Bruce Willis vendeu ou não vendeu direitos de seu rosto para deepfake?
A informação de que o Bruce Willis teria vendido os direitos de imagem para uma empresa de deepfake, técnica que usa inteligência artificial para sincronizar movimentos de rosto e voz, virou notícia em diferentes veículos internacionais de imprensa. A questão é que um agente do ator negou que isso seja verdade.
Segundo informações da BBC dos Estados Unidos, ele informou que essa parceria ou acordo para o uso do rosto de Willis não existe.
A empresa envolvida na polêmica se chama Deepcake, responsável por criar vários vídeos para um comercial russo onde o ator foi "colado" digitalmente sobre rosto de um dublê.
O que rolou
Bruce Willis anunciou a aposentadoria das telas após ser diagnosticado com afasia, doença que afeta a fala, em março deste ano.
O uso de vídeos deepfake seria uma das formas de mantê-lo atuando, mesmo que de forma exclusivamente virtual, com a criação do "gêmeo digital" do ator.
Foi com essa técnica que a empresa Deepcake pegou o rosto de Willis e colocou no corpo de outra pessoa, além de sincronizar a boca e expressões faciais de modo a aparecer o mais realista possível. O material foi feito para a Megafon, empresa de telecomunicações russa.
A inteligência artificial usada na criação do vídeo foi alimentada com cenas dos filmes "Duro de Matar" e "Quinto Elemento", segundo informações do site da Deepcake.
O suposto acordo de direito de imagem
Na semana passada, o site DailyMail publicou uma matéria registrando a parceria entre Bruce Willis e a Deepcake. Outros sites repercutiram a novidade, destacando que o ator era a primeira celebridade de Hollywood a fechar um acordo do gênero.
Em resposta à BBC, o agente do ator negou que isso fosse verdade.
Ao mesmo tempo, a Deepcake afirmou que a equipe de Willis colaborou de forma estreita com a criação dos vídeos publicitários em que o seu rosto foi reproduzido.
"O que ele [Willis] definitivamente fez foi nos dar seu consentimento (e muitos materiais) para fazer seu Gêmeo Digital", afirmou a companhia.
Ainda ao agente de Willis, a BBC perguntou se ele já tinha trabalhado com a empresa alvo da polêmica e se a afirmação era verdade. A reportagem ainda não recebeu retorno.
Deepfake: dois lados da moeda
A tecnologia de deepfake tem crescido em popularidade, principalmente por usar pessoas famosas e políticos. O problema é que ela se tornou mais uma ferramenta de desinformação. A disseminação de fake news, inclusive, foi potencializada com ela nos últimos meses no Brasil com foco nas Eleições 2022.
Outro lado negativo do uso da prática com inteligência artificial é que ele facilita a criação de vídeos de pornô de vingança e/ou de conteúdos sexuais sem autorização das pessoas reproduzidas. Em 2017, quando o termo deepfake surgiu, vídeos falsos de celebridades fazendo sexo (como Ema Watson e Emma Stoen) viralizaram.
A União Europeia chegou a virar notícia pela possibilidade de multar as BigTechs (empresas gigantes de tecnologia, como Google, Meta, Twitter e TikTok) que não combaterem esses tipos de deepfake.
Ao mesmo tempo, o potencial tecnológico dos vídeos que usam a técnica pode revolucionar a indústria do cinema e da TV, como por exemplo:
- atores serem facilmente "duplicados" para cenas perigosas.
- envelhecer ou rejuvenescer personagens sem a necessidade de maquiagem.
- dublagens perfeitamente sincronizadas. Os filmes e séries não precisariam nem de legendas.
- você poderia estrelar a sua série favorita.
Isso porque, basicamente, os sistemas com inteligência artificial usam aprendizado profundo de máquina, que permite que os algoritmos aprendam sozinhos a executar tarefas sem precisar de humanos. No caso dos vídeos, isso se aplica em reconhecer rostos e reproduzir seus movimentos automaticamente.
Um dos primeiros prospectos pré-deepfake no cinema comercial foi em Star Wars: Rogue One, de 2016. Em um dos testes, a princesa Leia apareceu em uma versão rejuvenescida da atriz Carrie Fisher. Isso foi possível graças ao uso de computação gráfica para reconstruir seu rosto.
Conforme a tecnologia ganha espaço, as discussões sobre o lado ético de seu uso ficam ainda mais intensos. Os limites do que pode e não pode precisam ser definidos, segundo os especialistas.
*Com reportagem de Gabriel Daros, de Tilt, e Abinoan Santiago, em colaboração para Tilt.
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