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Muito Black Mirror: cão-robô pode ser pet, mas deve substituir humanos

Fabricante chinesa Unitree exibiu no MWC 2023 três diferentes modelos de cão-robô: Go1, Aliengo e B1 - Marcella Duarte
Fabricante chinesa Unitree exibiu no MWC 2023 três diferentes modelos de cão-robô: Go1, Aliengo e B1 Imagem: Marcella Duarte

Marcella Duarte

de Tilt, em Barcelona (Espanha)

08/03/2023 04h01

Cães-robôs deixaram de ser o tipo de coisa que só se vê em ficção científica ou na internet. Durante o MWC 2023 (Mobile World Congress), maior feira de tecnologia móvel do mundo, essas máquinas caminhavam entre nós — e, se quiser, você já pode comprar um.

Se até agora o mais conhecido deles era o Spot, da norte-americana Boston Dynamics, quem roubou a cena durante o evento na Espanha foi a chinesa Unitree, que tem realizado o sonho do cachorro-robô próprio de muitas pessoas.

Enquanto o primeiro vira e mexe aparece em vídeos divertidos, foi usado no Rock in Rio e inspirou o episódio de Black Mirror em que a personagem principal foge de robôs assassinos de quatro patas, os modelos chineses reuniram aglomerações de pessoas querendo ver seus truques.

Em ordem crescente de tamanho, são eles: Go1, Aliengo e B1.

"Baratinho"

Menor e mais popular, o Go1 tem mais ou menos o tamanho de um cachorro da raça beagle.

Equipado com câmeras e sensores, ele pode ser usado em atividades de entretenimento, educação e monitoramento. E já tem gente encarando ele como um animal de estimação. Na Austrália, uma mulher ofereceu uma recompensa a quem identificasse quem agrediu e danificou o seu cão-robô enquanto andavam pela rua.

Para mim, estabelecer uma conexão emocional com um pet robótico é algo bem estranho, mesmo em um contexto em que as pessoas moram em pequenos apartamentos e não têm muito tempo livre. Ele até me pediu carinho — okay, isso foi ativado por comandos em um controle remoto —, e foi meio forçado atender, tocando uma superfície metálica e fria.

Ele é relativamente leve (12 kg) e quando está "dormindo" fica bem portátil, para ser levado a todo lugar. Diferentemente do Spot, ele tem um simulacro de cabeça, o que o torna bem simpático.

Um modo "seguida lateral" faz com que ele fique sempre ao seu lado durante uma caminhada, como um cachorrinho.

Segundo a Unitree, já foram vendidas "milhares de unidades em dezenas de países", o que, nas contas da empresa, faz com que ela tenha superado a Boston Dynamics.

Um dos motivos é o preço: o Go1 custa "apenas" US$ 2.700 (cerca de R$ 14 mil). Não é uma quantia exorbitante, considerando que há celulares, como iPhone 14 Pro e Samsung Galaxy Z Fold4, vendidos por preço similar.

Também é simples comprá-los pelo site da empresa, de qualquer país do mundo, pagando no cartão de crédito ou Paypal. Para o Brasil, o frete fica bem salgado, por US$ 1.000. E, claro, o pacote esta sujeito a taxação da Receita Federal.

Cachorros robo Unitree - Marcella Duarte - Marcella Duarte
Go1, Aliengo e B1
Imagem: Marcella Duarte

Cachorrão

Já o modelo Aliengo é maior e mais esbelto. Tem porte que lembra um cachorro galgo e é voltado ao uso profissional, como em serviços de segurança e para ação em terrenos acidentados

Dos três chineses, ele é o mais parecido com Spot, tanto nas funções como no design "sem cabeça". Sai a partir de US$ 50 mil, mas, customizado, pode ficar mais caro. Para efeitos comparativos, da última vez que a Boston Dynamics divulgou o preço de seu robô, em 2020, ele custava US$ 74,5 mil.

Por último, o maior e mais robusto é o B1, que sai a partir de US$ 100 mil. Também pode custar mais de acordo com os opcionais, como um braço robótico de US$ 150 mil. É bem impressionante e tem uma "cara" menos simpática — talvez seja o rottweiller dos cãos-robôs.

Segundo a empresa, ele tem aplicações industriais, na agricultura, em patrulhamento e exploração. Em demonstrações, o robô aparece atuando como bombeiro, em um local com risco de desabamento, andando em um rio e até carregando uma pessoa montada nele, o que o qualificaria para servir de um resgate em uma área de difícil acesso.

Acredito que esta seja justamente a maior vocação destes cachorros robóticos: não para imitar um animal, mas sim para substituir seres humanos em algumas tarefas — podem ser vigilantes, policiais, mineradores e mais.

Porém, um ponto de crescente preocupação com este tipo de tecnologia é que pelo menos o Go1 e o Spot já foram equipados com armas, nos Estados Unidos, China e Rússia — não eram projetos das empresas, mas sim iniciativas privadas ou de órgãos governamentais.

Novo concorrente

Outra empresa que apresentou o seu modelo de cão-robô durante o MWC 2023 foi a gigante Xiaomi. O CyberDog ainda é um protótipo, mas exibiu seus movimentos com desenvoltura.

Segundo a empresa, ele possui inteligência artificial capaz de reconhecer rostos, mas ainda não tem muitas aplicações. Executa apenas tarefas básicas.

Apenas mil unidades do CyberDog foram vendidas na China, pelo equivalente a R$ 7,5 mil, especialmente para desenvolvedores e startups, para que inventem usos para o robô, criando e aprimorando sistemas — o código é aberto.

A ideia é que inicialmente ele possa ser usado para tarefas domésticas, como carregar objetos, ajudar idosos e pessoas com deficiência. Mas ainda deve levar alguns anos para estar no mercado — o dia em que isso acontecer, há chances de chegar ao Brasil, onde a Xiaomi tem grande operação, e com um preço mais acessível.

A Boston Dynamics pode ter um marketing melhor, mas são as empresas chinesas que correm na dianteira para levar um desses cachorros-robôs para sua casa.

*A jornalista viajou a convite da Huawei