Ele lidera movimento anticriptomoedas no mundo: 'A bolha está estourando'

Reunidos em uma sala em Londres e sem muito alarde da imprensa, especialistas debateram, em setembro, o futuro das criptomoedas. Mas em vez de endossar a narrativa de que dá para ficar rico investindo em ativo digital, a intenção do encontro era alertar que a "a bolha já está estourando" e que pode as criptos podem levar um investidor à falência.

Era o Crypto Policy Symposium 2022, primeiro encontro no mundo que reuniu céticos das criptomoedas ou pelo menos pessoas que não entraram de cabeça na tendência. Esse movimento de resistência crítica tem ganhado força em vários países, com diversos adeptos famosos, a exemplo de Bill Gates.

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Um dos organizadores foi o tecnólogo norte-americano Darren Tseng. Graduado em Finanças na Universidade de Massachusetts e fundou várias empresas de fintech nos Estados Unidos e na Europa. Sua experiência no setor bancário digital o faz ser categórico: as criptomoedas são uma fraude e farão você perder dinheiro.

"As consequências de quem tem criptomoedas é a de que perderão uma parcela significativa, senão todo o dinheiro que investiram em criptomoedas", alerta Tseng, em entrevista exclusiva a Tilt.

Tseng diz que a bolha das criptos já "está estourando", sobretudo, em razão das políticas regulatórias do Banco Central dos Estados Unidos. O recente colapso da FTX, uma das maiores exchanges de cripo no mundo, parece lhe dar razão.

As criptomoedas têm desvalorizado nos últimos meses. A principal, a Bitcoin, caiu 74,37% no último ano. No mesmo período, Ethereum baixou 74,5%, Bitcoin Cash caiu 85,49%) e Litecoin, 77,05%.

Na entrevista, Tseng cita um caso emblemático: o da Terra (Luna), que desvalorizou em 99% em maio de 2022, ao perder seu lastro de paridade com o dólar após o seu ecossistema tecnológico entrar em colapso.

Co-autor de dois livros sobre o tema, "The Case Against Cryptocurrency: The Failed Financial Revolution" ("O Caso contra a Criptomoeda: a Revolução Financeira Fracassada", em tradução livre) e "Popping the Crypto Bubble" ("Estourando a Bolha das Criptos"), ele reforça aos brasileiros:

É um jogo criado por trapaceiros. Ao jogar, você já perdeu. Não jogue.

TILT: Em "Popping the Crypto Bubble", lançado este ano, você diz que as criptos são uma "revolução financeira que carrega as sementes de sua própria destruição". Por que? Você acredita que elas irão acabar?

Tseng: Eu me refiro ao conceito de que a criptomoeda falhará porque possui práticas econômicas e técnicas infundadas que são fundamentais para sua construção. É como se fosse um arranha-céu de 100 andares construído de madeira podre, o que garantirá que o edifício entrará em colapso.

TILT: No mesmo livro, você diz que "uma vez concebida como um meio de pagamento ponto a ponto, a criptomoeda hoje se transformou quase exclusivamente em um ativo de investimento especulativo". O que você quer dizer com isso?

Tseng: O artigo de 2008 de Satoshi Nakamoto [pseudônimo do suposto fundador do Bitcoin no qual explica como funcionaria a moeda digital para pagamento online] foi um meio de mostrar que o problema do gasto duplo [ou seja, para o credor e para o intermediário financeiro] estava resolvido e poderia ser usado para pagamento "pessoa a pessoa".

No início, a Bitcoin era usada para pagamentos. Mas, em anos posteriores, foi usado mais para as pessoas apostarem nas mudanças de preços com compra e venda. Ou seja, especulação.

TILT: Ainda em relação ao que escreveu, você diz que "descobriu sobre a tecnologia por trás da criptomoeda, suas ideias políticas e as narrativas que impulsionam a maior bolha econômica da história da humanidade". É possível contar para gente um pouco sobre essa "verdade"?

Tseng: Existem duas verdades subjacentes no livro. A primeira é que a tecnologia das criptomoedas é excessivamente complicada ou mal projetada para realizar tarefas que uma tecnologia mais simples e bem usada já faz em todos os casos de uso existentes.

A outra é a de que, economicamente, é perigoso usar as criptomoedas, pois quase todas as existentes são configuradas como um esquema de pirâmide descentralizado [modalidade de fraude financeira na qual é necessária a entrada de novos investidores para pagar o lucro sobre os mais antigos].

TILT: Muito se fala que a bolha das criptomoedas vai estourar e que o valor delas pode chegar a zero. Em qual momento isso aconteceria e quais as consequências para quem tem criptomoedas?

Tseng: Já está acontecendo. Com o Banco Central dos Estados Unidos aumentando as taxas de juros para combater a inflação, isso causa uma contração na oferta de moeda, fazendo com que o custo dos empréstimos suba. Como resultado, isso levou à falência empresas que faziam operações de criptomoedas ou faziam empréstimos com criptomoedas com lastro de paridade com o dólar, como a Terra (Luna), 3 Arrows Capital, Voyager e Celsius.

Isso cria uma perda de fé que levará a um momento em que nenhum novo capital realmente sustentará o seu próprio ecossistema e os investidores existentes reconhecerão suas perdas.

Pode não chegar a zero imediatamente, mas o verdadeiro volume de negociação é um indicador de sua popularidade - não o preço em si. A consequência: quem tem criptomoedas perderá uma parcela significativa, senão todo o dinheiro que investiu.

TILT: Bill Gates é uma das figuras proeminentes que não gostam das criptomoedas. Ele afirma que gosta de investir em coisas que têm um resultado de valor, baseado em empresas com ótimos produtos. Gates diz que o valor da criptomoeda é apenas o que a outra pessoa decide pagar. Ou seja, algo especulativo. Como você avalia essa opinião?

Tseng: Concordo. Gates está falando sobre a importância do "valor intrínseco" versus valor de mercado. O valor de mercado acabará por reverter para o preço do valor intrínseco.

TILT: O Brasil é um país muito desigual e tem muitos influenciadores digitais que se aproveitam disso para fazer seus seguidores investirem em criptomoedas como caminho para ganhar dinheiro. Qual o conselho que você daria aos brasileiros sobre isso?

Tseng: Imagine todo esse dinheiro pelo qual você trabalhou tanto e economizou, e você o coloca em um jogo onde as regras podem ser alteradas pelas pessoas a quem você deu o dinheiro. É um jogo criado por trapaceiros. Ao jogar, você já perdeu. Não jogue.