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'Polícia chamar no WhatsApp?': ele enrolou golpista e postou no Twitter

Arquiteto Matheus Garcia, 23, viralizou após tentativa de golpe - Arquivo pessoal
Arquiteto Matheus Garcia, 23, viralizou após tentativa de golpe Imagem: Arquivo pessoal

Rafael Souza

Colaboração para Tilt, de São Luís (MA)

06/04/2023 04h00Atualizada em 25/05/2023 15h25

"Desde quando a polícia vai me chamar pelo WhatsApp?", postou no Twitter o arquiteto Matheus Garcia, 23. Seu relato sobre uma tentativa de golpe com direito a ameaça de prisão viralizou desde segunda-feira (3). Até o momento, o tuíte conta com 3,7 milhões de visualizações e 39,1 mil curtidas.

"Chocado com a proporção que tomou", disse o jovem, que aproveitou o caso para compartilhar também os prints de tela da troca de mensagens com o falso delegado da Polícia Civil.

O que rolou

Matheus conta a Tilt que no último sábado (1º) conversou com o perfil de um rapaz no aplicativo de relacionamento Grindr, voltado ao público LGBTQIA+. Durante o papo, a pessoa pediu para que migrar para o WhatsApp.

"Depois disso, ele parou de me responder no Grindr e não me chamou no WhatsApp. Domingo nenhuma resposta. Na segunda, um 'delegado' me chamou", lembra. A sumida do potencial date reforçou a desconfiança de golpe.

Logo no início da troca de mensagens, o falso delegado pediu para conversar com Matheus por telefone. Durante a ligação, ele se identificou como Ivan Amorim, da 1ª DP de Ações contra a Pedofilia e Assédio Sexual, em Porto Alegre.

O falso policial enviou ao arquiteto prints da conversa que ele teve no Grindr alegando que os pais do rapaz tinham feito uma denúncia à polícia, já que o filho era menor de idade.

"Achei muito estranho a polícia vir conversar comigo pelo WhatsApp. Resolvi ligar para ele porque tive um receio de ser verdade também", lembra Matheus.

Para deixar o caso parecendo mais real, o suposto Amorim compartilhou um vídeo exibindo eletrônicos quebrados. Eles seriam do menino desesperado que não queria entregar o celular para os pais.

Depois de quase 20 minutos de ligação, o falso policial civil ofereceu duas opções para resolver o caso:

  1. Assinar o mandado para providenciar a prisão preventiva de Matheus.
  2. Sugeriu que o arquiteto arcasse com 50% das despesas das coisas destruídas, calculadas em R$ 7.500,00, e todo o caso sumiria.

"A partir do momento que ele começou a falar sobre valores, já percebi que era uma farsa. Além de ele ter falado ser de Porto Alegre e eu ter conversado com o menino que estava a apenas 2 km de mim, que moro em São Bernardo do Campo. Também foram as palavras todas escritas erradas", disse - em uma das mensagens, o golpista escreve "pesque" ao invés de "peço que".

"Comecei a rir muito com toda a história que inventaram, aquele cenário que fizeram dos móveis todos destruídos... Fui correndo contar para meus amigos e todo mundo ficou rindo. Aí quis contar para o pessoal do Twitter também, até para alertar. Se tornou algo muito grande", acrescentou.

Após a tentativa de golpe, Matheus decidiu bloquear o número em questão do WhatsApp e, apesar do susto, prefere não levar o caso à polícia. "Muitas pessoas até falaram para eu abrir uma ocorrência sobre, mas acho que, mesmo que eu fizesse um boletim, não aconteceria mais nada."

A Tilt, a Polícia Civil do Rio Grande do Sul reforçou que o órgão "não trata nem solicita nada por WhatsApp. Apenas intimações para oitivas [ouvir partes de um processo] em delegacia podem ser feitas pelo WhatsApp."

Golpe não é novo

Em 2021, uma quadrilha do Rio Grande do Sul foi alvo de um mandado de prisão após seis homens, em Maceió, procurarem a polícia diante de extorsão após a troca de fotos íntimas com uma mulher.

Um suposto delegado gaúcho entrou em contato com eles alegando acusação de pedofilia, pois a jovem envolvida nas mensagens teria menos de 18 anos. Na época, foram pedidas quantias entre R$ 8 mil e R$ 11 mil para resolver o caso. A quadrilha também agia em Alagoas e em outros estados brasileiros.

Dicas de segurança

  • Desconfie de mensagens alarmistas, principalmente se enviadas por meios de comunicação não oficiais, como WhatsApp e redes sociais.
  • Desconfie se o conteúdo tiver erros de português.
  • Delegados e agentes da polícia não fazem contato por WhatsApp pedindo a prisão de alguém.
  • Órgãos policiais não devem exigir pagamento e vantagens financeiras.
  • Jamais faça transferências bancárias.
  • Evite ao máximo fornecer dados pessoais por telefone e por mensagens de texto.
  • Caso caia em um golpe do tipo, o recomendado é registrar um boletim de ocorrência.

*Com informações do documento "Cuidado com Golpes da Internet" da Polícia Civil do Rio Grande do Sul, e de matérias de segurança online de Tilt.