Houston, temos um recorde: nave Orion vai mais longe da Terra que Apollo 13
Neste sábado (26), a missão Artemis 1, da Nasa, bateu um recorde: sua cápsula Orion chegou mais longe da Terra do que qualquer outra nave projetada para levar astronautas ao espaço.
Ainda sem tripulação, ela ultrapassou os 400.171 km do planeta, superando a distância atingida pelo módulo de comando Odyssey, da missão Apollo 13, em abril de 1970, com três astronautas a bordo.
O feito ocorreu após uma complexa manobra orbital realizada na sexta-feira, que colocou a Orion em uma chamada "órbita lunar retrograda distante". Em linhas gerais, a nave acionou seus propulsores e usou o impulso da gravidade para se afastar da Lua (indo da aproximação máxima, de apenas 130 km, para 64 mil km da superfície) e girar ao redor dela no sentido contrário ao de sua rotação.
A cápsula passará quase uma semana nesta órbita, fazendo testes no desafiador ambiente de espaço profundo e levando ao limite os seus sistemas — como os de navegação, comunicação, propulsão e proteção contra radiação e calor —, para garantir a segurança dos futuros astronautas.
No final desta segunda-feira (28), está previsto que a Orion bata seu próprio recorde, alcançando 432.194 km de distância da Terra.
Nos próximos dias, ela completará meia volta ao redor da Lua, e então realizará novas manobras para sobrevoar a Lua mais uma vez e, então, retornar para a Terra. Seu pouso, no oceano Pacífico, está previsto para 11 de dezembro.
A trajetória da missão pode ser acompanhada em tempo real pelo Twitter da Orion e no site especial da Nasa AROW (Artemis Real-time Orbit Website).
Acidente da Apollo 13
O plano de voo original da Apollo 13 não previa que a nave espacial viajasse para tão longe. Como depois viemos a saber (há até um filme homônimo de 1995 que retrata a história), a missão abortou repentinamente seu objetivo inicial — um pouso lunar — para "apenas" trazer os astronautas de volta à Terra com segurança, após uma explosão de um tanque de oxigênio no meio do voo ter destruído seu módulo de serviço.
Diferente a Artemis 1, que desde o início planejava entrar em órbita retrógrada distante, a Apollo 13 só alcançou esta distância pois havia uma necessidade emergencial de usar a gravidade da Lua para lançá-la de volta à Terra o mais rápido possível. Neste processo, bateu um recorde — os astronautas Jim Lovell, Fred Haise e Jack Swigert estão no Guinness pela "maior distância da Terra alcançada por humanos".
"Artemis 1 foi projetada para 'estressar' os sistemas da cápsula, e decidimos pela órbita retrógrada distante como uma maneira realmente boa de fazer isso", disse Jim Geffre, gerente de integração da Orion na Nasa. "Acontece que, com aquela órbita realmente grande, em alta altitude acima da lua, fomos capazes de ultrapassar o recorde da Apollo 13. Mas o mais importante, porém, foi ultrapassar os limites da exploração e enviar espaçonaves mais longe do que jamais havíamos feito."
Tripulação da Artemis
Os recordes não são a única conexão da Apollo 13 com a Artemis 1.
Embora a Orion não tenha tripulação, ela carrega "Moonkins" — manequins com sensores para medir a exposição à radiação e o estresse que um membro da tripulação experimentaria em um voo de ida e volta à Lua. Um deles, o único de corpo inteiro, foi nomeado "Comandante Moonikin Campos", em homenagem a Arturo Campos, falecido em 2004, que durante a missão Apollo 13 criou os procedimentos de emergência que permitiram que o módulo Odyssey tivesse energia suficiente para um pouso seguro.
Mas, como Moonikin Campos não é um ser humano, não pode entrar para o Guiness. Mas isso pode mudar nos próximos anos. Se tudo correr como planejado, em 2023 deve ser lançada a missão Artemis 2, com astronautas a bordo, que darão uma volta ao redor da Lua, até seu lado oculto, mas não pousarão nela. Em 2025, enfim, o homem — e a primeira mulher — caminhará novamente em nosso satélite.
E os objetivos da Nasa são mais ambiciosos: ela quer estabelecer uma base lunar, para presença humana constante, e uma estação espacial ao redor da Lua. Depois, usaria essa estrutura para voos tripulados mais distantes para exploração do espaço profundo, em especial de Marte.
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