A selfie perfeita existe? Por que odiamos as fotos em que aparecemos?
Fazer uma selfie parece simples, mas não é. Cabelo desajeitado, olhos fechados, sorriso estranho... tudo é motivo para descartar a foto e fazer outra. Mas por que somos tão rigorosos com a nossa própria imagem?
Embora não exista uma resposta definitiva para a questão, há algumas hipóteses. Uma delas é chamada de "efeito da mera exposição". Em 1968, o psicólogo polonês Robert Zajonc formulou uma teoria chamada de "efeito de mera-exposição", que diz que as pessoas reagem mais favoravelmente ao que elas costumam ver com frequência.
Para chegar a essa conclusão, Zajonc reuniu um grupo de pessoas e mostrou uma sequência de imagens de vários tipos em uma velocidade tão alta que era impossível distinguir cada uma das figuras. Em seguida, mostrou as mesmas imagens, só que dessa vez congeladas, e pediu às pessoas que escolhessem as que acreditavam ser mais atrativas.
Invariavelmente, os voluntários escolheram as imagens que tinham aparecido mais vezes no experimento. Diante disso, Zajonc concluiu que a exposição repetida gera familiaridade na mente humana.
E o que isso tem a ver com as selfies? Como vemos nossa imagem com muita frequência em espelhos, essa seria a nossa imagem preferida. E não é fácil reproduzi-la com uma câmera. Primeiro, porque não estamos sempre na mesma posição e ângulo. Depois, a maneira como nossos olhos nos enxergam é diferente da imagem que a câmera capta.
Além disso, nosso rosto é assimétrico, ou seja, um lado não é exatamente igual ao outro. De acordo com o efeito da mera exposição, quando essas pequenas assimetrias faciais são colocadas ao contrário pela câmera (porque é assim que ela capta a imagem), vemos uma versão desagradável de nós mesmos, com a qual não estamos acostumados.
Vale da estranheza
Em 1977, os psicólogos Theodore H. Mita, Marshall Dermer e Jeffrey Knight utilizaram a teoria do efeito da mera exposição para mostrar que as pessoas tendem a preferir uma fotografia facial espelhada à foto real. Isso estaria ligado à ideia de que a imagem espelhada é a que mais estamos acostumados a ver.
Deve ser por isso que gostamos tanto de tirar fotos em espelhos e também porque passamos a gostar mais das últimas selfies que tiramos numa sequência (depois que acostumamos com aquela imagem).
Em resumo: somos menos atraentes do que pensamos. Nossos cérebros são propensos a um excesso de confiança, levando-nos a pensar que sabemos muito mais sobre nós mesmo do que realmente sabemos.
Em uma palestra no Ted - conferência que busca discutir ideias inovadoras -, o engenheiro da Microsoft e fotógrafo norte-americano Davidson Duncan relacionou nossa aversão às fotos a uma outra teoria chamada de "uncanny valley" ("vale da estranheza", em português).
Essa hipótese é trabalhada principalmente no campo da robótica e das animações, e diz que, quando réplicas são muito parecidas mas não idênticas aos humanos (em desenhos 3D ou robôs), provocam repulsa e estranhamento entre os observadores reais - no caso, nós.
Da mesma forma, quando vemos fotos em que aparecemos, elas parecem quase certas, mas não exatas - viria daí o nosso senso de rejeição.
Fonte: Tássia Zanine, professora de fotografia da Faculdade Belas Artes, em São Paulo.
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