Por que astronautas que irão à Lua não podem usar roupa espacial preta
O traje espacial que os astronautas da Nasa vão usar na Lua, apresentado há duas semanas, chamou nossa atenção não apenas por fazer parte de uma missão histórica: o protótipo tem cor preta, bem diferente do tradicional branco, usado por questões de sobrevivência.
Só que tudo não passou de uma estratégia da Axiom Space, empresa que desenvolveu o uniforme, para esconder detalhes de seu "design proprietário". Para que os concorrentes não copiem as inovações, a novidade foi exibida com uma "capa" escura, com estilosas faixas azuis e laranjas. Mas, na verdade, ele também será branco.
O novo traje será usado apenas em 2025, na missão Artemis 3, quando a tripulação vai desembarcar no gélido polo sul da Lua, um local diferente e mais desafiador do que os visitados durante as missões Apollo. Nenhuma pessoa, nem sequer uma missão robótica, já esteve lá.
Antes disso, porém, há a Artemis 2, que deve ser lançada em novembro do ano que vem — nela, os astronautas farão uma viagem ao redor da Lua, sem pouso. E, como estarão protegidos dentro da nave, usarão uma roupa laranja e azul (as cores do programa Artemis).
Os nomes escolhidos para esta segunda fase foram divulgados nesta segunda-feira (3):
- Christina H. Koch
- Jeremy Hansen
- Victor J. Glover
- Reid G. Wiseman
Confira os destaques do futuro uniforme e os motivos de não ser possível usar preto na Lua.
Humanos podem fritar (ou congelar) na Lua
A Lua é um ambiente inóspito, sem atmosfera para proteger os astronautas da radiação do Sol e regular temperaturas — elas variam de -180 graus Celsius na sombra a mais de 200°C na luz. Por isso, para sobreviver lá, o controle térmico é um dos pontos fundamentais.
Trajes espaciais precisam ser refletivos e insuflados (cheios de ar), para manter a pessoa fresca sob raios solares que não são filtrados. E branco é a melhor cor para isso; preto, ao contrário, absorveria todo o calor e radiação, "fritando" o astronauta.
A mesma ideia servirá para quando visitarmos um ponto muito frio e escuro da Lua: será preciso manter o calor do corpo e não "deixar o frio entrar".
Este, inclusive, é o caso da missão Artemis 3. O polo Sul de nosso satélite mal é tocado pelo Sol, ficando em um eterno inverno de cerca de -100°C.
O que o traje novo tem de especial
Ele protegerá os primeiros astronautas a pisarem na Lua desde 1972 — ano da última missão Apollo (17) —, incluindo a primeira mulher e a primeira pessoa "não branca" (que pode ser negra, indígena ou latina), segundo a Nasa.
Alguns dos destaques, em relação ao traje da era Apollo, são:
- Juntas (cotovelos, joelhos, ombros) aperfeiçoadas para dar mais liberdade e amplitude de movimentos.
- Mais leve, reduzindo a fadiga ao andar grandes distâncias.
- Permite agachar e até mesmo se ajoelhar.
- Se adapta a diversos tipos físicos, de homens e mulheres.
- Mais fácil de vestir.
- Botas projetadas para que se caminhe pelo solo lunar, em vez de dar pulinhos -- como vimos nas missões Apollo.
- Capacete oferece maior campo de visão e nitidez.
- Proteção extra contra os perigos lunares, incluindo um sistema de aquecimento. Tudo para permitir uma exploração do máximo possível da superfície da Lua -- e, futuramente, uma presença humana constante por lá.
Toque de ficção
A capa preta bonitona até parece que saiu de um filme de ficção científica... e foi mais ou menos isso mesmo.
Ela foi criada por Esther Marquis, designer de figurinos do seriado "For All Mankind", da Apple TV+, que mostra um futuro em que a Rússia chegou antes que os Estados Unidos na Lua e a corrida espacial seguiu rumos diferentes - recomendo que os apaixonados pelo tema assistam.
O ar futurista também parece remeter à Starship, nave de próxima geração da SpaceX (de Elon Musk), que tem um acabamento reluzente escuro, e deve ser o veículo usado como módulo de pouso para desembarcar os astronautas na Lua.
Quando finalmente saírem da nave para pisar em solo lunar no novo "grande passo para a humanidade", em 2025, eles estarão usando os trajes da Axiom. Mas de branco.
O verdadeiro look segue um mistério. Segundo a empresa, diversas unidades para treinamento serão fornecidas diretamente à Nasa em alguns meses. Mas não há data para uma revelação pública.
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