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Magnetismo da Terra está alterando pistas de aeroportos; entenda por quê

Chris Leipelt/Unsplash
Imagem: Chris Leipelt/Unsplash

Marcella Duarte

De Tilt, em São Paulo

18/09/2022 04h00Atualizada em 19/09/2022 10h49

No início deste mês, o Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, foi afetado por mudanças no campo magnético da Terra. Para evitar problemas em pousos, foram feitas algumas mudanças operacionais, principalmente a troca dos números das pistas.

O aeroporto possui duas pistas, totalizando quatro cabeceiras, que tinham os números 27 e 09 estampados, acompanhados pelas letras L e R (esquerda e direita). Agora, elas passam a indicar 10L/28R e 10R/28L.

Isso ocorreu porque essas nomenclaturas representam o ângulo de orientação da bússola para que um piloto direcione o avião precisamente para a pista — e as bússolas, por sua vez, são regidas pelo campo magnético terrestre.

Pelas convenções aeronáuticas internacionais, o número das pistas varia de 01 a 36. Se ela tem a bússola apontada, por exemplo, para 92º, sua numeração será 09; para 257º, será 26 (arredondando para cima o que for mais que cinco). Com pistas paralelas, os mesmos números são acompanhados pelas letras L (a da esquerda), R (direita) e C (centro, se houver três).

No caso de Guarulhos, os rumos mudaram de 95º para 96º e de 275º para 276º. Uma mudança pequena, mas que puxa o arredondamento — e que pode fazer diferença na hora de um pouso com pouca visibilidade. Mais que as marcações em solo e sinalizações do pátio, foi necessário modificar a documentação de navegação e os sistemas informativos do tráfego aéreo.

Confira os serviços em GRU:

Norte verdadeiro x Norte magnético

Não há apenas um "norte". Dependendo da atividade ou serviço, é usado determinado conceito.

O chamado "Norte verdadeiro" é empregado, normalmente, nos sistemas de GPS, em mapas e plantas de obras. É uma direção física, que aponta para o Norte geográfico da Terra — ou seja, o polo Norte. Um ponto fixo, que nunca sofrerá alterações.

Já o "Norte magnético", usado na aviação e navegação, é aquele que a bússola indica, de acordo com o magnetismo do planeta. O 0º (ou 360º) mostra um direcionamento para o norte; 180º o sul; 90º o leste; 270º o oeste. Assim, com estes ângulos, pode-se expressar qualquer direção a ser seguida — chamada "azimute magnético".

Mas precisamos ter em mente que a bolha magnética que protege a Terra não está exatamente alinhada com os polos, e se desloca ao longo do tempo. Ou seja, uma bússola não aponta sempre o exato e mesmo "norte".

Mudanças no magnetismo da Terra

O campo magnético do planeta é como um enorme ímã, criado pelo fluxo de metais derretidos (ferro e níquel), que se movimentam na camada mais externa e líquida do núcleo da Terra. A energia gerada promove mudanças magnéticas e faz com que o "norte" esteja em movimento constante — mas isso tem acontecido mais rápido do que o previsto.

Entre 1990 e 2005, o movimento do norte magnético acelerou, passando de sua tradicional velocidade entre 0 e 15 km por ano, para os atuais 50 a 60 km. Em 1831, quando foi encontrado pela primeira vez, ele estava nas ilhas do Ártico canadense; hoje, fica em um ponto na costa da Groenlândia, a cerca de 400 km do polo norte geográfico, e se move em direção à Sibéria, na Rússia.

Neste vídeo da ESA (agência espacial europeia), é possível ver sua movimentação entre 1840 e 2019:

Essa inconstância bagunça diversos sistemas de navegação — de aviões, navios e até smartphones. Por isso, o Modelo Magnético Mundial (uma espécie de mapa que descreve o campo magnético terrestre no espaço e tempo, produzido em parceria pela Agência Nacional de Inteligência Geoespacial (NGA) dos EUA) precisa ser periodicamente alterado com a localização deste ponto. A última atualização aconteceu em 2020, e deve ser refeita em 2025.