Por que códigos de programação estão sendo guardados em um cofre no Ártico?
Dentro de uma mina de carvão desativada no Ártico, 300 m abaixo do solo, repousa um cofre com 188 rolos de filmes de arquivo endurecido. Individualmente selados contra a devastação do tempo, esses rolos contém uma captura de imagem de cada repositório ativo no GitHub, uma espécie de fórum online onde quase 4 milhões de desenvolvedores costumam armazenar seus códigos de programação.
Ou seja, agora, além de estarem protegidos em servidores, esses códigos também estão guardados fisicamente. O propósito é preservar a cultura de software open source (programas de código aberto), considerada um pilar da civilização moderna. Esse material poderá ser compartilhado com as próximas gerações pelos próximos 1.000 anos.
Como estão preservados os arquivos?
O Arctic Code Vault (Cofre de Códigos do Ártico, em tradução livre) é literalmente um cofre com rolos de filme de arquivos, que foram preparados para resistir às intempéries do clima.
A estrutura é feita de aço e possui cerca de 1.400 kg. Cada rolo de filme foi colocado em estojos com qualidade de museu.
O cofre foi gravado com uma arte gerada por uma inteligência artificial sob controle do artista Alex Maki-Jokela. A ideia é que, mesmo que as gerações futuras não saibam o que há dentro do cofre daqui 10 séculos, a beleza da imagem comunicará que algo importante e extraordinário está guardado ali - a mesma percepção que temos diante de grandes construções como as pirâmides do Egito, a cidade de Machu Picchu e o templo budista de Angkor Wat.
Por que enterrar no Ártico?
Fundador da Piql, empresa que administra o cofre, o engenheiro Rune Bjerkestrand diz que uma mina abandonada no Ártico é o "local perfeito para este tipo de operação". Isto porque não há necessidade de usar energia para refrigeração. Embaixo da camada de solo congelado a temperatura chega a -10 °C. "É uma área seca e congelada, perfeita para armazenar rolos de filme a longo prazo", garante.
Além disso, os cofres estão enterrados no arquipélago de Svalbard, uma área pertencente à Noruega, mas regulada por leis internacionais. Considerado o território mais ao norte do planeta, trata-se de uma zona desmilitarizada e uma das mais politicamente estáveis do mundo.
"Historicamente, quando há guerras, arquivos são destruídos. Então, ter um arquivo em um local protegido em um lugar remoto regulado por tratado internacional, dá uma segurança extra de que eles não serão atacados", afirmou em entrevista ao The Verge.
Apesar das alterações climáticas afetarem a cidade de Svalbard, cientistas acreditam que o aquecimento global não vai prejudicar a estabilidade da mina onde os cofres foram guardados. Além disso, espera-se que, neste ponto, a mudança climática derreta apenas as camadas mais superficiais de gelo.
Como teve início o projeto?
Os arquivos do GitHub fazem parte de um outro projeto maior, o Arctic World Archive (Arquivo Mundial do Ártico, em tradução livre), que contém dados da história e da cultura de vários países.
São informações coletadas por meio de governos, pesquisadores, instituições religiosas e empresas de mídia. O Brasil, por exemplo, arquivou a Constituição e outros documentos históricos.
Para o seu projeto, o GitHub fez uma imagem de todos os repositórios públicos que estavam ativos em 2 de fevereiro de 2020. A ideia é preservar a memória da comunidade de programação com código aberto e contribuir para divulgar esse conhecimento para as gerações futuras.
Como serão recuperados os arquivos?
De acordo com a Piql, o conteúdo pode ser recuperado a qualquer momento do cofre. Mas o processo não é rápido, pois todos os arquivos estão off-line.
Os rolos de filme têm que ser retirados manualmente, depois subidos na nuvem e enviados via fibra óptica para os donos do arquivo. O processo levaria cerca de 30 minutos, mas pode demorar muito mais.
O que mais há no arquivo do GitHub?
Além dos repositórios, o GitHub arquivou e depositou uma "Tech Tree" (Árvore Tecnológica, em tradução livre) para que as futuras gerações tenham um contexto mais amplo dos repositórios, que possuem um guia em cinco idiomas diferentes - árabe, chinês, inglês, hindi e espanhol.
A Tech Tree descreve como o mundo cria e usa softwares, além de falar sobre computadores e tecnologias fundamentais. Também há uma seleção de obras artísticas, culturais e históricas.
Por que preservar arquivos para a posterioridade?
De acordo com a Sociedade Artística Brasileira (Sabra), esses tipos de arquivos são um importante registro para a posterioridade e são de grande importância para manter a memória coletiva.
"Patrimônios históricos fazem parte da identidade de uma sociedade quanto aos costumes, às características e ao comportamento das pessoas que fazem parte dessas estruturas", diz a organização.
A preservação deles é de interesse público, por conterem valores arqueológicos, etnográficos, bibliográficos e artísticos. Através dos patrimônios históricos, é possível conhecer mais a respeito da história de cada país e até mesmo desenhar uma ordem cronológica dos fatos.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.