Caiu na net: mulher teve foto íntima no banheiro vazada por robô aspirador
A foto de uma mulher usando o vaso sanitário em sua casa feita, por um robô aspirador de pó da iRobot, foi divulgada nas redes sociais depois que o equipamento fez o registro e o processo de proteção de dados da empresa falhou. As informações são do portal MIT Technology Review, que afirmou ter tido acesso às imagens.
O vazamento dessa e de outras 14 fotos de ambientes domésticos (móveis e decoração) de pessoas que possuem o aspirador robô da iRobot aconteceu no final de 2020. Na ocasião, um grupo de funcionários de outra empresa postaram as imagens em um fórum fechado sobre tecnologia.
Segundo o portal MIT Technology Review, as imagens foram feitas por um robô aspirador da série Roomba J7 da iRobot e enviadas para a Scale AI - startup que contrata funcionários em todo o mundo para descrever dados de áudio, foto e vídeo usados para treinar Inteligência Artificial (IA).
Esses trabalhadores são responsáveis por confirmar para um computador se a rotulagem de dados feita pela IA está correta. Assim, o discernimento de um humano ou um animal ajuda o programa a "aprender" e se tornar mais eficiente.
Imagens são reais e fazem parte de pesquisa
A iRobot - o maior fornecedor mundial de aspiradores robóticos, que a Amazon adquiriu recentemente por US$ 1,7 bilhão - confirmou que as imagens vazadas foram capturadas por seu Roombas entre junho e novembro de 2020 nos Estados Unidos, Japão, França, Alemanha e Espanha.
Segundo a empresa, todas as fotos vieram de "robôs em desenvolvimento especial com modificações de hardware e software que nunca estiveram presentes nos produtos da iRobot disponíveis para venda", disse a empresa em comunicado.
Os equipamentos teriam sido dados a "coletores e funcionários pagos" que assinaram acordos por escrito reconhecendo estarem enviando dados, incluindo vídeo, de volta à empresa para fins de aprimoramento do aspirador de pó robô.
Segundo a iRobot, os dispositivos foram rotulados com um adesivo verde que dizia "gravação de vídeo em andamento" e cabia a quem tivesse com o aparelho "remover qualquer coisa que considerasse sensível de qualquer espaço em que o robô operasse, incluindo crianças".
Violação de acordo
A iRobot disse ainda que compartilhou mais de 2 milhões de imagens com a empresa Scale AI e uma quantidade desconhecida com outras plataformas de anotação de dados.
James Baussmann, porta-voz da iRobot, disse que a empresa "tomou todas as precauções para garantir que os dados pessoais sejam processados com segurança e conforme a lei" e que as imagens compartilhadas com o portal MIT Technology Review violam um acordo de não-divulgação entre a iRobot e o provedor de serviços de anotação de imagem.
Ainda segundo a iRobot, a empresa encerrou o contrato com o provedor de serviços que vazou as imagens, está investigando o assunto e tomando medidas para ajudar a evitar um vazamento semelhante por qualquer provedor de serviços no futuro". Porém, a empresa não explicou quais são essas medidas.
A companhia disse ainda que compartilhar imagens em grupos de mídia social viola os acordos da Scale com ela. A Scale diz que trabalhadores contratados que compartilham essas imagens também violaram seus próprios acordos.
Como funcionam os aspiradores robôs
Os modelos mais básicos de aspirador robô operam com sensores de objetos, enquanto os limpadores de médio porte incorporam sensores melhores e outras técnicas de navegação, como localização e mapeamento simultâneos, para encontrar seu lugar em uma sala e traçar melhores caminhos de limpeza.
Já os dispositivos de última geração usam a visão computacional - subconjunto de inteligência artificial que se aproxima da visão humana treinando algoritmos para extrair informações de imagens e vídeos e uma técnica de detecção baseada em laser usada pela Nasa, considerada a mais tecnologia de navegação precisa.
A visão computacional depende de câmeras de alta definição e dezenas de empresas incorporaram câmeras frontais em seus aspiradores de robôs para navegação e reconhecimento de objetos.
Mas, para que a visão computacional nesses equipamentos funcione como pretendido, os fabricantes precisam treiná-la em conjuntos de dados diversificados e de alta qualidade que reflitam a variedade do que eles podem ver. "A variedade do ambiente doméstico é uma tarefa muito difícil", diz Wu Erqi, diretor sênior de P&D da Roborock, com sede em Pequim.
Coletando dados
No caso da iRobot, mais de 95% de seu conjunto de dados de imagem vem de casas reais, cujos moradores são funcionários da iRobot ou voluntários recrutados por fornecedores de dados terceirizados.
As pessoas que usam dispositivos em desenvolvimento concordam em permitir que a iRobot colete dados, incluindo streams de vídeo, enquanto os dispositivos estão em execução, muitas vezes em troca de "incentivos para participação", de acordo com uma declaração da iRobot. A empresa se recusou a especificar quais eram esses incentivos, dizendo apenas que eles variavam "com base na duração e na complexidade da coleta de dados".
A iRobot também começou a oferecer aos consumidores a oportunidade de optar por contribuir com dados de treinamento por meio de seu aplicativo, onde as pessoas podem optar por enviar imagens específicas de obstáculos aos servidores da empresa para melhorar seus algoritmos. A iRobot diz que se um cliente participar desse treinamento "user-in-the-loop", como é conhecido, a empresa recebe apenas essas imagens específicas e nenhuma outra.
Invasão de privacidade
Os dados coletados pelos aspiradores de robôs podem ser bastante invasivos, segundo especialistas. Eles são usados para construir robôs mais inteligentes cujo propósito pode um dia ir muito além de aspirar. Mas, para tornar esses conjuntos de dados úteis para o aprendizado de máquina, os humanos devem primeiro visualizar, categorizar, rotular e adicionar contexto a cada bit de dados - processo chamado de anotação de dados (isso inclui uma pessoa ver todo o interior da sua casa e até mesmo sua rotina).
A iRobot diz que compartilha apenas um subconjunto de imagens de treinamento com parceiros de anotação de dados, sinaliza qualquer imagem com informações confidenciais e notifica o diretor de privacidade da empresa se informações confidenciais forem detectadas. O porta-voz da empresa classificou o vazamento de imagens recente como situação "rara".
"Quando uma imagem em que um usuário está em uma posição comprometedora, incluindo nudez, nudez parcial ou interação sexual, ela é excluída - além de todas as outras imagens desse registro". Mas ele não explicou se essa sinalização é feita automaticamente por algoritmo ou manualmente por uma pessoa, ou por que isso não aconteceu no caso da imagem vazada em que uma mulher aparece no banheiro.
Surpresa: você pode ter concordado com isso
A iRobot disse ao MIT Technology Review que implementou medidas de proteção de privacidade e segurança nos dispositivos de seus clientes, incluindo o uso de criptografia, correção regular de vulnerabilidades de segurança, limitação e monitoramento do acesso interno de funcionários às informações e fornecimento de clientes com informações detalhadas sobre os dados que ele coleta.
Mas existe uma grande lacuna entre como as empresas falam sobre privacidade e como os consumidores a entendem.
"Muitas políticas de privacidade dirão: 'nos reservamos o direito de compartilhar seus dados com parceiros ou provedores de serviços selecionados'", diz Brookman. Isso significa que os consumidores provavelmente concordam em ter seus dados compartilhados com outras empresas, estejam eles familiarizados com elas ou não.
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