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Tudo sobre a rede social chinesa de vídeos curtos verticais


Trabalho dos sonhos: australiano fatura US$ 400 mil dormindo no TikTok

Internautas pagam para interromper sono de influenciador no TikTok - Reprodução/ TikTok
Internautas pagam para interromper sono de influenciador no TikTok Imagem: Reprodução/ TikTok

Simone Machado

Colaboração para Tilt, em São José do Rio Preto (SP)

21/11/2022 12h14Atualizada em 21/11/2022 16h05

Imagine ganhar dinheiro fazendo nada. Ou melhor: fazendo algo que a gente já faz (ou deveria fazer) por oito horas todo dia, e muita gente gostaria de fazer por ainda mais tempo? O tiktoker australiano Jakey Boehm está faturando alto com lives em que ele simplesmente... dorme.

Segundo o jornal Wall Street Journal, seu faturamento mensal é de US$ 35 mil, ou mais de US$ 400 mil (cerca de R$ 2 milhões). Boa parte de seu 1 milhão de seguidores sintoniza toda noite, em torno das 22h, para ver o jovem de 28 anos vestir o pijama, deitar e apagar.

Mas há um lado interativo (e até insalubre): os fãs podem participar ativamente comprando "presentes virtuais" que acionam sons e luzes no quarto para tentar acordá-lo. É quase como um videogame: pessoas anônimas pagando para assustar Boehm e acordá-lo como se ele fosse um personagem de jogo.

Por cerca de US$ 380, um espectador pode ativar tudo no quarto de Boehm por cinco minutos, fazendo um barulho assustador. O pagamento também envia um alerta para todos no TikTok Live e os convidam para assistir ao momento.

O TikTok fica com uma porcentagem do dinheiro, mas não divulga exatamente quanto. Ele diz que está guardando seus ganhos para comprar uma casa. E promete que outro percentual será doado para instituições de caridade voltadas para a saúde mental.

"Isso literalmente mudou minha vida", diz o australiano, que trabalhava como desenvolvedor web autônomo.

Espectadores do sono já existem desde 2004

Esta forma de "tortura" diverte Kyle Hirshon, produtor de TV de 25 anos, que diz acompanhar o tiktoker de manhã enquanto se prepara para o trabalho.

"Encontrei esse cara que estava dormindo em sua cama e tinha um monitor ao lado dele. As pessoas o incomodavam para acordá-lo, e eu pensava, 'Oh, isso parece divertido'", disse Hirshon em entrevista ao Wall Street Journal.

David Beckham deu início à era moderna de vigiar o sono há quase 20 anos. Em um trabalho encomendado para a National Portrait Gallery, de Londres, o astro do futebol cochilou sem camisa durante um vídeo de 107 minutos intitulado "David", lançado em 2004.

Porém, o gênero permaneceu em hibernação até que o streaming do sono ressurgiu no Twitch, o serviço de streaming ao vivo da Amazon. No ano passado, ele foi uma das 10 principais tendências da plataforma, rivalizando conteúdos mais tradicionais como os dos jogos League of Legends e GTA.

Mas, como tantas outras trends das redes sociais, ela pegou mesmo quando migrou para o TikTok, também no ano passado. Pouco tempo depois, lives de dorminhocos passaram a ser promovidas na página "For You", uma espécie de "vitrine" no TikTok, potencializando o público e os ganhos dos principais streamers do sono.

Cuidado com os golpes

A possibilidade de dinheiro fácil começou a atrair a atenção de diversos usuários da plataforma e também de criminosos. Patrick Moore, criador de conteúdo do YouTube focado em cultura digital, alertou recentemente que certos vídeos falsos tentam estimular crianças a enviar dinheiro.

Um dos truques é gravar imagens de streamers reais e, em seguida, reproduzi-las em outra conta, como se fossem ao vivo e inéditas. A má qualidade visual é um sinal dos falsos dorminhocos, de acordo com Moore.

Outra tática é aparecer na seção de comentários de transmissões reais, se passando por um representante do tiktoker, e pedir doações em contas bancárias falsas. Para evitar que os usuários caiam em golpes, alguns influenciadores passaram a exibir os dados de sua conta em uma placa fixada na cabeceira da cama.