Topo

Pedir Uber, fazer pagamento, achar loja: WhatsApp está virando um superapp?

RawPixel.com/Freepik-br
Imagem: RawPixel.com/Freepik-br

Simone Machado

Colaboração para Tilt*, em São José do Rio Preto (SP)

05/12/2022 12h03Atualizada em 06/12/2022 16h53

O lançamento recente de recursos do WhatsApp indicam que seu grupo proprietário Meta está mais do que de olho na possibilidade de transformá-lo um superapp. Ou seja, oferecer vários serviços — como pagamentos, comércio online e delivery — a partir de um único acesso.

No Brasil, já funciona um recurso que permite encontrar lojas e restaurantes diretamente do aplicativo, numa espécie de páginas amarelas digitais. Para especialistas ouvidos por Tilt, migrar o WhatsApp para além de um serviço de mensagens estaria dentro da tendência mundial.

A China, por exemplo, popularizou o WeChat, aplicativo que oferece troca de mensagens, funciona como rede social, permite pagamentos e solicitação de delivery. Contudo, o caminho ainda é longo para que isso dê certo — e ajude a Meta a sair da crise financeira que vive atualmente.

O WhatsApp vem lançando recursos que vão além de melhorias para a troca de mensagens de texto, áudio e vídeo:

Compras pelo WhatsApp

No dia 17 de novembro, Mark Zuckerberg, CEO da Meta, anunciou a ferramenta gratuita "Diretório", que funciona como um catálogo online de produtos/serviços pelo WhatsApp, para dispositivos com o sistema operacional Android.

Segundo Guilherme Horn, diretor geral da WhatsApp Brasil, em breve, a plataforma oferecerá ainda a opção de pagamentos a partir da tela do app com cartões de crédito ou débito.

WhatsApp vai permitir fazer compras de produtos dentro do aplicativo - Divulgação - Divulgação
WhatsApp vai permitir fazer compras de produtos dentro do aplicativo
Imagem: Divulgação

Em agosto deste ano, a empresa fechou parceria na Índia com o serviço de mercearia online JioMart, onde o usuário pode escolher e comprar produtos no supermercado sem sair do WhatsApp, gerando a experiência de compra de ponta a ponta, como é chamada.

"O objetivo final é fazer com que você possa encontrar serviços que procura, enviar mensagens e comprar de uma empresa no mesmo bate-papo do WhatsApp", chegou a afirmar Zuckerberg.

Pedir Uber também está em teste

Desde a semana retrasada usuários do Uber podem solicitar viagens nas modalidades UberX e Uber Moto pelo WhatsApp em quatro cidades: Teresina (PI), São Luís (MA), Sobral (CE) e Juazeiro do Norte (CE), das 6h às 22h.

Para fazer a solicitação, os clientes devem enviar uma mensagem para o número (11) 94488-3478 e fazer o login da conta Uber no próprio WhatsApp.

O Brasil é o segundo país a testar o serviço em parceria com as duas plataformas. O sistema está em operação na Índia desde o ano passado.

Envio de dinheiro já funciona

Em 2020, o WhatsApp começou a implantar no Brasil o a transferência gratuita de dinheiro para contatos via WhatsApp junto com a opção de efetuar pagamentos a partir de cadastro de cartão de débito ou crédito

Alerta de desastre também é realidade

Neste mês, o WhatsApp lançou o serviço de alertas de desastres enviados pela Defesa Civil, válido para todo o território nacional. O Brasil é o primeiro país a ter esse tipo de alerta.

Podem vir tanto avisos do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), como do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), portanto em casos de chuvas fortes, como do CPRM (Serviço Geológico do Brasil).

O recurso não tem fins de gerar dinheiro, mas é mais um indicativo de que a plataforma quer fortalecer como mais do que troca de mensagens entre amigos, família e empresas.

O conglomerado de Zuckerberg pagou US$ 22 bilhões pelo WhatsApp em 2014, sendo a aquisição mais cara de sua história. Desde então, a companhia ainda não encontrou uma forma consistente de lucrar mais do que o esperado com o serviço de conversas.

A plataforma rendeu US$ 218 milhões no último trimestre, de acordo com o site especializado Insider, valor considerado baixo, considerando US$ 29 bilhões em receitas totais.

O Brasil é um dos maiores mercados do aplicativo. Logo, é estratégico que funcionalidades com potencial de monetizar e gerar renda para o grupo comecem a ser testadas por aqui.

Para o professor Angelo Zanini, coordenador dos cursos de pós-graduação nas áreas de TI do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), essa popularização do WhatsApp no país é o que faz dele um ótimo candidato a se tornar um superapp. "A tendência é diminuir o número de apps no celular e convergir os serviços para poucos aplicativos, os mais populares."

E isso pode salvar a Meta da crise?

A Meta já perdeu cerca de US$ 230 bilhões em valor de mercado no começo do ano, vem fazendo demissões em massa e sendo alvo de críticas sobre a obsessão de de Zuckerberg na construção do metaverso.

Se a tentativa de tornar o WhatsApp em um superapp for bem-sucedida, o comércio através do aplicativo poderá fornecer um novo fluxo de receita, dando novo fôlego à empresa. Para base de comparação, o WeChat na China tem 820,2 milhões de usuários e sua economia de miniprograma foi avaliada no ano passado em US$ 240 bilhões, com 450 milhões de usuários realizando transações por meio do programa.

Contudo, para Arthur Igreja, especialista em Tecnologia e Inovação, esperar que o WhatsApp vire logo um superapp ainda é um pouco audacioso.

"Com mais de dois bilhões de usuários em mais de 180 países, é inegável a potencialidade do WhatsApp. Ao mesmo tempo que o app está ganhando uma série de funcionalidades, ele também não teve tanta adesão em algumas delas como o recurso de transferência de valores entre usuários, por exemplo", afirma.

"Apesar de ser tão onipresente, ele continua sendo, fundamentalmente, um aplicativo de conversa. Ainda existe um caminho a ser trilhado para se tornar um app robusto", acrescenta.

*Com informações Insider