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Asteroide azul roda cada vez mais rápido perto do Sol; entenda o mistério

Ilustração mostra o asteroide Phaethon próximo ao Sol - Nasa
Ilustração mostra o asteroide Phaethon próximo ao Sol Imagem: Nasa

Barbara Mannara

Colaboração para Tilt*, do Rio de Janeiro

17/10/2022 13h19

O Phaethon tem mostrado um comportamento bem incomum para um asteroide: está girando cada vez mais rápido em seu eixo, enquanto orbita o Sol. Descobrir por que esta rocha espacial tem quebrado os padrões pode ajudar a proteger a Terra, e cientistas levantam novas hipóteses sobre o que pode estar acontecendo.

Astrônomos observam o 3200 Phaethon desde sua descoberta, em 1983. E ele sempre foi o "diferentão" entre os asteroides. Primeiro, porque sua cor é azulada — enquanto seus "irmãos" costumam ser cinzentos ou avermelhados.

Além disso, a sua órbita acontece muito perto do Sol — um hábito de cometas, e não de asteroides —, chegando a apenas 21 milhões de km (cerca de um terço da distância de Mercúrio ao Sol). Inclusive, foi por isso que ele recebeu este nome: na mitologia grega, Phaethon (ou Faetonte) é o filho de Hélio, deus do Sol.

Pesquisadores apresentaram novos dados, durante a 54ª Reunião Anual da Divisão de Ciências Planetárias da Sociedade Astronômica Americana (AAS), que ocorreu este mês.

Perigo para a Terra?

Sua rota passa bem perto daqui — em termos astronômicos —, mas o Phaethon não seria capaz de causar um apocalipse na Terra.

Mas ele nos presenteia, todos os anos, com belas "estrelas cadentes": a chuva de meteoros Geminídeas, em dezembro, é causada pela cauda empoeirada do Phaethon. Esta é a única chuva conhecida que é gerada por partículas de um asteroide e não de um cometa.

No entanto, ele não é tão pequeno. Com diâmetro de mais de 5 quilômetros, poderia causar bastante estrago caso caísse sobre uma cidade terrestre. Mas nenhum cálculo aponta esta possibilidade.

De qualquer forma, entender por que este asteroide está mudando seu comportamento pode ser a chave para prevenir desastres inesperados.

Rotação acelerada

O Phaethon é o alvo da futura missão DESTINY+, da Agência Espacial Japonesa (Jaxa), que pretende pousar nele. Por isso, cientistas estão estudando o asteroide a fundo. Neste processo, Sean Marshall, do Observatório de Arecibo, em Porto Rico, notou que as previsões de seu modelo não coincidiam com os dados anteriores.

Ele concluiu que o período de rotação do Phaethon havia mudado entre 1989 e 2021. Isso poderia ser causado por uma aceleração gradual e constante, diminuindo 4 milissegundos do período de rotação por ano, o que acabou ficando evidente depois de décadas.

Em 2016, já havia sido constatada uma alternância nos dados, mas não havia informações suficientes para entender o que estava acontecendo. Um mistério, pois a rotação de um asteroide em seu próprio eixo, geralmente, não muda.

Possíveis motivos

Nas análises mais recentes, astrônomos apontam que o asteroide pode estar mudando de comportamento devido a perda de massa, já que sabe-se que o Phaethon pode liberar sódio. Esta redução não é algo comum em asteroides, mas sim em cometas — neles, o processo de desgaseificação produz um efeito de aceleração.

Outro motivo pode ser causado pelo calor: as altíssimas temperaturas na proximidade de uma estrela (como o nosso Sol) podem alterar a taxa de rotação do asteroide. Entender os padrões nestes dados é fundamental também para o sucesso da missão DESTINY+, já que os astrônomos precisam prever com exatidão o momento de sobrevoo e pouso na rocha espacial.

* Com informações da Nasa e do Science Alert