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Deepfake: rostos criados por IA parecem mais reais que de gente de verdade

Stamedia/iStock
Imagem: Stamedia/iStock

Felipe Mendes

Colaboração para Tilt*, em São Paulo

30/01/2023 17h43Atualizada em 30/01/2023 17h43

Você consegue identificar as diferenças entre um rosto criado via Inteligência Artificial (IA) e um rosto de uma pessoa de verdade?

Muitas pessoas podem responder rapidamente que sim, mas uma pesquisa publicada na iScience mostrou que a maioria das pessoas tem achado os rostos artificiais mais reais que os dos próprios seres humanos.

Quer fazer um teste? A imagem abaixo, publicada no site The Conversation pelos mesmos criadores da pesquisa, mostra apenas um rosto verdadeiro em meio a vários criados por meio de IA.

Você consegue distinguir qual o rosto de uma pessoa real em meio a tantos falsos? (A resposta está no final do texto).

Um destes rostos não foi gerado por inteligência artificial. Você consegue identificar qual? - Nvidia/The Conversation - Nvidia/The Conversation
Um destes rostos não foi gerado por inteligência artificial. Você consegue identificar qual?
Imagem: Nvidia/The Conversation

Ficou em dúvida? Calma, até mesmo as autoridades acabam tendo problemas em identificar. As deepfakes estão se tornando cada vez mais recorrentes e até mesmo autoridades dos Estados Unidos acabaram enganadas em um caso recente.

De acordo com a Associated Press, um perfil criado com deepfake no LinkedIn conseguiu se conectar com diversos nomes da política norte-americana, incluindo um assessor sênior de um senador e o economista Paul Winfree, que estava sendo considerado para uma vaga no Federal Reserve (o Banco Central americano).

Além disso, um oficial aposentado da CIA foi condenado a 20 anos de prisão por passar detalhes de operações secretas realizadas em Pequim, na China, a um agente chinês que se passava por um recrutador e o contatou por meio do LinkedIn.

As deepfakes passaram a se tornar perigosas e começaram a ser utilizadas não apenas para ações de marketing, mas também para propaganda política, espionagem e guerra de informações, na avaliação de um especialista ao The Conversation.

"A próxima fronteira para esta área deve ser algoritmos aprimorados para detectar rostos digitais falsos. Estes poderiam então ser incorporados em plataformas de mídia social para nos ajudar a distinguir o real do falso quando se trata de rostos de novas conexões", afirmou Manos Tsakris, professor de Psicologia e Diretor do Centre for the Politics of Feelings, na Universidade de Londres.

Como é feito?

Fazer uma deepfake tão perfeita exige uma "rede neural profunda", um sistema de computador capaz de imitar a maneira como nosso cérebro aprende. Essa rede é treinada com uma ampla exposição de imagens de rostos de pessoas reais.

Após isso, os cientistas de dados utilizam uma GAN (Redes Adversárias Gerativas, na tradução literal). Nesse caso, duas redes neurais são colocadas para competirem entre si com o objetivo de produzir as imagens mais realistas possíveis. O resultado disso é chamado de imagem GAN e gera imagens estatisticamente indistinguíveis das imagens reais utilizadas para o treinamento das redes neurais.

No artigo publicado no The Conversation, Manos Tsakiris afirmou que os especialistas conseguirem encontrar uma ligação interessante entre os rostos criados artificialmente e aquilo que as pessoas acreditam hoje ser uma pessoa atraente. Segundo ele, rostos classificados nas pesquisas como menos atraentes também foram julgados como mais reais pelas pessoas.

Isso ocorre, de acordo com o professor da Universidade de Londres, porque as faces menos atraentes são vistas como mais comuns e os rostos GAN com essas características acabam se assemelhando mais aos modelos mentais que as pessoas construíram na vida cotidiana.

No estudo publicado na iScience, Mano Tsakiris e os pesquisadores também chegaram à conclusão de que a dificuldade em conseguir distinguir os rostos artificiais de reais está diretamente ligado ao comportamento online das pessoas.

A pesquisa ainda sugere que não conseguir distinguir as imagens falsas pode corroer a confiança em outras pessoas e deve mudar a profundamente a forma que os usuários se comunicam no mundo online daqui para frente.

O rosto real está na segunda coluna à esquerda, no quarto quadrado no sentido de cima para baixo.

(*) Com informações do The Conversation e Associated Press