso quando vira um uplander ao adquirir US$ 10. É possível chegar a isso através de algumas tarefas, sem pôr dinheiro do bolso. Se quiser acelerar o processo, é necessário comprar mais tokens", explica Ney Neto.

Se você se tornar um "uplander", a brincadeira pode sair rentável para o seu bolso. Ao comprar um imóvel virtual, é possível revender para outros usuários por um preço maior, já que são NFTs.

Como sempre 1 mil UPXs serão U$ 1, não existe o risco de perder dinheiro com eventual desvalorização da moeda virtual.

O terreno virtual mais barato no Leblon, por exemplo, é um que fica na Avenida Ataulfo de Paiva, número 351, apenas a 50 metros da praia. Lá, o proprietário está comercializando o lote por 50 mil UPXs, o equivalente a U$ 50 (R$ 250). Mas no lançamento do bairro, o preço inicial estava cotado em 10.700 UPXs (U$ 10,7 ou R$ 55).

Outro caso de valorização é um terreno na Avenida Delfim Moreira, 906, também no Leblon, e a 100 metros da praia. O imóvel saltou de U$ 20 (R$ 100) para US$ 115 (R$ 557). Tudo isso varia de acordo com a localização, tamanho do terreno e se o jogador já construiu virtualmente algum prédio no lote virtual.

Imóvel no Leblon é vendido a 115 dólares no metaverso - Reprodução - Reprodução
Imóvel no Leblon é vendido a 115 dólares no metaverso
Imagem: Reprodução

Para construir, o custo é maior. É necessário conquistar "sparks", outra moeda virtual dentro do jogo usada somente para esse fim. Cada uma custa U$ 460 (R$ 2.308), mas pode ser usada em mais uma edificação no metaverso.

"É uma espécie de Banco Imobiliário no qual você coleciona terrenos espalhados pelo mundo real. É a cópia do mundo real. A pessoa é dona do terreno virtual e pode vender ou não. Esses lotes rendem moedas diariamente", afirmou Lucas Mucida, community manager do Upland no Brasil. Ele foi considerado em 2021 como o melhor jogador do mundo da plataforma.

Além disso, é possível abrir o próprio negócio dentro da plataforma, com venda de itens da vida real. Os clubes da liga de futebol americano, por exemplo, abriram lojas em seus estádios virtuais e comercializam materiais do time.

"A abordagem do jogador ao entrar na plataforma tem que ser a de investidor", acrescenta Ney Neto.

Dono do imóvel na vida real pode contestar minha compra virtual?

De acordo com Ney Neto, o Upland utiliza a base de dados pública do Google Maps. São comercializados na plataforma apenas terrenos, sem o imóvel que está lá no mundo real. Isso isenta de pedir autorização do proprietário daquele lugar.

Por outro lado, alguns lugares não são possíveis de comprar por terem direito de propriedade, já que foram espelhados no jogo da mesma maneira como existe no mundo real, como o Hotel Copacabana Palace, Biblioteca Municipal e demais espaços icônicos do Rio de Janeiro.

Upland já comercializou mais de 70 mil terrenos virtuais no Rio de Janeiro - Reprodução - Reprodução
Upland já comercializou mais de 70 mil terrenos virtuais no Rio de Janeiro
Imagem: Reprodução

"Essa imagem do mundo real na realidade é o Google. Então estamos apenas fazendo o espelhamento e que às vezes nem sempre bate em muitos casos. Apesar do nosso esforço, não é exato os 100%. A gente não tem essa preocupação de pedir autorização do usuário do mundo real porque estamos fazendo um georreferenciamento do Google", afirmou.

Segundo o advogado Enki Pimenta, especialista em propriedade intelectual, não é preciso pedir autorização caso a plataforma apenas faça o espelhamento do terreno.

"Todos os projetos arquitetônicos têm proteção de direito autoral. Eles podem replicar essas obras sem autorização desde que mencione a fonte. Agora se fizer uma cópia de determinada localidade e não constar a sua casa, se criando a arquitetura do zero, aí não precisa", analisou.