'Faz uma semana que choro': os bastidores das demissões da Amazon no Brasil
Em busca de recolocação no mercado de trabalho, Danilo* quase não acreditou quando recebeu uma proposta para trabalhar na Amazon, em abril de 2022. O modelo híbrido parecia se encaixar perfeitamente na sua vida — já que tinha uma filha pequena.
Nove meses depois, o sonho de trabalhar na multinacional e integrar a equipe de suporte ao cliente se tornou um pesadelo. O profissional está na lista de 18 mil funcionários da Amazon que serão demitidos, no maior corte em massa da história da empresa.
"É uma grande empresa, de um setor que está muito em evidência. Sempre é um sonho trabalhar em um lugar assim. Lá as pessoas eram maravilhosas, a empresa tinha uma política também de inclusão, aceitação e respeito que tornam o lugar muito bom", lembra.
Demissão por email
Danilo conta a Tilt que o medo da demissão começou no fim de 2022. Na época, a mídia internacional divulgou um suposto vazamento de informação de que haveria um corte em massa de colaboradores na Amazon.
"Ficamos preocupados com os boatos, mas não imaginávamos que realmente [os desligamentos] iriam acontecer. Em nenhum momento a empresa nos informou estar passando por problemas, nem nada. Tudo o que sabíamos eram informações de meios externos", acrescenta.
Ao chegar para trabalhar na semana passada, veio o baque: havia um email informando que ele havia sido demitido.
"Cheguei para trabalhar normalmente. Ao abrir meu email vi que havia um comunicado dizendo que eu estava sendo desligado e quais eram os meus direitos rescisórios. Simples assim, sem nenhuma conversa com o RH ou gestores", detalha. "Foi uma decepção, porque a gente fica sem entender, sem saber o que pensar".
Ainda segundo o ex-funcionário, no prédio em que ele trabalhava, em São Paulo, cerca de cem pessoas foram demitidas da mesma maneira. Algumas ele diz que ficaram sabendo das demissões através do Twitter e de grupos de WhatsApp.
"As equipes não entravam todas no mesmo horário, então os que chegaram primeiro viram o email e já jogaram nos grupos e na internet sobre a demissão em massa. Assim, os que entravam mais tarde já sabiam que provavelmente também seriam desligados. Tiveram alguns que o crachá nem passou na portaria de acesso", relembra Danilo.
"Ainda choro quando penso"
Felipe* também foi demitido pela Amazon na semana passada, em uma reunião com seu então gestor: "ele fez meu desligamento presencialmente. Me ofereceram um pacote de benefícios para que a gente 'ficasse tranquilo', como ele [o chefe] disse. Mas nada supera o susto e o choque de ser demitido."
O argumento dado a Felipe foi o de redução de gastos — ele preferiu que a matéria não divulgasse o local em que trabalhava na Amazon.
"Já havia informações na mídia internacional de que haveria uma demissão em massa. Mas, aqui para a gente, os gestores venderam uma ilusão de que a empresa estava muito bem no país, em crescimento, e que não iria ser impactada. Por isso acreditamos que os cortes não nos atingiriam. Seguimos trabalhando tranquilos", afirma.
O profissional deixou o emprego anterior para trabalhar na Amazon há quase dois anos. Naquele momento, o salário acima da média das demais empresas e a possibilidade de crescimento pareciam uma proposta irrecusável.
"Ganhava em torno de R$ 11 mil enquanto as demais empresas oferecem cerca de R$ 8 mil. Foi uma diferença que me atraiu. Fora isso eles exigiam diversas competências para a vaga, como ser bilíngue, e eu via que ali, por ser uma multinacional, eu poderia me desenvolver e crescer na minha área", conta.
No pacote de benefícios diante da demissão, segundo o ex-funcionário, estão ajuda de recolocação e um bônus extra, ambos em dinheiro, além dos direitos trabalhistas garantidos na lei brasileira, como multa por rescisão de trabalho sem aviso.
"É uma incerteza porque você não sabe quanto tempo vai demorar para se recolocar no mercado de trabalho. O valor que eles oferecem não compensa as noites de insônia e as crises de ansiedade. Faz uma semana que fui demitido e ainda choro quando penso nisso", diz.
A Amazon foi procurada pela reportagem, mas a empresa não enviou seu posicionamento até a publicação da matéria. O texto será atualizado caso a companhia envie sua resposta.
18 mil demitidos
Na primeira semana de janeiro, a Amazon anunciou a sua maior demissão em massa da história, com o corte de 18 mil funcionários em diversas partes do mundo e em todos os setores, incluindo as divisões de varejo e de recursos humanos.
Os desligamentos equivalem a uma pequena fração (cerca de 1,2%) de toda a força de trabalho da gigante do varejo online, que atribuiu a decisão dos cortes a uma "economia incerta" e ao fato de ter contratado muito rapidamente durante a pandemia.
Calcula-se que companhia já tenha registrado 1,5 milhão de funcionários em todo o mundo.
"A revisão deste ano foi mais difícil devido à economia incerta e ao fato de termos contratado rapidamente nos últimos anos. Em novembro, comunicamos a difícil decisão de eliminar vários cargos em nossos negócios de Dispositivos e Livros e também anunciamos uma oferta de redução voluntária para alguns funcionários em nossa organização de Pessoas, Experiência e Tecnologia (PXT)", afirmou Andy Jassy, CEO da gigante americana, em comunicado aos funcionários.
*Os nomes dos entrevistados foram trocados a pedido deles.
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