Topo

CEO do TikTok diz ao Congresso dos EUA que app não é antiamericano

Shou Zi Chew, CEO do TikTok, durante audiência no Congresso dos EUA - Olivier Douliery/AFP
Shou Zi Chew, CEO do TikTok, durante audiência no Congresso dos EUA Imagem: Olivier Douliery/AFP

Thiago Varella

Colaboração com o Tilt

23/03/2023 17h17Atualizada em 24/03/2023 09h55

O TikTok é controlado — direta ou indiretamente — pelo Partido Comunista Chinês? Compartilha dados de usuários com o regime de Pequim? O app afeta a saúde mental de adolescentes? Bombardeado por essas acusações, o chefão da rede social, o empresário Shou Zi Chew, tentou defender a plataforma nesta quinta-feira (23) por mais de cinco horas diante do Comitê de Comércio e Energia da Câmara de Deputados dos Estados Unidos.

Ainda não é possível prever o efeito do depoimento de Chew que, na verdade, mais pareceu um julgamento sobre se o TikTok deveria ou não ser banido dos EUA. Não à toa, a ideia está em pauta, pois a Casa Branca ameaça proibir o aplicativo e forçar a venda do TikTok para uma empresa norte-americana.

Hoje, os EUA contam com 150 milhões de usuários ativos mensais no TikTok. Mesmo em um período de polarização política nos EUA, o combate à rede social uniu republicanos e democratas. Logo na abertura do depoimento, a deputada Cathy McMorris Rodgers, presidente do Comitê de Comércio e Energia da Câmara americana, acusou o TikTok de ser "antiamericano".

O TikTok nos espia a todos e o Partido Comunista Chinês é capaz de usar isso como uma ferramenta para manipular a América como um todo. Não confiamos que o TikTok abrace os valores americanos. Sua plataforma deveria ser banido
Cathy McMorris Rodgers

É chinês ou não?

Já no início de seu depoimento, Chew tentou estabelecer distância da China e assegurou que o TikTok não é controlado pelo governo chinês. De maneira calma e ponderada, o chefe-executivo do app reforçou que tanto ele quanto a rede social são de Singapura.

Chew também fez questão de apresentar o chamado "Project Texas", um plano para mover todo o banco de dados do TikTok de usuários norte-americanos para dentro do território do país.

A ideia é que o banco de dados esteja sob responsabilidade de uma empresa americana com plenos poderes sobre o material e que poderia ser analisada pelo governo americano. Tudo para impedir que o governo chinês ou funcionários não autorizados da ByteDance, a dona do TikTok com sede em Pequim, acessem os dados dos americanos.

A confiança se baseia nas ações que tomamos. Temos que conquistar a confiança de vocês com as decisões que tomamos... As preocupações potenciais de segurança e privacidade não são exclusivas nossas. Acreditamos que o que é necessário são regras claras e transparentes que abordem todas as empresas de tecnologia
Shou Zi Chew, CEO do TikTok

As explicações de Chew e o "Project Texas" não convenceram os congressistas que seguiram criticando o TikTok ao afirmarem que o regime chinês teria controle sobre o aplicativo.

Eu ainda acredito que Pequim, o governo comunista, ainda vai controlar e influenciar o que você faz. Essa ideia, esse 'Project Texas' é simplesmente inaceitável
Frank Pallone Jr, deputado democrata representante no Comitê de Comércio e Energia da Câmara

TikTok nocivo aos jovens

Outro ponto de críticas dos congressistas americanos em relação ao TikTok foi a má influência do app sobre crianças e adolescentes. O deputado Gus Bilirakis falou de Chase Nasca, um adolescente de 16 anos que se matou há um ano ao se jogar em frente a um trem.

Segundo o parlamentar, o jovem teria sido influenciado pelos vídeos apresentados em seu TikTok. Bilirakis acusou o aplicativo de promover o suicídio.

"Você tem responsabilidade sobre os algoritmos usados pelo TikTok para priorizar o conteúdo para seus usuários?", perguntou Bilirakis a Chew.

O executivo não respondeu diretamente à pergunta, mas afirmou que o TikTok compartilha recursos de saúde mental.

Chew também precisou responder sobre por que não deixa seus próprios filhos acessarem o TikTok. O executivo afirmou que em Singapura, onde vive com a família, não há uma versão do aplicativo para menores de 13 anos como nos EUA

Nossa abordagem é a de fornecer experiências diferenciadas para faixas etárias diversas e permitir que os pais conversem com seus filhos para decidir o que é melhor para sua família
Chew

Vídeo é retirado após reclamação

Um dos momentos mais tensos do depoimento foi quando a deputada Kat Cammack mostrou um vídeo no TikTok em que balas de um revólver tinham como alvo a presidente do Comitê de Comércio e Energia da Câmara americana.

"Suas próprias diretrizes afirmam que vocês têm uma posição firme contra permitir a violência no TikTok ou fora dele. Este vídeo está disponível há 41 dias", disse Cammack.

Pouco tempo depois, o vídeo foi retirado do TikTok.

Mais de cinco horas de depoimento

Durante mais de cinco horas e algumas pausas, o chefão do TikTok abordou ainda temas como a proliferação de notícias falsas e drogas. Apesar da calma e da educação, Chew deu algumas respostas ensaboadas e não pareceu ter convencido nenhum crítico do aplicativo.

Resta saber se a maratona no Congresso americano vai fazer aumentar o coro por uma venda do TikTok ou até seu banimento em território americano. Ao que parece, esse foi apenas o primeiro embate direto e ao vivo entre o TikTok e os EUA.