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Blockchain no café? 5 inovações tecnológicas que estão revolucionando o ESG

Nestlé passou a usar blockchain para o consumidor poder rastrear a origem de seu café - PeopleImages/iStock
Nestlé passou a usar blockchain para o consumidor poder rastrear a origem de seu café Imagem: PeopleImages/iStock

Julia Moioli

Colaboração para Tilt

13/10/2022 14h30

Segundo dados do IBGE, a maior parte do cacau produzido no Brasil vem do Pará. Será que, quando você abre aquele chocolatinho depois do almoço, está ajudando a destruir a região amazônica?

A Nestlé quer ter certeza de que não. E sua principal aliada é a tecnologia. Ela adotou um sistema de geomonitoramento, que observa continuamente imagens de satélite para checar alterações na cobertura do solo ou outros sinais de desmatamento nas fazendas parceiras.

Outra estratégia foi criar o "Theo", um assistente virtual que responde a dúvidas técnicas de agricultores. É um chatbot de WhatsApp alimentado por inteligência artificial.

"A tecnologia permite essa aproximação, contribuindo para o cumprimento de nossos objetivos globais de ter 100% do cacau de origem sustentável, vindo de área sem desmatamento, até 2025", lembra Igor Mota, gerente de agricultura de cacau na Nestlé Brasil.

A gigante dos alimentos é só uma das muitas companhias que estão usando inovações tecnológicas para cumprir metas de ESG - a estratégia de gestão que foca em responsabilidade ambiental ("environment", em inglês), engajamento social ("social") e ética nas relações governamentais ("governance").

"Muitas empresas ainda estão tentando entender o beabá do ESG, mas já está claro que a tecnologia é fundamental para endereçar essas questões", afirma Fernando Picasso, professor especializado em cadeia de suprimentos no Insper, em São Paulo.

Confira, a seguir, cinco inovações tecnológicas que estão revolucionando o ESG:

Inteligência Artificial para detectar falhas humanas

Em parceria com a startup Nuveo, a farmacêutica Libbs criou um programa para reduzir as perdas de lotes produtivos por algum problema de esterilidade.

Por meio de uma câmera, ele consegue perceber se algum operador do laboratório realizou uma atividade fora do padrão (por exemplo, não higienizar as mãos pelo tempo correto). Imediatamente, um alerta sonoro é emitido.

Desde que o sistema foi implementado, o número de funcionários que não cumpre a exigência caiu para zero.

"Isso evita a perda de lotes inteiros lá na frente, quando fazemos o controle microbiológico que checa contaminação", explica Anna Paula Guembes, diretora de inovação e desenvolvimento do negócio.

Data analytics para ligar máquinas na hora certa

A análise computacional de dados permite a coleta, organização e interpretação de grandes quantidades de informações sobre a operação. Fica mais fácil encontrar falhas e propor mudanças para uma atuação mais sustentável.

Na Suzano, empresa de papel e celulose, a análise de dados deu origem a um modelo preditivo que otimizou o trabalho de motores, geradores e caldeira. O ganho energético foi de 58 megawatts (para se ter uma ideia: 1 megawatt/hora equivale à eletricidade usada por mais de 300 residências por uma hora.)

"Nossas máquinas eram ligadas e desligadas manualmente, em uma torre de controle", conta o diretor de tecnologia digital Maurício Mazza. "Isso passou a ser feito de forma automática, de acordo com as características de cada equipamento."

Armazenamento em nuvem para planejar a manutenção

Aerogeradores da Omega Energia - Divulgação/Omega Energia - Divulgação/Omega Energia
Aerogeradores da Omega: mais de 800 sensores em cada um
Imagem: Divulgação/Omega Energia

Para analisar tanto dado, é preciso também guardá-lo. Com um custo acessível, sistemas em nuvem promovem agilidade, redução de gastos e até redução das emissões de gases do efeito estufa (já que trabalham com o compartilhamento de data centers).

A cada dez minutos, os mais de 800 sensores presentes em cada um dos aerogeradores da Omega Energia enviam suas informações para a nuvem. Lá, eles são analisados por uma inteligência artificial que colabora no planejamento da manutenção.

"Em uma empresa voltada para a energia renovável, não se trata de 'fazer' ESG. Na verdade, nós 'somos' ESG", diz o CTO Daniel Biaggio. "Uma empresa que não usa tecnologia nem consegue operar nesse business."

Atualmente, a nuvem da Omega guarda até as informações dos projetos sociais que a empresa conduz nas comunidades próximas.

IoT (internet das coisas) para conectar drones e câmeras

"Em linhas de transmissão de energia, por exemplo, é possível usar câmeras para monitorar em tempo real, identificar focos de incêndio e realizar alertas", conta Marcus Luz, diretor de tecnologias de negócios digitais e cibersegurança da Minsait, empresa especializada em soluções de phygital (termo em inglês que funde o mundo "físico" e o "digital").

Fabiano Sant'Anna, co-fundador da empresa de soluções de ESG Domani Global, cita outro caso: o uso de drones e câmeras conectadas à internet via satélite para agricultores e pecuaristas obterem informações sobre a biodiversidade da região. A partir de uma comparação com a base do Ibama, é possível criar projetos de preservação de populações de animais ou da medição de água retirada de rios para irrigação.

"No Tocantins, um equipamento com telemetria conectado ao satélite do Starlink envia informações individuais e em tempo real ao órgão estadual e, quando há variação de vazão por intempéries, os agricultores recebem notificações para ajustar o uso. Quem não cumpre o acordo recebe a visita de um fiscal", explica.

Blockchain para o consumidor descobrir a origem do produto

Embora ainda seja uma tecnologia cara para muitas empresas, o blockchain já é visto como uma espécie de bala de prata quando o assunto é rastrear, verificar e validar informações em toda a cadeia de produção.

A Nestlé, que desde 2019 já rastreia a origem de todo o café que comercializa, agora usa blockchain para incluir o consumidor final na jornada da linha premium Nescafé Origens do Brasil.

Um QR code nas embalagens leva a uma plataforma com textos, fotos e vídeos e mostra o percurso do produto, da saída da lavoura, passando por intermediários e polos de distribuição, até chegar às latas. Cada informação é adicionada pelos próprios responsáveis, de forma independente e sem possibilidade de modificação.

"Essa rastreabilidade traz transparência e mostra que temos um relacionamento muito próximo com as fazendas", diz Taissara Martins, gerente de ESG para cafés e bebidas. "Em cinco dias e sem nenhuma comunicação, registramos 650 acessos, o que mostra o interesse do consumidor pelo tema."