Topo

Star Wars? Telescópio James Webb acha galáxia mais distante do Universo

"Há muito tempo em uma galáxia muito, muito distante.": cena inicial de "Uma nova esperança", o episódio IV de Star Wars - Reprodução
"Há muito tempo em uma galáxia muito, muito distante.": cena inicial de "Uma nova esperança", o episódio IV de Star Wars Imagem: Reprodução

De Tilt, em São Paulo*

05/04/2023 12h37

"Há muito tempo em uma galáxia muito, muito distante." É assim que começa "Uma nova esperança", o episódio IV de Star Wars, que deu início a uma das mais famosas sagas do cinema. Estudos publicados nesta terça-feira (4) mostram que talvez o telescópio James Webb tenha encontrado o lugar onde se passam as aventuras de Luke Skywalker, Princesa / General Leia Organa e Darth Vader.

Isso porque o observatório mais avançado do mundo localizou a galáxia mais distante já identificada, que remonta à expansão inicial do Universo.

Brincadeiras à parte, a galáxia em questão foi batizada de JADES-GS-z13-0. Ela se formou "320 milhões de anos após o Big Bang" e sua luz é a mais afastada já observada até hoje pelos astrônomos, explicou à agência France Presse o astrofísico Stéphane Charlot, do Instituto de Astrofísica em Paris e um dos autores do estudo.

As descobertas do James Webb talvez não tenham concretizado de vez o sonho dos fãs de Star Wars. Mas nem por isso são menos surpreendentes. Em funcionamento apenas desde julho de 2022, o James Webb (JWST) já identificou inúmeras galáxias "candidatas" ao posto de mais longínqua.

Uma das técnicas usadas foi o espectro infravermelho, um comprimento de onda invisível ao olho humano que permite voltar muito mais longe no tempo, ou seja, ajuda a identificar as idades de galáxias por meio de sua luminosidade.

A essa poderosa capacidade de observação infravermelha, o aparato espacial adicionou a espectroscopia, que analisa a luz de um objeto para determinar seus elementos químicos. Foi assim que ele identificou "inequivocamente" a existência de quatro galáxias.

Todas elas estão muito distantes, pois possuem idades que variam entre 300 e 500 milhões de anos após o Big Bang (que ocorreu há 13,8 bilhões de anos), segundo dois estudos publicados no jornal "Nature Astronomy".

Naquela época, o Universo tinha apenas 2% de sua idade atual e passava pelo que os cientistas chamam de período de reionização: volta à atividade em que passou a produzir uma grande quantidade de estrelas após uma fase conhecida como "idade das trevas".

james - Shutterstock - Shutterstock
O telescópio James Webb, o mais avançado do planeta Terra, visto no espaço
Imagem: Shutterstock

'Proeza tecnológica'

Dentre as galáxias detectadas, está a GM-z11, que já tinha sido detectada pelo telescópio Hubble e foi confirmada pelo James Webb. Ela surgiu cerca de 450 milhões de anos após o Big Bang.

As quatro galáxias observadas são de massa muito baixa, apenas cem milhões de vezes a massa do Sol. A título de comparação, a Via Láctea tem 1,5 trilhão de vezes o tamanho da estrela mais próxima da Terra. Entretanto, são "muito ativas quando se trata de formar estrelas, proporcionalmente à sua massa", detalha o astrofísico.

A formação destas estrelas está acontecendo "aproximadamente no mesmo ritmo da Via Láctea", um ritmo "surpreendente naquela fase inicial do Universo", comenta o pesquisador.

Estas galáxias são, por outro lado, "muito pobres em metais", uma descoberta que confirma teorias clássicas da Cosmologia de que, quanto mais próximas à origem do Universo, menos tempo estas estrelas tiveram para formar elementos químicos mais complexos.

A nova contribuição do James Webb é "uma proeza tecnológica", diz Pieter van Dokkum, astrônomo da Universidade de Yale, em um comentário anexado ao estudo.

"Todos os meses" o telescópio ultrapassa "as fronteiras da exploração", analisa. Isso quer dizer que a marca de galáxia mais distante vai ser quebrada mais vezes - e os fãs de Star Wars podem manter a esperança acesa.

Em fevereiro, o JWST também identificou um grupo de seis galáxias de 500 a 700 milhões de anos de idade após o Big Bang, aparentemente muito mais massivas do que o esperado. Se suas existências forem confirmadas pela espectroscopia, isso poderia questionar algumas das teorias sobre a formação do Universo.

*com informações da AFP