Para conter prejuízo, influencers banidos pagam R$ 5 mil para reaver conta

Seguidos por milhares e, não raro, milhões de pessoas, influenciadores digitais bloqueados nas redes sociais têm recorrido a empresas para recuperar suas contas, principalmente no Instagram. Porém, a plataforma diz que não há serviço pago autorizado para reaver perfis.

Para deixar de perder dinheiro com a ausência de anúncios publicitários, os "publis", e vendas de produtos, alguns deles chegam a pagar R$ 5 mil pelo serviço misterioso, que não é detalhado por quem costuma prestá-lo. Ainda assim, os influencers relatam que, após o pagamento, as contas chegam a ser restabelecidas de um dia para o outro.

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Três desses influenciadores toparam conversar com Tilt:

• Cristian Bell, 25, humorista com mais de 3 milhões de seguidores;
• Vanessa de Oliveira, 48, que atua com bem-estar e beleza e tem 769 mil seguidores;
• Pablo Selle, 36, empresário que administra a página de humor @opoeteiro, com mais de 3 milhões de seguidores.

Bell já teve a página derrubada sete vezes. Em quatro situações diferentes, gastou R$ 20 mil para a conta ser recuperada — R$ 5 mil em cada uma delas. Já Selle perdeu as contas da quantidade de vezes que o perfil saiu do ar. Até agora, desembolsou R$ 3 mil. Ele afirma ter conseguido um desconto após indicar outras pessoas para o serviço. Já as páginas de Vanessa foram derrubadas quatro vezes. Ela confirma que pagou pela recuperação, mas não diz quanto.

Por nota enviada a Tilt, o Instagram disse que o processo de recuperação de contas é feito somente pelo aplicativo e pela Central de Ajuda do Instagram. "Não existe serviço pago de recuperação de conta autorizado pelo Instagram", disse a empresa.

A rede social destacou ainda que podem ser removidas as contas que violam as Diretrizes da Comunidade do Instagram "repetidas vezes". Caso não concordem com a ação da plataforma, o usuário pode apelar das decisões e solicitar uma revisão.

Por que pagar?

Hoje, os usuários que tiverem a atividade suspensa ou bloqueada no Instagram precisam seguir uma série de etapas até reabilitarem a conta. O processo, porém, pode ser demorado. Devido a isso, recorrem a empresas que prometem agilizar a recuperação ao "ficar em cima" para resolver o problema.

Para os administradores das páginas, reaver os perfis significa evita perder mais dinheiro, seja com anúncios ou com as próprias postagens.

Para mim, vale muito a pena [pagar para recuperar a conta], porque no meu Instagram eu ganho muito mais. Então, sem Instagram a renda só cai, as empresas nos deixam
Cristian Bell

Selle decidiu acionar a ajuda paga porque o perfil @opoeteiro saía do ar seguidamente. Nas últimas duas vezes, a página ficou desativada em cada uma delas por 60 dias. Além de contratar a empresa para recuperar a conta, Selle entrou com um processo na Justiça por danos morais e materiais contra a Meta, dona do Instagram, devido às perdas financeiras no período em que a conta ficou desativada.

Meu faturamento foi a zero
Pablo Selle

Já Vanessa recuperava os perfis por conta própria, mas contratou o serviço pelo know-how da empresa. "Se o meu negócio é importante, porque eu vou arriscar, se eu não sei fazer o procedimento corretamente?", diz a influencer, que ministra cursos de autoestima e relacionamento e vende produtos de beleza, como batom e perfume.

O que fez as contas serem derrubadas?

Bell conta que o primeiro bloqueio foi feito após uma encenação de teatro. "Estava com uma faca na mão. Daí o Instagram entendeu como violência ou discurso de ódio." A página ficou fora do ar por um ano.

Em outra situação, o influencer xingou o jogador de futebol francês Kylian Mbappé por ter perdido um pênalti. "Eu falei brincando, 'vou te bater Mbappé'." Neste caso, ocorrido em 2021, Bell acabou perdendo a conta que tinha 2,2 milhões de seguidores. "Tive que começar do zero." Para driblar a situação, hoje ele tem três contas na plataforma. Se uma cair, as duas reservas entram em cena.

Para Selle, os motivos são variados e, muitas vezes, nem um pouco claros. Tanto é que o também dono da agência Vibraliza, de marketing para influencers, diz já ter identificado um padrão nos bloqueios. "Quando chega a 12 posts excluídos em um ano, a conta caí.

O perfil do @poeteiro tem conteúdo que não é explícito, um humor +18. A gente coloca vídeos que estão em linha tênue com as normas do Instagram. Já aconteceu de conteúdo nada a ver, nada explícito e, por algum motivo, a gente recebeu a notificação de que foi derrubado por nudez ou algo assim. Às vezes acho que existe um algoritmo, uma inteligência artificial que deve fazer essa leitura
Pablo Selle

Já Vanessa atribui a queda das contas a uma ação coordenada de integrantes de grupos de "Red Pill", homens que se opõem ao feminismo, reproduzem ideias machistas e, por vezes, de ódio a mulheres. Das três contas da influencer, uma segue fora do ar e outra até funciona, mas com funções bloqueadas. Ela não pode, por exemplo, responder às mensagens diretas, o que compromete diretamente seu negócio.

"Quando inicia o processo de venda, o que vende é diminuir a barreira de compra. Quando a pessoa precisa de muitas ações para comprar, a venda não acontece", explica.

Ela diz que os ataques coordenados começaram há seis meses. As restrições nas contas derrubaram o faturamento de sua empresa de R$ 10 milhões, em 2021, para R$ 6 milhões, em 2022. Este ano, ela obteve apenas R$ 16 mil no período de um mês. Devido ao cenário negativo, a influencer vai reduzir a equipe de 22 para oito funcionários.

A gente começa a não ter paz de espírito. Chega a acordar no meio da noite para ver se a conta voltou. Como eu estou há 10 anos nisso, construí negócio em cima do Instagram. Não recuperar [a conta] é prejuízo absurdo
Vanessa de Oliveira

Como descobriram o serviço?

Parte dos influenciadores ouvidos pela reportagem contrataram o trabalho do Recupera Página. Outro que se destaca nesse segmento é o Dr. Tonyson. Nenhum dos entrevistados sabe como as contas são recuperadas.

Selle se limitou a dizer que o Recupera Página informou a ele que "tem contatos lá dentro". O influencer disse que conhecia um dos profissionais por ser dono de outra página de humor, mesmo ramo que o dele. "Tive confiança de fazer com ele", diz Selle.

Bell diz que foi procurado após a segunda queda de seu perfil. Por outro lado, Vanessa explica que descobriu o serviço por outras pessoas. "Vi que eles já recuperaram a página de muitas pessoas."