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'Nos confundem com garçom': afinal, entregador deve subir até apartamento?

Entregadores do iFood fizeram recentes buzinaços em Brasília - Leonidas Santana/Getty Images
Entregadores do iFood fizeram recentes buzinaços em Brasília Imagem: Leonidas Santana/Getty Images

Abinoan Santiago

Colaboração para Tilt, em Florianópolis

13/12/2022 16h07Atualizada em 13/12/2022 19h13

Motoboy há sete anos, Alessandro da Conceição, 29, sai de casa antes das 11h para fazer entregas de comida por aplicativo e retorna perto das 23h, em Brasília. Mas nos últimos dias precisou parar as corridas por duas vezes para participar de protestos envolvendo a polêmica em torno da obrigatoriedade ou não dos entregadores em subir até o apartamento para deixar a encomenda.

"Confundem a gente com garçom. Os clientes acreditam que é dever nosso levar até a porta do apartamento. Devemos entregar até a portaria, o que é até mais seguro, pois nunca sabemos quem vai nos receber e precisamos deixar a moto na rua com risco de ser levada. Da mesma forma, é mais seguro ao cliente porque não se sabe quem é o entregador", afirma Alessandro a Tilt.

O profissional encabeça em Brasília a Amae-DF (Autônomos e Entregadores do Distrito Federal), que reúne cerca de 50 mil motoboys em Brasília. Eles realizaram dois recentes "buzinaços" contra clientes que humilharam entregadores durante o trabalho pelo aplicativo iFood.

O primeiro aconteceu em 4 de dezembro, quando um médico filmou o motoboy e o hostilizou após a recusa do trabalhador em subir até o apartamento, na Asa Sul. Pelo mesmo motivo, entregadores protestaram em frente a um condomínio em Cruzeiro, no domingo (11).

Em ambos os casos, os clientes teriam tomado a comida das mãos dos motoboys. "Essas situações indignaram muito a gente e estão cada vez mais frequentes".

Os clientes estão mal acostumados. Não compensa mais para gente ficar agradando porque atrasa muito as nossas entregas e diminui nossos ganhos. Quanto mais gastamos tempo nos horários de picos, menos entregas. Alessandro da Conceição, entregador em Brasília.

Alessandro da Conceição, 29, atua como entregador em Brasília - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Alessandro da Conceição, 29, atua como entregador em Brasília
Imagem: Arquivo Pessoal

O motoboy diz que os "buzinaços" foram uma forma de chamar atenção dos clientes e do próprio iFood, pois a subida até o apartamento não otimiza tempo e atrasa outras entregas da mesma viagem.

"Tem momentos em que o aplicativo chama uma viagem com três entregas, o que vai acabar atrasando se a gente subir. Os clientes não entendem nossa situação e acabam sendo ignorantes e nos xingam", concluiu.

Quem está certo: o entregador ou o cliente?

Em seu site, o iFood informa que o motoboy não é obrigado a subir. A plataforma afirma que "isso não só agiliza a entrega em si como demonstra respeito ao trabalho do entregador ou da entregadora, que só pode fazer a seguinte entrega depois de finalizar aquela".

A orientação é reforçada por Leonardo Fabricio, coordenador sênior de branding e valorização do entregador no iFood: "Não existe obrigatoriedade de o entregador subir nos apartamentos, mas recomendamos que os clientes desçam para receber o pedido."

O advogado Marco Antonio de Araujo Junior, especialista em Direito do Consumidor e sócio fundador do Meu Curso Educacional, diz que o Código do Consumidor não tem dispositivo que obrigue o entregador a deixar a comida na porta do apartamento, mas ressalta que isso deve ser deixado claro ao cliente.

"Deixando claro que o consumidor deve se dirigir à portaria para receber a encomenda, cabe ao consumidor contratar ou não com a empresa, dentro das regras propostas. O consumidor que não concordar tem a liberdade de não contratar a empresa", finalizou.