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Como a cidade de Veneza, erguida sobre as águas, foi construída?

O Grande Canal de Veneza: marco turístico da Europa - adisa/Getty Images/iStockphoto
O Grande Canal de Veneza: marco turístico da Europa Imagem: adisa/Getty Images/iStockphoto

Colaboração para o UOL, de São Paulo

28/12/2022 04h00

Conhecida pelo seu romantismo e por ser praticamente um museu a céu aberto, Veneza é um dos destinos turísticos mais populares da Europa. Quem nunca sonhou em passear por seus inúmeros canais a bordo das famosas gôndolas e visitar as famosas praças e pontes do local?

A história de Veneza começou por volta do ano 450 d.C., quando habitantes da região de Veneto, no nordeste italiano, começaram a ocupar um conjunto de mais de cem pequenas ilhas localizadas em uma grande lagoa com mais de 170 canais, à beira do mar Adriático. Seu objetivo era se proteger dos bárbaros, que vinham tomando conta da Europa e eventualmente derrubariam o Império Romano.

Por sua localização estratégica entre Oriente e Ocidente, com o tempo Veneza se tornou uma potência mercantil e naval, com uma das maiores frotas de navios da Europa a partir do século 10.

A cidade era ponto de entrada de sedas e especiarias vindas de países do Oriente para a Europa. Até hoje, os barcos são o principal meio de transporte que liga as diversas ilhotas, que são conhecidas como os bairros da cidade.

Essa importância comercial só foi abalada muito tempo depois, quando uma nova rota para o Oriente, contornando a África, foi descoberta pelos portugueses. Em 1797, a cidade foi conquistada por Napoleão; em 1866, passou a ser território italiano.

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Os canais de Veneza são atração na cidade: resultado de aterros
Imagem: Jan Sandvik / EyeEm/Getty Images

Quando as ilhotas foram completamente ocupadas, a cidade se espalhou sobre as águas. Casas foram erguidas em aterros de áreas alagadas que criaram, inclusive, novas ilhas. Os aterros se popularizaram tanto que muitos canais deixaram de existir ou foram se estreitando.

No início, as construções eram feitas em madeira. Séculos mais tarde, pedras passaram a ser utilizadas nas casas e também para proteger as margens dos canais da água. Já as famosas pontes surgiram muito tempo depois. As primeiras foram construídas apenas no século 10; hoje, Veneza contabiliza mais de 400.

A famosa ponte do Rialto, uma das quatro existentes no Grande Canal e a mais antiga e famosa da cidade, teve sua última versão, feita de rochas, pronta apenas em 1591.

Embora a cidade seja conhecida mundialmente justamente por seus aterros, essa característica não é única apenas em Veneza.

O aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, por exemplo, também segue a mesma lógica de expansão. Dubai é outro exemplo.

O crescimento desordenado e a grande quantidade de aterros são alguns dos fatores responsáveis pelas recorrentes enchentes que os moradores enfrentam todos os anos.

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Turistas passeiam em gôndola em Veneza
Imagem: FABRIZIO BENSCH

Nos últimos cem anos, a cidade afundou cerca de 20 centímetros por causa da elevação do nível das águas, da compressão natural do solo e da estrutura da cidade. Basta a maré subir um pouco ou uma forte chuva atingir a região (bastante comuns no inverno), para que muitos locais fiquem alagados, inclusive a famosa praça San Marco, ponto obrigatório dos turistas.

Para tentar conter as inundações, foi criado um projeto chamado Mose. Trata-se de um conjunto de mais de 70 barreiras instaladas no fundo do mar e que circundam a cidade, cada uma pesando 200 toneladas.

Quando o aumento do nível da água do mar for superior a 110 centímetros, esses tanques de água recebem uma injeção de ar comprimido para que possam emergir do fundo do mar e formar uma espécie de barreira para conter a água e evitar as inundações.

As barreiras funcionam como portas fechadas na horizontal no fundo do mar. Quando acionadas, a água que está dentro delas dá lugar a ar comprimido que, por ser mais leve que a água, faz com que elas subam.

Os diques devem ficar submersos principalmente para não poluir o visual da cidade e atrapalhar a movimentação dos barcos. Em outros locais, como Nova Orleans, nos Estados Unidos, existem barreiras parecidas, mas, ao contrário de Veneza, elas não se movem.

Fonte: Fabricio Tardivo, engenheiro civil.