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Seu cachorro é agressivo? Você é um dos motivos, diz pesquisa brasileira

Imagem: iStock

Rosália Vasconcelos

Colaboração para Tilt, do Recife

30/01/2023 10h56

Contrariando o senso comum, um cachorro de uma raça considerada mais agressiva, como um pitbull, pode ser muito mais dócil e amoroso do que o de um pug, por exemplo. O que explica isso?

Este inesperado comportamento dos cães, para além das suas raças, foi alvo de uma pesquisa de cientistas do Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo), publicada na revista Applied Animal Behaviour Science e divulgada em diversos veículos internacionais.

Eles descobriram que a agressividade pode estar diretamente relacionada ao contexto social do animal, ou seja, a forma com que ele e seu tutor se relacionam, e também a suas características físicas. Foram analisados 665 cães de lares brasileiros para chegar aos resultados, por exemplo:

  • Cães pequenos e os que passam muito tempo fora de casa têm maior tendência a serem agressivos
  • Fêmeas e cachorros que brincam mais com os seus tutores apresentam um comportamento mais dócil
  • 73% dos cães que participaram da pesquisa e são tutelados por mulheres e demonstraram menor agressividade com estranhos

"O ambiente e a relação dono-animal de estimação, bem como a morfologia, são fatores que influenciam como os animais de estimação interagem conosco e como interagimos com eles", ressalta a autora Briseida Resende. Também participaram os pesquisadores Flávio Ayrosa, Carine Savalli e Natália Albuquerque.

Segundo Ayrosa, muitos estudos mais antigos relacionavam a violência à raça. Mas eles queriam demonstrar que as características físicas dos cães, o ambiente e a relação com tutores estão relacionados a comportamentos agressivos.

Utilizando questionários junto aos tutores dos animais, eles encontraram algumas associações. Fatores que podem diminuir a hostilidade:

  • Brincar;
  • Passear regularmente;
  • Ter um nível de treinamento mais avançado.

Características que contribuem para o comportamento agressivo:

  • Cães com focinhos curtos e achatados (raças braquicefálicas, como pug, shih tzu e buldogue francês) são 79% mais propensos a demonstrar agressividade;
  • Quanto menor a altura e o peso, maior o comportamento "indesejável" (decorrência do medo, da hiperatividade ou pela necessidade de atenção);
  • Cachorros mais jovens também tendem a ser mais agressivos.

"Encontramos relações, mas é impossível dizer o que vem primeiro. No caso do fator 'passear com o cachorro', por exemplo, pode ser que as pessoas passeassem menos com o cachorro porque o animal era agressivo, ou o cachorro pode ter se tornado agressivo porque o dono não passeou o suficiente", diz Ayrosa.

Em abril do ano passado, a revista Science divulgou uma pesquisa realizada pela Universidade de Umass Chan, pelo instituto Broad e pela Universidade Harvard, que seguiu pelo mesmo caminho: raça e comportamento não estão necessariamente vinculados, ainda que a genética desempenha um papel importante na personalidade dos cães.

Ambos estudos ressaltam que a agressividade é um comportamento natural contra ameaça, dor ou sentimentos de estresse e preocupação — uma forma de comunicação dos seres vivos.

A agressividade canina é compreendida, dentro da ciência, como uma "tendência do cão de agir de forma ameaçadora, com pelos e cauda erguidos, dentes à mostra, postura corporal elevada, rosnar e agir de forma agressiva, atacando ou mordendo".

"Em vez de determinar a agressão a um único fator comum às espécies ou raças específicas, nossos resultados reforçam como o comportamento individual, combinado com a genética, fisiologia, experiências de vida e contextos ambientais únicos dos cães, interagem ao longo do desenvolvimento para produzir os padrões de expressão observados", diz o estudo da USP.

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