1º de abril: estudo revela tática para descobrir se alguém está mentindo
Marcella Duarte
De Tilt
01/04/2023 18h37
Usando apenas uma simples estratégia, é possível encontrar mentiras com quase 80% de precisão, de acordo com cientistas da Universidade de Amsterdã, na Holanda.
Polígrafos, comumente chamados de "detectores de mentiras", combinam diferentes entradas fisiológicas, como pressão sanguínea, frequência cardíaca e respiratória para detectar possíveis mentiras. Equipes de segurança dos aeroportos dos EUA são treinadas para procurar 92 pistas comportamentais de que possam indicar um terrorista.
Esqueça tudo isso. O novo estudo mostra que mesmo profissionais treinados fazem pouco melhor do que o acaso ao tentar separar a verdade de mentiras. A principal razão é que conectar estes diversos dados e chegar, em tempo real, a uma decisão binária (sim ou não) sobre alguém é extremamente difícil.
"É uma tarefa impossível", diz Bruno Verschuere, psicólogo forense e principal autor da pesquisa. "As pessoas não conseguem avaliar todos esses sinais em um curto espaço de tempo, muito menos integrar vários sinais em um julgamento preciso e verdadeiro".
Outro problema é que há estereótipos no imaginário coletivo sobre a aparência de pessoas inocentes e culpadas. Para superar tudo isso, Verschuere e seus colegas decidiram tentar uma "abordagem radical".
Como desmascarar um mentiroso?
Os cientistas chegaram a uma simples conclusão. O melhor a se fazer é:
- Não é preciso procurar sinais corporais reveladores, como a pessoa estar olhando para determinado lado, se mexendo muito, ou parecendo ansiosa
- Ignore tudo isso e concentre-se apenas no nível de detalhes do que a pessoa está contando
- Se ela der descrições ricas sobre quem, o que, quando, quando e como, é provável que esteja dizendo a verdade
- Se passar por cima destes detalhes, provavelmente está mentindo
"Nós chegamos à conclusão de que a verdade pode ser encontrada na simplicidade. Propomos descartar em vez de adicionar pistas ao tentar detectar a mentira", dizem os pesquisadores.
O estudo foi publicado na revista Nature.
Como foi feita a pesquisa?
Em uma série de nove estudos, 1.445 pessoas tentaram adivinhar se declarações manuscritas, em vídeo ou ao vivo sobre as atividades de um aluno da faculdade eram verdadeiras ou falsas.
- Participantes que confiaram na intuição para detectar mentiras, ou que usaram muitos fatores para tomar a decisão, não tiveram melhor desempenho do que o acaso.
- Aqueles que se concentraram apenas no nível de detalhes dos relatos conseguiram separar a verdade da mentira com 59% a 79% de precisão.
- Esta parte do grupo foi orientada a examinar apenas o "grau em que a mensagem inclui detalhes como descrições de pessoas, lugares, ações, objetos, eventos e o tempo dos eventos" e "o grau em que a mensagem parecia completa, concreta, impressionante, ou rico em detalhes".
"Nossos dados mostram que confiar em uma boa dica pode ser mais benéfico do que usar muitas dicas", dizem os pesquisadores. A regra prática é "usar o melhor e ignorar o resto".
Claro que, em situações de risco real, é provável que as pessoas enriqueçam as mentiras com detalhes para aumentar sua credibilidade, então é possível que a eficácia desta dica dependa do contexto.
No entanto, ficou claro para os cientistas que usar mais e mais pistas — ou mesmo big data e aprendizado de máquina — não necessariamente melhora a precisão na detecção de mentiras, já que informações inúteis obscurecem o julgamento geral. "Uma maneira contra-intuitiva de lidar com uma sobrecarga de informações é simplesmente ignorar a maior parte das informações disponíveis... Às vezes, menos é mais", argumentam.