Este comedouro inteligente dedurou quanto meu gato come no dia
Alimentadores automáticos para gatos e cachorros costumam ser sinônimo de um grande reservatório de ração. Mas não é este o objetivo do SureFeed Connect, da PetCare. O modelo é um pequeno comedouro inteligente, que detecta qual animal está se alimentando e mostra precisamente quanto e quando ele comeu.
Achei a promessa interessante já que sou uma "gateira". Depois de umas três semanas testando o produto, pude ter informações personalizadas da rotina alimentar do Felix e acessá-las mesmo sem estar em casa.
Basicamente, o SureFeed Connect é uma tigela de ração com diversos sensores e uma tampa, que só abre para um animal que estiver cadastrado. Assim, também é possível limitar qual tem acesso ao alimento e impedir que um roube a comida do outro — e até que uma criança pequena coma a ração dos bichos.
Sendo assim, acredito que o dispositivo seja prático para quem tem:
- Dois ou mais animais em casa (da mesma espécie ou gatos e cachorros juntos).
- Pets com alimentações específicas (como rações medicamentosas, para bebês ou idosos).
- Pets fazendo controle de peso (devem comer determinada quantidade por dia).
Pela minha experiência
Prós
- Mostra exatamente quanto/quando seus animais estão comendo.
- Impede que um pet coma a ração do outro.
- Conserva o alimento úmido ("sachê").
Contras
- Preço alto.
- Capacidade pequena para a ração.
- Posição pouco ergonômica para animais maiores.
- Melhor para pets com microchip (que ainda não é disseminado no Brasil).
Como funciona
O SureFeed identifica qual o animal que está à sua frente, através de um microchip.
Aqui no Brasil, nem todos os gatos e cachorros têm obrigatoriamente o dispositivo implantado sob a pele. Por isso, para os que não têm, a opção é colocar uma tag RFID (de identificação por radiofrequência) na coleira (uma vem inclusa na caixa e é possível adquirir outras separadamente).
Este foi justamente meu primeiro desafio. O Felix é um gato de apartamento, que nunca sai, por isso não usa coleira — e a odeia, o que me custou algumas reclamações e mordidas.
Superado isso, o próximo passo foi ensiná-lo como o estranho aparelho funciona.
Gatos são naturalmente curiosos, e em um dia ele já pegou o jeito — mas alguns animais podem demorar mais ou se assustar com a porta abrindo e fechando.
Por isso, há um modo de treinamento gradativo que pode ser ativado. É fácil cadastrar o animal:
- Instale a tag na coleira (caso ele não tenha microchip);
- Aperte o botão de incluir (uma carinha de gato com um +) na traseira do comedouro;
- Abra a portinha (há um botão para isso também);
- Espere que ele se alimente pela primeira vez -- pode usar alguns petiscos para atraí-lo;
- Pronto. O aparelho acenderá uma luz verde indicativa de que o pet está cadastrado.
Depois disso, é bem simples: quando este animal se aproxima, a portinha se abre; quando sai, ela fecha. Uma moldura por cima impede que outras cabeças invasoras tentem comer junto.
Uma balança embutida pesa a ração que foi colocada e que é consumida a cada visita, com precisão de gramas, e informa detalhes por meio de um aplicativo.
Sempre que for abastecer as tigelas, é preciso "zerar" a balança; luzes indicativas mostram se você botou a quantidade definida (são 8 luzes de cada lado, que acendem gradativamente conforme a ração é colocada).
Detalhe importante: para funcionar, o aparelho usa quatro pilhas tipo C, que duram seis meses, segundo o fabricante.
Capacidade para a ração limitada
É possível cadastrar até 32 bichos diferentes. Mas ressalto que o pote é pequeno, com capacidade de 400 ml — dá para um ou dois animais passarem um dia com esta quantidade. É bom para quem sai para trabalhar ou passa a noite fora; não rola ir viajar.
Além do mais, ele é adequado apenas para animais pequenos (gatos ou cachorros de porte menor), não só pela quantidade limitada de ração, mas pelo espaço onde deve passar a cabeça.
O Felix é grande e já ficou desconfortável, pois tem de ficar bem abaixado, com as patinhas dobradas, para acessar. Isso não é bom para um gato — o ideal são potes elevados, para que possa comer "de pé", melhorando a digestão e sem forçar as articulações.
