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Cientistas identificam vestígios de uma das primeiras estrelas do Universo

Astro explodiu em uma supernova há bilhões de anos e suas impressões químicas ainda podem ser encontradas no espaço - Reprodução/Nasa
Astro explodiu em uma supernova há bilhões de anos e suas impressões químicas ainda podem ser encontradas no espaço Imagem: Reprodução/Nasa

Barbara Mannara

Colaboração para Tilt*, do Rio de Janeiro

30/09/2022 08h57

Cientistas podem ter encontrado resquícios de uma das primeiras estrelas do Universo. Ela teria explodido há 13,1 bilhões de anos, ou seja, cerca de 700 milhões após o Big Bang (o momento da formação cósmica).

O estudo foi realizado por astrônomos e astrofísicos liderados pelo professor Yuzuru Yoshii, da Universidade de Tóquio, e publicado no Astrophysical Journal, na última quarta-feira (28). Eles usaram dados registrados pelo telescópio Gemini North, localizado no Havaí.

O que rolou?

Quando estrelas massivas explodem em supernovas, elas sopram suas camadas externas em direção ao espaço. Ou seja, deixam para trás vestígios de sua existência, em uma nuvem brilhante de gás superaquecido. A primeira geração de estrelas é chamada de População III — um conceito teórico, que astrofísicos tentam achar provas de existência há décadas.

Supermassivas e brilhantes, elas teriam nascido do material primordial do Big Bang e formado em seu interior os primeiros elementos pesados do Universo, como oxigênio, nitrogênio, carbono e ferro, que são necessários à formação das atuais estrelas e planetas, e essenciais à vida.

Mas, por serem tão enormes, com centenas ou milhares de vezes a massa do nosso Sol, a explosão final dessas estrelas teria eliminado cada átomo de sua origem, não deixando muita coisa para trás.

Por isso, os cientistas estão animados com o novo estudo sobre a População III, pois os resultados sobre a sua impressão digital química podem ser a melhor evidência já identificada até o momento.

Quasar analisado

Os pesquisadores observaram o objeto ULAS J1342+0928, que é caracterizado como um quasar, basicamente um buraco negro supermassivo cercado de gás e poeira. A luz detectada gerada por ele foi emitida há cerca de 13,1 bilhões de anos.

Como o Universo está se expandindo, estima-se que hoje ele esteja a cerca de 30,1 bilhões de anos-luz da Terra. Esse quasar ainda é milhares de vezes mais brilhante do que toda a nossa galáxia, a Via Láctea, e o segundo mais antigo já descoberto — perdendo apenas para P172+18.

Os pesquisadores usaram um novo método para analisar os dados captados pelo radiotelescópio Gemini North entre 2017 e 2019, em frequência de luz infravermelha, que foi divida em comprimentos de onda individuais.

Assim, conseguiram criar hipóteses sobre do que ele é feito, de acordo com as características da luz absorvida e emitida. Os dados apontam que o quasar contém uma grande quantidade de ferro e pequena de magnésio — o que é incomum.

Então, simulações de computador ajudaram os cientistas a concluírem que se tratava de uma estrela de primeira geração, com cerca de 300 vezes a massa do nosso Sol — um tipo de supernova tão rara que ninguém nunca viu acontecer ou descobriu evidências diretas.

Por que isso importa?

O Telescópio Espacial James Webb — e, anteriormente, o Hubble — tem encantado com suas captações do espaço. No entanto, mesmo usando equipamentos poderosos, encontrar as estrelas mais antigas do Universo ainda é um desafio. Além de estarem muito distantes, seus resquícios acabam escondidos por trás de espessas nuvens de hidrogênio.

A maioria dos ingredientes químicos que formam o Universo como conhecemos hoje foi forjada nos núcleos de estrelas massivas ou por supernovas. Cada nova geração de estrelas reúne uma mistura de elementos diferentes da linhagem anterior.

Localizar e comparar estes diferentes materiais nos permite dar mais um passo para compreender nosso passado muito distante, como o cosmo evoluiu e até o desenvolvimento de vida.

*Com informações do site Inverse