Choveu dois meses em um só dia no litoral de SP; veja como medição funciona
Neste final de semana, uma chuva recorde atingiu a Baixada Santista o litoral norte de São Paulo, deixando um rastro de destruição e pelo menos 48 mortos até o momento da atualização deste texto.
Em São Sebastião, a cidade mais castigada (47 das mortes foram lá), o volume de chuva que caiu em 24 horas foi mais que o dobro do esperado para o mês de fevereiro inteiro.
De acordo com dados da Defesa Civil, entre sábado (18) e domingo (19), choveu:
- Bertioga: 683 mm (média de fevereiro: 347 mm)
- São Sebastião: 627 mm (média de fevereiro: 303 mm)
- Guarujá: 395 mm (média de fevereiro: 234 mm)
- Ilhabela: 337 mm (média de fevereiro: 303 mm)
- Ubatuba: 335 mm (média de fevereiro: 290 mm)
- Caraguatatuba: 234 mm (média de fevereiro: 287 mm)
A forte chuva começou na noite de sábado, persistiu por toda madrugada, e só amenizou pela manhã. Foi decretado estado de calamidade pública nestes municípios.
No total, há quase 2.500 pessoas fora de casa (1.730 desalojadas e 766 desabrigadas) e cerca de 50 estão desaparecidas — ainda há vítimas sob escombros de casas que desmoronaram ou foram soterradas pela lama.
A grande maioria se concentra em São Sebastião, na região da Barra do Sahy , que ficou isolada após os deslizamentos. As praias de Juquehy, Camburi e Boiçucanga também foram bastante afetadas.
De acordo com o Cemaden (Centro Nacional de Previsão de Monitoramento de Desastres Naturais), estes índices pluviométricos são os maiores já registrados no Brasil em um período tão curto. Até então, o maior acumulado da história havia sido registrado em Petrópolis (RJ), no ano passado, quando choveu 530 mm em 24 horas, matando 241 pessoas.
Mas como o nível de chuva é medido?
Órgãos como a Defesa Civil, o Cemaden e o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), possuem estações de monitoramento de clima espalhadas pelo território brasileiro, principalmente em áreas com maiores riscos de desastres, como alagamentos e deslizamentos.
Nelas, há instrumentos capazes de prever e acompanhar em tempo real os fenômenos naturais, como chuvas, ventos e outras mudanças climáticas. Entre eles, estão os pluviômetros, que medem quanta chuva caiu em determinado local com precisão milimétrica.
Em geral, sua estrutura e funcionamento são bem simples: um funil grande que consegue captar a água da chuva durante o fenômeno. Sua "boca", em geral a 1,5 metros do solo, tem cerca de 500 cm² de área.
Parece estranho falar em milímetros de chuva, mas fica fácil quando imaginamos um tanque quadrado, com 1 m de largura e 1 m de comprimento. Se despejar 1 litro de chuva dentro dele, o resultado será uma lâmina de água de 1 mm de altura.
Ou seja, quando falamos que choveu 627 mm em 24 horas em São Sebastião, isso significa que neste período caiu 627 litros de água por metro quadrado.
Detalhe: um registro superior a 50 mm já é considerado de chuva violenta.
Tipos de pluviômetros
Em um pluviômetro manual, todos os dias, uma pessoa precisa abrir a tampa lateral do instrumento e transferir a água coletada para uma proveta (tubo cilíndrico) com graduação em milímetros. Assim, determina-se quanta chuva caiu por ali nas últimas 24 horas.
Os órgãos de monitoramento, em geral, usam pluviômetros automáticos com sensores, também chamados de pluviógrafos. Ele também é um funil por onde escoa a água da chuva, mas é alimentado por eletricidade — seja por meio de células fotovoltaicas ou pela rede de energia — e já realiza a medição constantemente, com registro de tempo.
Assim, dá para ter um registro mais preciso e recortado (pode-se observar que choveu determinada quantidade em apenas três horas, por exemplo).
Dentro dele, há um pequeno mecanismo de "caçamba" basculante. Quando o recipiente enche com água da chuva, ele é esvaziado — isso conta um "clique".
O processo vai se repetindo sucessivamente; o número de pulsos, multiplicado pelo volume encontrado nesse reservatório, informa o registro do pluviômetro naquele intervalo de tempo. Em caso de chuva, eles realizam medições a cada dez minutos.
Dependendo da tecnologia do instrumento, a medição é transferida diretamente para centrais de controle, o que permite monitoramento em tempo real. Em outros casos, é preciso coletar os dados presencialmente, com um notebook ou pendrive.
Esse monitoramento é essencial para evitar ou diminuir os efeitos de desastres naturais. É possível prever transbordamentos de rios e enchentes com certa antecedência, de acordo com a chuva que está sendo registrada e alterações meteorológicas, como a chegada de frentes frias.
Assim, a população local pode ser alertada e evacuada — mas, no litoral de SP, tudo aconteceu tão rápido e intensamente que, infelizmente, não houve tempo de agir.
Como ajudar
Prefeituras e ONGs oferecem meios seguros de enviar donativos e dinheiro. Veja algumas delas:
Instituto Verdescola: esta ONG educacional fica na área mais atingida e virou hospital, abrigo e até necrotério para ajudar na tragédia. Recebe doações na avenida Marginal, 44, Praia Barra do Sahy. Para enviar dinheiro, o Pix é verdescola@verdescola.org.br. Mais informações: (12) 3863-7130 e 3863-7366.
Prefeitura de São Sebastião: arrecadações no Fundo Social (rua Capitão Luiz Soares, 33, centro) e unidades regionais (veja lista). Mais informações: (12) 3892-4991.
Prefeitura de Caraguatatuba: no Centro Esportivo Municipal (avenida José Herculano, 50, Jardim Britânia). Mais informações: (12) 3897-5656.
Prefeitura de Ilhabela: no Fundo social (rua Guaiamu, 56, Perequê). Mais informações: (11) 99932-7150.
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