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CEO da Uber vira motorista, reclama do app e ouve: 'viva disso por um ano'

CEO da Uber, Dara Khosrowshahi, "virou motorista" em São Francisco para avaliar o funcionamento do aplicativo - Reprodução/YouTube
CEO da Uber, Dara Khosrowshahi, 'virou motorista' em São Francisco para avaliar o funcionamento do aplicativo Imagem: Reprodução/YouTube

Abinoan Santiago

Colaboração para Tilt, em Florianópolis

10/04/2023 14h46Atualizada em 11/04/2023 16h06

O CEO da Uber, Dara Khosrowshahi, decidiu mais uma vez testar na prática a experiência de trabalhar para um de seus aplicativos. Depois de ser entregador do Uber Eats, serviço de delivery de comida, ele atuou como motorista de passageiros.

Ao volante de um veículo elétrico Tesla Y de segunda mão, o executivo diz que viveu uma "experiência desajeitada" pelas ruas de São Francisco, cidade da Califórnia. As informações são do jornal The Wall Street Journal (WSJ)

A iniciativa do chefão fez parte do "Projeto Boomerang", ação da própria Uber para melhorar o trabalho dos motoristas, já que a empresa notou a escassez de parceiros em um cenário pós-pandemia.

Ao comentar a publicação do WSJ no Twitter, este usuário do Twitter provocou o CEO da Uber:

Tente viver dessa renda por um ano

Por que foi "desastroso"

Em entrevista ao jornal, Khosrowshahi disse ter trabalhado por meses como motorista, em uma experiência que começou em setembro de 2021. Adotou o pseudônimo de "Dave K".

Naquele momento, a retomada da economia após a pandemia de covid-19 fez a Uber experimentar pela primeira mais demanda vinda de passageiros do que de motoristas.

Khosrowshahi afirmou que a melhor maneira de entender a dificuldade da empresa em conseguir atrair motoristas era sentar-se ao volante e virar um.

Como Dave K, ele fez 100 viagens. Durante elas, vivenciou vários problemas e se deparou com um aplicativo pouco atraente para os motoristas, devido aos seguintes motivos:

  • Dificuldade na navegação na hora de se inscrever na Uber;
  • Expectativas frustradas por receber gorjetas magras;
  • Punição por rejeitar viagens sem informação do destino ou do valor da tarifa;
  • Dificuldade para navegar no app na área do motoristas, principalmente durante a transição de uma viagem para outra;
  • Trânsito complicado em horários de pico, o que afastava motoristas por causa das tarifas baixas;
  • Medo da nota cair no dia seguinte a uma noite em que não rodou por se sentir inseguro.

Toda a experiência foi bastante desajeitada. Acho que a indústria como um todo, até certo ponto, não dá valor aos motoristas
Dara Khosrowshahi, em entrevista ao The Wall Street Journal

O que mudou depois?

Segundo Khosrowshahi, apesar da "experiência desajeitada", os meses como motorista fizeram a Uber promover a maior mudança em seu modelo de negócio. A principal delas ocorreu em relação aos parceiros. A empresa reforçou ainda que o aplicativo ainda busca melhorar a experiência aos motoristas. Dentre as mudanças, o CEO listou:

  • Motoristas passaram a saber o valor da tarifa e o destino final da viagem. Até então, apenas a quilometragem era exibida;
  • Reserva de US$ 250 milhões para distribuir como bônus em diversas ações dentro do app com o objetivo de atrair mais motoristas parceiros;
  • Proibição dos passageiros mudarem o valor da gorjeta após a viagem;
  • Implantação de processo de inscrição único na Uber, sem distinção se é para carona ou para entregas.

Ainda falta muito, mas melhorando a cada dia
Khosrowshahi no Twitter, logo após a reportagem do WSJ

As mudanças, contudo, não parecem ter agradado a todos os motoristas. Ao compartilhar a publicação do WSJ, Khosrowshahi recebeu críticas de parceiros em sua postagem.

"Sua equipe de suporte é a entidade menos favorável com quem já lidei. Fui desativado por 5 dias recentemente porque demorou de 5 a 10 minutos para resolver o problema no qual perdi salários e atrasei contas. Então comece a olhar para os salários", disse um internauta, que ainda pediu para a Uber oferecer rotas mais eficientes. "Minutos contam tanto quanto milhas, especialmente quando você tenta completar uma missão. Desde o ano novo, não estou ganhando tanto quanto antes."

Já outro disse que é desanimador fazer corridas por causa das tarifas.

"Sou motorista de meio período e até mesmo as metas de fim de semana parecem ser um desânimo para dirigir em vez de um incentivo. Os surtos de adição [de paradas] continuam a não ser calculados corretamente", reclamou.

"Os CEOs devem ter pelo menos o entendimento elementar da experiência de todas as filiais da empresa e não esperar seis anos, especialmente considerando que suas remunerações são de 8 a 9 dígitos e o trabalhador mais baixo é compensado no limite inferior de 5", acrescentou outro.

Outro usuário do Twitter afirmou que o "pagamento que Uber e Lyft oferecem é literalmente o de países do terceiro mundo, e motoristas estão com medo de ativar esses app porque nunca sabem o que vai acontecer".