Até funcionários do Google acham o modo anônimo uma enganação
Sabe quando você abra uma aba anônima para proteger sua navegação? Pode não ser tão anônimo assim. Os próprios funcionários do Google têm suas ressalvas em relação a esse modo, e o recurso pode gerar uma perda de bilhões de dólares para a empresa graças a um processo judicial feito por vários usuários.
A história começou, no Dia Internacional da Privacidade de Dados (28/01) do ano passado, quando a chefe de marketing do Google, Lorraine Twohill, escreveu um email para o executivo-chefe da Alphabet Inc., Sundar Pichai, sobre como ganhar a confiança dos usuários, de acordo com documentos judiciais recentes vistos pela Bloomberg:
"Torne o modo de navegação anônima verdadeiramente privado. Estamos limitados em quão fortemente podemos comercializar o modo anônimo, porque não é realmente privado", escreveu Lorraine.
O email de Lorraine e uma transcrição do bate-papo dos funcionários fazem parte de uma coleção de documentos apresentados para a criação de uma ação coletiva que pode gerar um grande prejuízo a empresa. Há ainda outros emails, apresentações e depoimentos de funcionários.
Na próxima terça-feira (18), uma juíza vai bater o martelo. Usuários entraram com uma ação coletiva de vários bilhões de dólares contra o Google por supostamente rastrear dados enquanto eles usavam o modo anônimo. É importante explicar que a ação foi criada antes do envio do email. Esses usuários afirmam que o rastreamento corresponde a violações de privacidade.
A audiência será em Oakland, na Califórnia (EUA), e é considerada crítica. A juíza distrital dos EUA Yvonne Gonzalez Rogers decidirá se milhões de usuários do modo anônimo podem ser agrupados para buscar danos estatutários de US$ 100 a US$ 1.000 por violação (cerca de R$ 529 a R$ 5.290, aproximadamente).
O litígio do modo anônimo está entre vários casos de consumidores e estados que acusam o Google de violações de privacidade. Recentemente, o Google concordou em pagar US$ 85 milhões para resolver as alegações do Arizona de que coleta ilegal de dados dos usuários para publicidade direcionada.
Por parte do Google, a empresa nega irregularidades. "Os controles de privacidade foram incorporados aos nossos serviços e incentivamos nossas equipes a discutir ou considerar constantemente ideias para melhorá-los", disse o porta-voz Jose Castaneda em um email para a Bloomberg.
Em documentos judiciais nessa ação, a empresa argumenta que, embora seja de conhecimento comum, o modo anônimo não torna a navegação invisível e que os usuários deram consentimento para o Google rastrear seus dados.
"O modo de navegação anônima oferece aos usuários uma experiência de navegação privada, e deixamos claro como funciona e o que faz, enquanto os demandantes neste caso descaracterizaram propositalmente nossas declarações", disse Castaneda no email.
De forma resumida, a aba anônima é um modo de navegação em que o histórico de sites não é gravado e que cookies são apagados após a sessão. O recurso foi criado em 2008 com o objetivo de facilitar a vida de pessoas que compartilham computador. Dessa forma, as pessoas não poderiam bisbilhotar o que a outra acessou.
Funcionários criticam
Documentos judiciais mostram que, bem antes de o gigante dos mecanismos de busca ser levado ao tribunal, funcionários da empresa se mostraram frustrados pelo fato da aba anônima não estar à altura de seu nome.
"Precisamos parar de chamá-lo de modo anônimo e parar de usar um ícone de espião", disse um engenheiro da empresa em um bate-papo entre os engenheiros do Google Chrome em 2018, depois de compartilhar pesquisas que mostraram aos usuários recursos mal compreendidos dos modos de navegação privada.
O que é feito com os dados?
Até agora, apenas o Google sabe o que é feito com os dados coletados de pesquisas no modo de navegação anônima.
Serge Egelman, diretor de pesquisa do Usable Security and Privacy Group da Universidade da Califórnia no Berkeley's International Computer afirma que dados sobre onde os usuários do modo de navegação anônima acessam on-line, o que fazem em sites e quais anúncios visualizam podem ser usados
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