Gmail, YouTube, Drive: ele perdeu tudo por erro da IA do Google. E agora?
O youtuber Ygor Palopoli tomou um susto quando tentou abrir a sua conta do Gmail e viu que estava com o acesso bloqueado. A mensagem na tela do computador foi ainda mais chocante: ele havia salvado um "conteúdo nocivo" em algum dos programas da empresa. Qual? Ninguém sabe ainda. Ele suspeita que tenham sido recortes de vídeos usados na edição dos seus conteúdos ou talvez o backup de imagens que fez do WhatsApp para o Google Drive.
Duas ações absolutamente cotidianas, aparentemente banais, e agora com consequências devastadoras. Seu canal homônimo no YouTube, com quase 10 mil inscritos, era sua principal fonte de renda e agora perdeu todos os vídeos. Duas semanas depois, ele ainda tenta entender o que aconteceu e recuperar o acesso bloqueado pela Inteligência Artificial do Google.
A criação de conteúdo passou a ser meu trabalho integral, faço com muita dedicação e me mantenho financeiramente com isso. Mas em um clique automatizado e equivocado, eis o que eu perdi. Ygor Palopoli, nas redes sociais.
"OGoogle levou de uma vez só o canal, a monetização acumulada de 4 meses, o meu Gmail onde eu negociava ações e campanhas com marcas, e o meu Drive, onde estão todos os meus vídeos gravados, editados, textos, roteiros, ideias, assets. Eram mais de 2TB de dados", afirma.
'Posso ter perdido tudo por um nude'
Além de lidar com a perda do trabalho de anos, Palopoli ainda sofre por não saber a razão da suspensão. Sua principal teoria seria nudes que ele mesmo tirou e enviou via WhatsApp, posteriormente carregados no Google Drive.
Não olhei cada item que subi no Drive. Apenas transferi e pronto. Não dá para ser demagogo. É normal trocar fotos íntimas. Certamente tinha esse tipo de foto lá também, mas o Google vai excluir todo o meu trabalho por causa de uma foto minha que eu tirei e mandei para uma pessoa? Ygor Palopoli.
O criador de conteúdo também acredita que o Google possa ter entendido como nocivo algum material bruto que ainda seria editado para o seu canal, onde publica vídeos que explicam casos misteriosos da internet.
"Faço muito vídeo documental, então preciso obter arquivos que o Google pode considerar nocivos. Fiz recentemente o caso do 'marmita gate', por exemplo. Esse caso envolvia até sites de prostituição, então eu tinha que ter essa foto para colocar no conteúdo. Isso explica que o contexto é ignorado totalmente pelo Google, mesmo que eu fosse censurar a imagem para colocar no ar", comenta.
Palopoli alega que, sem poder consultar o email para oficializar contratos, perdeu patrocínios de duas campanhas publicitárias que estavam previstas para as próximas semanas. O dano com tudo isso está na casa dos R$ 10 mil.
O influenciador têm tentado contatar o Google desde o ocorrido, sem sucesso. O formulário de recuperação da conta não surtiu efeito. Pelo Twitter, as respostas da conta do perfil @TeamYouTube o deixaram em um "labirinto", segundo suas próprias palavras, já que a solução oferecida é só continuar reenviando o pedido de contestação.
Tilt também acionou Google e YouTube, mas ainda não obteve resposta aos pedidos de esclarecimentos.
Agora, Palopoli prevê judicializar o caso - foi isso que deu certo para outras pessoas que passaram por algo parecido. Sim, porque ele não é o único.
Drama não é isolado
Em seu desespero, o youtuber foi atrás de outras pessoas que também foram vítimas da IA do Google.
"O robô comete falhas grotescas. Uma das youtubers que descobri relatou que teve a contra excluída porque tinha fotos do filho recém-nascido no Drive", revelou em uma thread no Twitter, que já conta com quase 5 mil likes.
Há casos idênticos de bloqueios na Espanha e nos Estados Unidos, conforme mostram reportagens recentes do El País e do The New York Times.
No caso norte-americano, a Inteligência Artificial do Google bloqueou as contas de um pai após ele tirar a foto da virilha do filho para enviá-la ao médico pediatra, que solicitou a imagem para analisar um inchaço na genitália.
Como o celular do pai era logado no Google Fotos, a imagem acabou parando no Drive. Com isso, dias depois, a empresa entendeu que se tratava de conteúdo nocivo de pornografia infantil e barrou o acesso à conta do Google, mesmo com a polícia considerando que a foto fazia parte de um procedimento entre médico e paciente.
Já no caso espanhol, o bloqueio também aconteceu após a transferência de arquivos de vídeos, que segundo o relato do usuário, poderia ter conteúdos sexuais ou filmes de ficção sobre terrorismo.
Em ambos os casos, o Google não respondeu às reportagens dos jornais e não reativou a conta dos usuários citados.
No Brasil, em uma rápida pesquisa nas redes sociais, demais usuários da plataforma descrevem o mesmo problema: acesso bloqueado após subir conteúdos de mídia no Google Drive.
"Eu perdi minha conta Google por conteúdo nocivo? P*rra de conteúdo nocivo. Naquela merda só tem fotos minhas e dos meus gatos", diz um usuário no Twitter.
"Mano, eu tive meu Drive do Google bloqueado por conta de conteúdo nocivo. 10 GB de fotografia de viagem, backup de fotografia do celular, nada de nocivo. O pior é que tbm tem 20 GB de arquivos de trabalho. O que tem de nocivo num monte de foto minha (nada +18)?", questiona outro.
O que diz os termos do Google
Desde 14 de dezembro de 2021, o Google informa que está restringindo acesso a conteúdos do Drive se for "identificado como uma violação dos Termos de Serviço do Google ou das políticas do programa".
"Isso ajudará a garantir que os proprietários de itens do Google Drive estejam totalmente informados sobre o status de seu conteúdo, além de ajudar a garantir que os usuários estejam protegidos contra conteúdo abusivo", diz o comunicado, que não cita o bloqueio das contas como punição, apenas a restrição aos arquivos.
Nos Termos de Serviço, o Google diz que pode suspender ou encerrar a conta na plataforma em três casos, mas sem detalhar cada item.
- Por violar os Termos de Serviços, os termos adicionais específicos ou as políticas de forma relevante ou recorrente.
- Por decisão judicial.
- Por razões concretas para acreditar a conduta causa danos ou responsabilidade a um usuário, a terceiros ou ao Google, por exemplo, por meio de hacking, phishing, assédio, prática de spam, ludibriação de outras pessoas ou cópia de conteúdo que não pertença a você.
O Google diz que, se constatado algum erro da plataforma, o usuário pode solicitar o desbloqueio do acesso à conta.
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