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Chefão do TikTok depõe no Congresso dos EUA em meio a briga de vida e morte

Empresário singapurense Shou Zi Chew, chefe-executivo do TikTok -
Empresário singapurense Shou Zi Chew, chefe-executivo do TikTok

Aurélio Araújo

Colaboração com Tilt, de São Paulo

23/03/2023 04h00

O empresário singapurense Shou Zi Chew, chefe-executivo do TikTok, irá depor diante do Congresso dos Estados Unidos nesta quinta-feira (23). É um capítulo importante da batalha travada entre o app de origem chinesa e o governo norte-americano nos últimos anos.

Um possível bloqueio da rede de vídeos está em jogo no país por suposto risco de segurança. Só nos EUA, são 150 milhões de usuários ativos mensais.

Na semana passada, o TikTok disse ter recebido um ultimato da gestão de Joe Biden: ou a ByteDance, controladora da plataforma, dilui sua participação nas ações da rede, ou o app está sob risco de ser banido do país.

O executivo deve destacar:

Proteção à saúde mental de adolescentes

  • "Usamos muito do nosso tempo adotando medidas para proteger adolescentes. Muitas dessas medidas são pioneiras na indústria das redes sociais", dirá Chew em seu discurso de abertura. Ele reforçará que o TikTok é mais seguro para adolescentes do que seus concorrentes.

Aplicativo não sofre interferências do governo chinês:

  • Nos EUA, há um temor de que a plataforma compartilhe informações de cidadãos norte-americanos com o governo da China. Como esse assunto cresceu nas últimas semanas, o tópico também será explorado por Chew.

Dados estão protegidos

  • O executivo dirá aos parlamentares que os dados de cidadãos dos EUA que usam o TikTok estão sendo mantidos em servidores no próprio país, supervisionados por funcionários americanos. Ou seja, a ideia é deixar claro que a China não teria como acessá-los.

Promessa de investimento de US$ 1,5 bilhão (R$ 7,9 bilhões)

  • O plano inclui usar a verba para hospedar os dados coletados de pessoas nos EUA em servidores domésticos, operados pela Oracle, empresa de tecnologia do Texas.
  • Auditorias do algoritmo de recomendação de vídeos do TikTok, bem como instalar uma diretoria terceirizada apenas para revisar suas operações mais sensíveis no país.

O histórico da treta

Em agosto de 2020, Donald Trump ameaçou proibir o app no país, exigindo que ele fosse vendido para uma empresa nacional.

Na época, a Microsoft foi uma das interessadas, mas o TikTok chegou a fechar negócio com a Oracle e o Walmart.

A ordem de Trump para a venda, contudo, foi bloqueada por decisão de um juiz federal. Ele deixou a presidência em janeiro de 2021, e o caso seguiu na justiça.

Em agosto do mesmo ano, já na gestão de Biden, a ordem foi revogada.

Só agora, em 2023, o assunto foi retomado, com o atual presidente agindo de forma similar ao anterior.

Mais de 30 estados dos EUA possuem leis que proíbem a instalação e o uso do TikTok em equipamentos públicos, como celulares e wi-fi de universidades. A União Europeia, o Reino Unido e o Canadá já tomaram medidas similares.

O TikTok já é proibido na Índia desde 2020, junto a diversos outros apps de origem chinesa, já que o país tem questões fronteiriças não resolvidas com a China.

TikTok diz ser independente - mas já espionou jornalista

Até o momento, não existem provas cabais de que o TikTok é usado pela China para espionagem de dados dos EUA ou de qualquer outro país.

Contudo, em dezembro de 2022, a rede social admitiu que funcionários da ByteDance espionaram jornalistas da imprensa ocidental.

A controladora usou dados da rede de vídeos monitorá-los, numa tentativa de encontrar as fontes internas da empresa que estavam vazando informações para a imprensa. Dados de localização dos repórteres foram usados para tentar identificar por onde eles estavam andando.

A ByteDance chegou a afirmar que essas tentativas não tiveram sucesso e que a equipe que atuou na espionagem foi demitida, além de anunciar melhorias em suas práticas de segurança.

Polêmicas envolvendo a ByteDance

Na imprensa americana, às vésperas do depoimento de Shou Zi Chew, casos de envolvimento da ByteDance com o governo chinês voltaram a ganhar destaque.

Em 2019, ela foi acusada por um instituto financiado pelo governo da Austrália de colaborar com a China na promoção de propaganda governamental.

Segundo o instituto, a ByteDance teria facilitado abusos de direitos humanos contra a minoria étnica uigur ao difundir mensagens do governo em seu app Douyin, a versão chinesa do TikTok.

Em 2021, a ByteDance também anunciou uma joint venture com uma empresa estatal chinesa de comunicação. Embora esse acordo não tenha saído do papel, críticos defenderam que a movimentação indicou proximidade entre o governo e a companhia.

Por fim, no ano passado, o BuzzFeed News publicou que o app de notícias TopBuzz, criado pela ByteDance promovia "conteúdo simpático" ao governo chinês. O app, já extinto, era voltado ao público fluente em inglês.

A repórter que escreveu a matéria, Emily Baker-White, foi uma das jornalistas que teve seus dados de localização monitorados por funcionários da ByteDance no caso de 2022.