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Buracos de minhoca: que atalhos os ETs usariam para chegar à Terra?

Ilustração de experimento quântico que simula o comportamento de buraco de minhoca - Caltech/Divulgação via Reuters
Ilustração de experimento quântico que simula o comportamento de buraco de minhoca Imagem: Caltech/Divulgação via Reuters

De Tilt, em São Paulo

19/02/2023 04h00

Se há ou não extraterrestres visitando o planeta Terra neste momento, não podemos afirmar. Mas, caso houvesse (há?), cabe a pergunta: como eles chegaram até aqui?

A ficção há tempos se debruça sobre o tema das viagens espaciais. A crise climática, que ameaça a humanidade com a escassez de água, energia e alimentos, fez com que cientistas começassem também a pensar na ideia de buscar um outro planeta habitável no universo.

O problema é que explorar o espaço não é fácil. Até hoje, o mais longe que conseguimos ir foi até a Lua, que é "logo ali" em termos intergalácticos. Sem tecnologia disponível para percorrer tamanhas distâncias, a solução para percorrê-las seria encontrar um atalho, ou "buraco de minhoca", como sabe quem assistiu ao filme "Interestelar" (2014), de Christopher Nolan.

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Cena do filme Interestelar
Imagem: Divulgação

O nome é esquisito, mas popular entre astrofísicos. Buracos de minhoca são formas de "dobrar o espaço-tempo" para percorrer determinada distância num intervalo menor do que seria possível no espaço-tempo plano.

Para entender como ele funcionaria, imagine um tecido esticado, como uma toalha, com dois pontos marcados em cada extremidade. Agora, imagine que um objeto pesado caia sobre o tecido. Essa queda irá provocar uma curvatura, aproximando os pontos marcados em suas extremidades (uma dobra). Se você conseguir furar o tecido com uma agulha para conectar os dois pontos, terá percorrido a distância entre eles sem precisar atravessar todo o comprimento da toalha. Eis aí a ideia do buraco de minhoca.

Verme de fruta

O nome desse mecanismo foi inspirado em pequenos vermes que fazem buracos em frutas (o termo em inglês é "worm hole", buraco de verme - ou minhoca). Um eventual viajante no espaço-tempo faria como esses bichinhos: em vez de se mover pela superfície da fruta, pegaria um atalho por meio de um túnel em seu miolo.

Os personagens de "Interestelar" percorrem um buraco de minhoca para alcançar uma galáxia distante. O filme contou com a consultoria de Kip Thorne, veterano físico americano que é um dos maiores estudiosos dos buracos de minhoca. Suas pesquisas foram supervisionadas por John Wheeler, físico que deu batizou o termo, em 1957.

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Buracos de minhoca percorrer distâncias que o telescópio James Webb consegue observar apenas de longe
Imagem: ESA, NASA, CSA, STScI / AFP

Mas, embora façam sucesso na ficção, será que os buracos de minhoca são mesmo factíveis? Pelos conceitos da Física atual, não há nada que proíba essa possibilidade. Concretizá-la, porém, são outros quinhentos. Precisaríamos de materiais com propriedades anômalas para isso, como energia negativa.

E olha que a Humanidade já criou energia negativa. Graças aos aceleradores de partículas, sabemos que é possível "fabricar" esse tipo de energia, embora por um período muito curto de tempo. Ou seja, até conseguiríamos abrir um buraco, mas não a ponto de conseguirmos atravessá-lo. Por enquanto.

Enormes ou microscópicos

Outra dificuldade é que, para causar tamanha deformidade no tecido do espaço-tempo, o objeto precisaria conter uma energia considerável. Deformidades no espaço-tempo são criadas o tempo todo pela gravidade, como ensinou Einstein.

Mas nem o Sol tem massa suficiente para dobrar esse tecido. Para haver efeitos significativos, precisaríamos de objetos muito mais massivos, como buracos negros ou estrela de nêutrons. Se essa matéria que tornaria os buracos de minhoca viáveis existe, jamais foi observada pelos cientistas.

Por isso, físicos como Stephen Hawking especulam que, se os buracos de minhoca de fato estão por aí, devem ser microscópicos, sem capacidade de produzir grandes efeitos. Buracos grandes e estáveis, de tamanho astronômico, ou não existem ou têm uma probabilidade infinitesimal de ser encontrados. Já os microscópicos seriam tão minúsculos e breves que não alterariam nada do que observamos ao varrer o espaço.

Fonte: Cássius Anderson de Melo, físico e professor da Universidade Federal de Alfenas - Campus Poços de Caldas, e da Universidade Estadual Paulista (Unesp).