Além disso, os bigodinhos dele encostam no pote (além do desconforto, pode causar acne felina) e, às vezes, a tag da coleira fica batendo na estrutura.
Sachê
Apesar da posição não ser ideal, um benefício para nós foi que, por ser um pratinho e não um reservatório, o comedouro também aceita alimento úmido — o popular "sachê".
O kit vem com uma tigela inteiriça (para apenas um tipo de ração) e outra dividida em duas (para colocar metade seca e metade úmida, por exemplo, que foi a minha escolha).
Achei isso especialmente interessante para deixar uma quantidade maior de alimento úmido à disposição enquanto não estou — ele adora e faz bem. Como tem tampa, a comida fica protegida e demora mais para estragar; não junta insetos e reduz o cheiro pela casa.
Assim, consegui garantir que o Felix tivesse uma alimentação mais balanceada durante o dia todo. Em geral, ele come muito pouco se não estou, pois só fica a ração seca, e mais do que deveria quando chego e posso atender aos pedidos desesperados de sachê. Com o comedouro, isso ficou mais equilibrado.
Antiladrões
Mas o uso mais interessante é mesmo o de separação de alimentos, para animais com condições especiais ou em fases da vida diferentes.
Por exemplo, na casa dos meus pais temos uma gata idosa, que é bem pequena e faz uma dieta renal. Não há o problema de ela comer a ração dos outros gatos, pois já está acostumada com a própria, mas sim dos seus amigos comerem a renal (que não é adequada para um jovem saudável, mas pelo jeito é deliciosa — e caríssima).
O mesmo vale para quem tem cachorros e gatos juntos — cães costumam ser mais "ladrões" e comer ração de gato, que tem mais proteína e pode fazer mal.
Veja um vídeo de apresentação do produto:
Integração com aplicativo
Para ter a experiência realmente inteligente, é necessário um hub (vendido separadamente ou em um kit promocional com o comedouro), que permite a conexão com a internet e integração com o aplicativo.
Ele é fofo, uma cabeçinha de gato com as orelhas iluminadas (se estiver tudo ok, a luz é verde; quando não está conectado, pisca vermelho). Do tamanho de um Echo Dot (dispositivo da Amazon com a assistente de voz Alexa), deve ser conectado ao roteador por um cabo de rede e ligado na tomada.
Depois, basta baixar o app Sure Petcare (para Android ou iOS), cadastrar o hub e incluir o comedouro. Dá para conectar até 10 produtos da marca (alimentadores SureFeed; portinhas SureFlap, para gatos entrarem e saírem; ou coleiras Animo, de monitoramento para cachorro, que já testamos).
Nele, é preciso colocar as informações de cada pet (espécie, nome, idade, peso etc) e definir o tamanho exato da porção de alimento.
Você recebe notificações no celular sempre que há uma atividade — e assim consegue monitorar os animais quando não está em casa, mesmo sem vê-los.
Isso também é interessante para, de alguma forma, fazer um controle do bem-estar e saúde de cada pet — alterações alimentares podem significar alterações no organismo. Por exemplo, se o animal comer muito menos que o normal por alguns dias seguidos, vale uma visita ao veterinário.
Sem o hub, o comedouro funciona normalmente, identificando o animal e abrindo a tampa, mas sem todos os dados informados pelo app (como horário exato da alimentação e gramatura de ração consumida).
Vale a pena?
É um produto interessante para quem tem mais animais, de diferentes espécies ou com necessidades específicas de alimentação, e passa certo tempo fora de casa. Melhor se eles tiverem microchip implantado.
No meu caso, com apenas um gato, é legal para ver as estatísticas e me certificar que ele está comendo bem. Mas não valeria o investimento ou o stress do Felix (usar coleira e se abaixar para comer toda vez).
O SureFeed Connect custa R$ 1.499 e o Hub R$ 1.099; o kit com os dois sai por R$ 2.599. Um par de tags avulsas é R$ 65. Tudo é vendido exclusivamente na Petlove. É um investimento bem alto.
Para quem estiver buscando apenas um alimentador automático com reservatório grande, a Xiaomi tem uma opção mais em conta, que já testamos: com este valor, dá para comprar o comedouro e o bebedouro.
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