Só na ficção: por que é impossível viajar no tempo e voltar ao passado
Viajar para o futuro não só é possível, como os astronautas já fizeram isso várias vezes. Já voltar ao passado, como nos filmes, só mesmo na ficção. Ou não?
Alguns cientistas até admitem essa possibilidade, desde que a Terra e seus arredores não sejam o ponto de partida. Eles dizem que isso só seria possível em uma galáxia muito, muito distante.
O problema com a Terra e sua vizinhança é que o campo gravitacional na vizinhança seria fraco demais para impulsionar viagens ao passado. O que não significa que não existam configurações diferentes da nossa em outros cantos do universo.
Para entender melhor
A partir das descobertas de Albert Einstein, descobriu-se que o tempo é relativo. Isso alimentou uma série de estudos científicos que tentam responder, ainda hoje, às dúvidas de todo fã de ficção científica: seria possível encontrar uma forma de viajar no tempo?
Na verdade, isso é possível dentro da própria Terra. Ao fim de uma corrida de Fórmula 1, um piloto é algumas frações de segundo mais jovem que um colega da mesma idade que tenha permanecido nos boxes. Experimentos com relógios atômicos superprecisos e aviões a jato já comprovaram isso.
Em um campo gravitacional mais forte, o tempo passa mais devagar (o 'tic-tac' na Terra é mais lento do que na Lua, por exemplo). Se os computadores na Terra não acertarem os relógios dos satélites que giram em nossa órbita, os aparelhos de GPS, por exemplo, apresentariam erros, pois o tempo lá em cima é mais lento do que aqui embaixo.
Os astronautas da Estação Espacial Internacional também experimentam esse tipo de diferença. O cosmonauta russo Sergei Avdeyev é o recordista em viagem no tempo - ao passar 747,5 dias na estação Mir, ele viajou aproximadamente 20 milissegundos ao futuro.
Na velocidade da luz
Teoricamente, se alguém conseguisse ultrapassar a velocidade da luz, conseguiria viajar ao passado. O problema é que, para isso se tornar possível - e muitos físicos acreditam que não é, seria preciso uma quantidade absurda de energia.
Os buracos de minhoca seriam outro caminho para se viajar no tempo-espaço. Entretanto, como soluções matemáticas consistentes, não podem violar o Princípio de Causalidade, ou seja, não é possível a ninguém ir ao passado em um ponto do espaço tridimensional que permita influenciar a própria história.
Em outras palavras, um buraco de minhoca poderia nos levar para o tempo dos dinossauros, mas somente em um ponto distante (do outro lado da nossa galáxia, digamos), de forma que jamais veríamos esses animais.
Os físicos mencionam sempre o "paradoxo do avô" ao abordar o assunto: se uma pessoa voltasse ao passado e matasse seu próprio avô, ela não teria nascido e, portanto, não teria como voltar ao passado.
Há apenas uma única possibilidade de você voltar para um evento do seu próprio 'cone de luz passado' (um evento da sua própria história): é aquela em que a sua 'linha de mundo' (sua trajetória no espaço e no tempo) forma uma 'linha de tempo fechada', ou seja, aquela em que a sua volta ao passado é a origem da sua própria história - mais ou menos como na série alemã "Dark".
Matematicamente impossível
O matemático austríaco Kurt Gödel mostrou ser impossível viajar ao passado com o campo gravitacional a que estamos acostumados. Ele argumentou, seguindo a teoria de Einstein sobre a gravitação, que poderiam existir lugares no Universo nos quais o campo gravitacional é tão intenso que permitiria uma ida ao passado.
Por enquanto, porém, só na ficção isso se concretizou. O tema foi explorado em livros, filmes e séries. Em vários episódios da série "Star Trek - Jornada nas Estrelas", as naves Enterprise utilizam fortes campos gravitacionais aliados a "motores de dobra" para viajar ao passado.
Se considerarmos que o Big Bang não foi o início do Universo, e que, de repente, existem vários Universos ou mesmo galáxias onde as leis físicas são diferentes das que conhecemos, nada impede que alguém viaje no tempo e mate seu avô sem deixar de existir, já que o avô desse universo paralelo não seria o mesmo avô que ele matou.
Mas o mais provável é que, num hipotético retorno ao passado, haveria perda de informação. Ou seja: a pessoa não teria consciência de que voltou no tempo, porque os próprios conceitos de "passado" e "futuro" teriam perdido o sentido.
Fontes: Mário Novello, cosmólogo do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF); Cássius Anderson de Melo, físico e professor da Universidade Federal de Alfenas - Campus Poços de Caldas, e da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
*Com texto de Tatiana Pronin
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