Topo

'Almofada espacial' dá pistas de como proteger a Terra de asteroides

Representação de como é um asteroide "pilha de entulho", como o Itokawa - Divulgação/ Universidade Curtin
Representação de como é um asteroide "pilha de entulho", como o Itokawa Imagem: Divulgação/ Universidade Curtin

Simone Machado

Colaboração para Tilt*, em São José do Rio Preto (SP)

24/01/2023 13h39Atualizada em 29/01/2023 10h25

Minúsculos pedaços do asteroide Itokawa, coletados e trazidos à Terra pela missão Hayabusa 1, da Jaxa (agência espacial japonesa), podem ajudar cientistas a encontrar formas de proteger a Terra de futuras colisões com rochas espaciais.

Três fragmentos, menores que um grão de arroz, relevaram que este asteroide é resistente a colisões, o que o torna muito difícil de ser destruído — e podem existir muitos como ele pelo espaço.

O estudo, de pesquisadores australianos, foi publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, na segunda-feira (23).

O que rolou

  • Asteroide em questão não representa ameaça; o Itokawa é relativamente pequeno, com 500 metros de comprimento, e está a a dois milhões de quilômetros da Terra.
  • Ele é classificado pelos astrônomos como "pilha de entulho" -- ou seja, composto por muitos pedaços de rochas espaciais, mantidos juntos pela gravidade.
  • Mas isso não quer dizer que seja mais frágil; pelo contrário, é quase indestrutível.
  • Missão japonesa o visitou em 2005 e retornou com os fragmentos em 2010.
  • Análises mostram que eles são antigos, com mais de 4 bilhões de anos de idade, diferente de outros asteroides, formados há "apenas" milhares de anos.
  • Esta longevidade é prova de sua resistência -- e eventualmente pode ser um problema para nós.

"Um tempo de sobrevivência muito longo para um asteroide do tamanho de Itokawa é atribuído à natureza absorvente de choque de seu material", explicou Fred Jourdan, professor da Universidade Curtin e um dos autores do estudo.

"Resumindo, descobrimos que ele é como uma almofada espacial gigante, muito difícil de destruir".

Asteroides de rocha única têm uma vida estimada em algumas centenas de milhões de anos — curta, comparada com a idade do Sistema Solar (4,6 bilhões). Segundo o estudo, o Itokawa, possivelmente, foi um bloco maciço de rocha muito maior, que foi fragmentado por uma grande colisão 4,2 bilhões de anos atrás.

"Ao contrário dos asteroides monolíticos, Itokawa não é um único pedaço de rocha, ele é todo feito de pedregulhos e rochas soltas, com quase metade sendo espaço vazio", diz Jourdan.

Este espaço entre as rochas age como um amortecedor. Isso quer dizer que as constantes colisões apenas diminuem os espaços entre as rochas, em vez de quebrar o asteroide.

asteroide Bennu - NASA/Goddard/University of Arizona - NASA/Goddard/University of Arizona
Nasa também retirou amostras do asteroide Bennu, que devem chegar à Terra no final deste ano
Imagem: NASA/Goddard/University of Arizona

Como proteger a Terra?

As descobertas nos dão pistas sobre como proteger a Terra de um possível impacto no futuro. Itokawa, Ryugu, Bennu e Dimorphos — asteroides recentemente estudados por agências espaciais — são todos pilhas de entulhos.

O potencial de vida longa destes corpos indica que eles provavelmente são mais comuns do que se imagina. Sendo assim, nossa ideia mais natural de defesa planetária (simplesmente explodir ou fragmentar um asteroide que esteja em rota de colisão) não é a melhor opção.

"A boa notícia é que também podemos usar essas informações a nosso favor", acredita o coautor Nick Timms.

Como agora está provado que algumas rochas espaciais são quase indestrutíveis, parece mais adequada a tática de desviá-las da rota — como recentemente foi feito com o asteroide Dimorphos, na bem-sucedida missão Dart, da Nasa.

"Se um asteroide for detectado tarde demais para um impulso cinético, podemos usar uma abordagem mais agressiva, como a onda de choque de uma explosão nuclear para empurrá-lo para fora de curso sem destruí-lo", explica.

*Com informações de CNET e Science Alert.