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Engenheiros colocam 'olhos' em carro autônomo. Mas para quê?

Pesquisadores colocaram "olhos" em carro autônomo - Reprodução/Universidade de Tóquio
Pesquisadores colocaram 'olhos' em carro autônomo Imagem: Reprodução/Universidade de Tóquio

Colaboração para Tilt

26/09/2022 16h09

Pesquisadores japoneses colocaram dois olhos esbugalhados - daqueles de desenho animado - na frente de um pequeno carro autônomo. Mas qual a finalidade disso?

A ideia é estabelecer uma comunicação visual entre o carro e os pedestres e, com isso, garantir mais segurança para quem está na rua e reduzir acidentes.

"Apenas um número limitado de investigações foi realizado até agora sobre a comunicação entre carros autônomos e pedestres. Por exemplo, quando um pedestre está prestes a atravessar uma rua, esse pedestre precisa saber a intenção do carro autônomo que se aproxima", observam quatro pesquisadores japoneses que assinam o artigo que apresenta a ideia.

Para resolver o problema, foi criada a interface "Eyes on a Car" (Olhos em um carro, na tradução livre). Segundo os pesquisadores, o carro "olha" para o pedestre para indicar sua intenção de parar.

O desenvolvimento dessa nova interface ocorreu a partir de um ambiente simulado de realidade virtual com um cenário de travessia de rua. Para a pesquisa, foi utilizado um carrinho de golfe manipulado para parecer que não havia ninguém dentro.

Ao todo, 18 pessoas - nove homens e nove mulheres, com idades entre 18 a 49 anos - participaram do estudo e decidiram se deveriam atravessar a rua quando o veículo se aproximava. Quatro cenários foram testados no total; dois quando o carrinho tinha olhos, e dois quando não tinha.

"Eles experimentaram os cenários várias vezes em ordem aleatória e receberam três segundos de cada vez para decidir se iriam ou não atravessar a rua na frente do carrinho. Os pesquisadores registraram suas escolhas e mediram as taxas de erro de suas decisões, ou seja, quantas vezes eles escolheram parar quando poderiam ter cruzado e quantas vezes eles cruzaram quando deveriam ter esperado", explicam os pesquisadores em comunicado à imprensa.

Participantes foram testados em quatro cenários diferentes - Divulgação/Universidade de Tóquio - Divulgação/Universidade de Tóquio
Participantes foram testados em quatro cenários diferentes
Imagem: Divulgação/Universidade de Tóquio

"Os resultados da avaliação mostram que os pedestres podem tomar a decisão correta de atravessar a rua mais rapidamente se o carro que se aproxima tiver a nova interface 'olhos' do que no caso de carros normais. Além disso, os resultados mostram que os pedestres se sentem mais seguros ao atravessar uma rua se o carro que se aproxima tem olhos e se os olhos olham para eles", explicam Chia Ming Chang, Koki Toda, Daisuke Sakamoto e Takeo Igarashi, da Universidade de Tóquio.

Porém, a pesquisa identificou uma variação nas escolhas dependendo do gênero do participante.

"Neste estudo, os participantes do sexo masculino tomaram muitas decisões perigosas ao cruzar a estrada (ou seja, optar por atravessar quando o carro não estava parando), mas esses erros foram reduzidos pelo olhar do carrinho. No entanto, não houve muita diferença em situações seguras para eles (ou seja, optar por atravessar quando o carro ia parar)", explicou Chang em nota à imprensa.

"Por outro lado, as participantes do sexo feminino tomaram decisões mais ineficientes (ou seja, optar por não atravessar quando o carro pretendia parar) e esses erros foram reduzidos pelo olhar do carrinho. No entanto, não houve muita diferença em situações inseguras para eles." Em última análise, o experimento mostrou que os olhos resultaram em uma travessia mais suave ou segura para todos.

Os participantes também relataram sensações diferentes ao se deparar com o carro com olhos. Alguns acharam o veículo fofo, enquanto outros o viam como assustador. Para muitos participantes do sexo masculino, quando os olhos estavam desviados, eles relataram sentir que a situação era mais perigosa. Já para as mulheres, quando os olhos as viam, muitas diziam que se sentiam mais seguras.

A equipe reconhece que o estudo é limitado pelo pequeno número de participantes e que, na vida real, as pessoas podem fazer escolhas diferentes em comparação à realidade virtual.

"Passar da condução manual para a condução automática é uma grande mudança. Se os olhos podem realmente contribuir para a segurança e reduzir os acidentes de trânsito, devemos considerar seriamente adicioná-los. No futuro, gostaríamos de desenvolver o controle automático dos olhos robóticos conectados à inteligência artificial autônoma (em vez de ser controlado manualmente), que poderia acomodar diferentes situações", disse Igarashi.

"Espero que esta pesquisa encoraje outros grupos a tentar ideias semelhantes, qualquer coisa que facilite uma melhor interação entre carros autônomos e pedestres, o que acaba salvando a vida das pessoas", complementou Igarashi.