Regra de senhas da Netflix gera confusão por erro ao identificar usuários
A Netflix vem tendo problemas com seus usuários da Espanha após a decisão — mundial — de limitar o compartilhamento de senhas. Desde a semana passada, a plataforma implantou a nova regra e ativou por lá seu mecanismo para acabar com o uso de uma mesma senha por pessoas que não moram no mesmo local.
O problema, contudo, é que a Netflix não está conseguindo localizar com precisão aqueles usuários que aceitaram pagar a taxa extra imposta para continuar compartilhando seus perfis. As informações são do site local El Confidencial.
Segundo alguns usuários: quando eles foram confirmar a localização principal, etapa que a plataforma pede para fazer na televisão da casa, ou quando foram verificar a última seção de conexões do aplicativo, descobriram que o endereço IP os colocou em uma localização muito distante da real dentro do sistema da Netflix.
O dado deveria ser usado para identificar o local exato em que os assinantes estão.
As dúvidas não demoraram a surgir. Alguns deduziram que, se aceitarem essa localização errada sugerida pela plataforma, a empresa logo bloqueará sua conta ou negará o acesso.
A confusão fez com que usuários na Espanha questionassem se a Netflix pode realmente saber ou não a localização de cada um dos seus assinantes.
Problemas com o IP
O IP é o código que identifica um aparelho ou uma rede conectada à internet.
Segundo especialistas, o erro está em entender o IP público do roteador como um indicador confiável de geolocalização da pessoa em questão.
O IP é usado, por exemplo, pelos bancos para verificar de qual país ou cidade a conexão está sendo feita, e alertar o cliente em caso de acesso fraudulento.
Ele é usado pelas próprias plataformas de streaming para saber de qual local os usuários estão conectados. E, assim, sugerir os títulos que eles possuem direitos de transmissão naquele determinado país, por exemplo.
O problema é que, se você quer ser bem preciso na localização, usar apenas o IP fica complicado. Uma coisa é saber que alguém acessou a plataforma estando na Espanha. Outra coisa é saber o endereço exato.
"A questão é que não há registro oficial da localização do IP. O mais próximo que existe na Europa é o RIPE, um registro regional onde os operadores de internet registram os blocos de endereços que eles têm atribuído. E acessando lá você pode saber quem é o dono ou o país em questão", diz Joshua Llorach, especialista em telecomunicações e gerente do fórum BandaAncha.eu.
"A única pessoa que conhece a relação entre o IP e o endereço do cliente e sua localização é a operadora de comunicação que atribui o IP a você", acrescentou Teknautas Antoni Martínez Ballester, professor associado de Estudos de Ciência da Computação da Universidade Aberta da Catalunha (UOC).
Quando uma aplicação externa pretende obter uma localização dessa forma, recorre a bases de dados de geolocalização, geralmente geridas por empresas privadas. A mais conhecida delas é a MaxMind, uma empresa norte-americana e veterana do setor.
Existem companhias que usam outros dados para melhorar essas informações. Google, por exemplo, tem um sistema que dá resultados bastante precisos, porque combina várias fontes de dados, mesclando as referências GPS com os IPs que obtêm quando nos conectamos ao seus serviços.
IPs esgotados desde 2011
Os endereços IP não são infinitos. Embora um novo protocolo (chamado IPv6), que suporta muitos mais, esteja em desenvolvimento há anos, o atual protocolo de Internet (IPv4) esgotou seu último lote de endereços gratuitos, em 2011.
A escassez também deu origem a um mercado secundário, onde as empresas comercializam endereços de IPs que não estão mais em uso.
"Deve-se considerar que, quando esses pacotes de endereços são adquiridos, esses IPs já possuem coordenadas atribuídas. Se o provedor de geolocalização que você usa a Netflix não tiver as informações atualizadas, sua localização aparecerá associada às informações da antiga gestão", explica Sergio Ríos Aguilar, professor da Escola de Engenharia Informática da Universidade Politécnica de Madrid.
A prática, via de regra, é mais comum entre as empresas de telecomunicações mais novas, já que muitas nasceram quando os endereços IPv4 já estão finalizados e tiveram que conseguir obtê-los para seus negócios.
O que a Netflix pode fazer?
Questionada sobre o assunto, a Netflix não deu explicações detalhadas sobre como identifica os seus usuários.
"Se identificasse apenas com o IP, confundiria vários clientes agrupados em uma rede", diz Antoni Martínez, que aposta que no processo de confirmação é provável que outros detalhes estejam sendo fornecidos (como a porta TCP) para esse processo de localização exata de uma pessoa.
Há também o ponto que a grande maioria dos IPs na Espanha é dinâmica e não fixa, um serviço pelo qual as operadoras costumam cobrar taxa extra aos clientes que o desejam.
Além disso, nas condições de uso da Netflix, afirma-se que, se você não usar sua conta em nenhuma smartTV, não precisará realizar essa etapa.
Em vez de usar um único IP para detectar o acesso, a empresa, segundo a tese de Llorach, estaria usando algo mais amplo, como o prefixo ou a faixa do bloco de endereços IP usados pela operadora.
"Desde que eles estejam usando o IP ou intervalo mais recente, relatado por um novo dispositivo, não haverá problema, e os dispositivos que compartilham credenciais serão associados à mesma casa", disse.
E no Brasil, como vai ficar?
Desde o ano passado, a Netflix já informou que vai limitar o compartilhamento de senhas entre usuários brasileiros. Até o momento, não há mudanças no funcionamento do serviço — mas não deve demorar para isso acontecer.
Em sua página de ajuda em português, a empresa informou como vai ser, na prática, o compartilhamento de uma conta — sobretudo, entre pessoas que não moram na mesma casa.
A companhia afirma que a implementação deverá ocorrer ainda primeiro trimestre do ano.
*Com informações El Confidencial
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