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De moto ou bike, ladrões aproveitam distração para roubar celulares; veja

Guilherme Tagiaroli e Guilherme Tagiaroli

De Tilt, em São Paulo

13/04/2023 04h00Atualizada em 14/04/2023 11h40

Uma mulher passeia com o cachorro pela calçada, enquanto se distrai mexendo no celular. De repente, um ladrão em cima de uma moto cruza a rua, sobe na calçada dela e rouba o telefone.

Comum em grandes cidades, a cena descrita acima está em vídeo obtido com exclusividade por Tilt e mostra um roubo ocorrido em março deste ano na Vila Leopoldina, na zona norte de São Paulo.

Imagens como essa mostram uma das principais modalidades de crime captadas pelas câmeras da Cosecurity, empresa de segurança que instala os equipamentos em comércios e condomínios. A empresa cedeu imagens de diferentes roubos captados na capital paulista, como o que abre esta reportagem.

Em 90% dos casos, a gente vê alguém digitando ou falando no celular, e o aparelho acaba sendo arrancado das mãos dela
Chen Gilad, cofundador da Cosecurity

Os casos mostram um modus operandi comum em São Paulo:

  • geralmente uma pessoa de motocicleta ou bicicleta passa por uma rua e nota alguém mexendo no celular na calçada;
  • ao perceber a distração da vítima, o ladrão passa rápido pela pessoa, arranca o telefone da mão dela e foge em velocidade;
  • outro clássico da cidade, comum em vias de grande movimento,é o roubo de celular que fica no console dos carros.

Acionada pela reportagem, a SSP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo) disse que os roubos de celular são assunto de "extrema preocupação" e que tem trabalhado para prender os receptadores, as pessoas que recebem e revendem os telefones roubados.

Só no primeiro trimestre deste ano, foram apreendidos 1.861 suspeitos na região central, além disso a Operação Mobile, que combate roubos e furtos de celular, conseguiu recuperar 725 aparelhos nos dois primeiros meses do ano.

Roubo de celular muda de patamar

David Marques, coordenador de projetos do FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública), concorda com Gilad sobre a oportunidade para o ladrão nascer do modo compenetrado com que as pessoas usam o celular na rua. Isso permite aos bandidos não só roubar o telefone, mas obtê-lo desbloqueado, o que facilita mudar senhas e acessar outras informações pessoais.

Marques acrescenta ainda que o roubo de celular deixou de ser apenas a subtração de um bem e passou a ser um atentado contra o patrimônio das pessoas. Isso ocorre, porque o aparelho se tornou central na vida de seus donos, ainda mais depois da forte digitalização de serviços durante a pandemia. Esse fenômeno é refletido na cadeia do crime.

Tem gente que rouba ou furta o aparelho e o leva para uma central, onde especialistas em extrair dados conseguem contrair empréstimos em nome das vítimas, fazer transferências e adquirir produtos, antes que seja bloqueado. Após isso, o telefone é submetido ao mercado internacional -geralmente enviado para países africanos- ou suas peças são reaproveitadas no mercado local
David Marques, coordenador da FBSP

Para driblar roubos e furtos, Gilad recomenda:

Evite usar o telefone na rua;

  • Se precisar fazer uma chamada ou responder uma mensagem, entre em algum estabelecimento comercial ou público; ou aguarde até chegar em casa;
  • Se estiver aguardando carro de aplicativo, espere o veículo chegar para sair do local onde está;
  • Desconfie de movimentações estranhas à sua volta, como pessoas de máscara (ainda mais agora que o uso foi flexibilizado em vários lugares) ou indo de um lado para o outro de bicicleta ou motocicleta.

Meu celular foi roubado. E agora?

1) B.O. e bloqueios bancários

É importante fazer o boletim de ocorrência (que pode ser feito online na delegacia eletrônica), informando modelo e marca do celular, o local onde ocorreu o delito e o Imei (identificação única do telefone) — se você não sabe o que é o Imei, veja aqui como encontrá-lo.

No Estado de São Paulo, é possível fazer pela delegacia eletrônica. Para achar o link correspondente ao da sua região, basta buscar no Google por delegacia eletrônica e seu estado.

Na sequência, acione o banco e peça o bloqueio temporário de contas e cartões para impedir transferências, compras, contratação de financiamento, pedidos de empréstimo e saques indesejados.

2) Mude senhas

É essencial trocar as senhas de redes sociais e e-mail, pois é comum que criminosos tentem aplicar golpes de engenharia social. Ou seja, eles se passam por você para pedir dinheiro a seus contatos ou até para oferecendo produtos.

3) Busca e bloqueio do celular

  • iPhone:

Para encontrar seu dispositivo, entre em icloud.com/find em um navegador e marque o dispositivo como perdido. Ele será bloqueado remotamente com um código de acesso, mantendo suas informações seguras. O desbloqueio só é feito mediante a digitação de uma senha.

É possível também fazer esta operação por meio de um iPhone ou qualquer aparelho móvel com sistema da Apple.

  • Android:

É necessário ter o aplicativo Encontre meu Dispositivo instalado (alguns telefones já vêm com ele, caso o seu não tenha, baixe aqui. Basta acessar de um navegador a página a seguir: https://www.google.com/android/find/ e se logar.

Marque a opção Proteger Dispositivo. É possível ainda escrever uma mensagem personalizada para quando o telefone estiver bloqueado, com telefone de contato para devolução.

Dá ainda também para apagar as informações remotamente na opção "Limpar dispositivo".

O que pode ser feito para reduzir problema de roubo

De acordo com Marques, coordenador do FBSP, algumas medidas podem ajudar a reduzir o roubo de celular.

Para começar, a lista de boletins de ocorrências conta com os locais onde há maior ocorrência de roubos e furtos — em São Paulo, isso ocorre majoritariamente em vias de grande circulação, como as avenidas Paulista, do Estado e Cruzeiro do Sul, a rua Augusta e a praça da República.

"É necessário que haja um policiamento ostensivo e dinâmico nesses locai, pois o crime costuma migrar aos poucos", explica.

Marques ressalta ainda que é necessário um diálogo entre sociedade e os bancos para que as instituições criem camadas adicionais de proteção que impeçam mais prejuízos às vítimas.

Além disso, é necessário um trabalho de investigação para conter grupos e quadrilhas que fazem parte da cadeia do crime — do ladrão que obtém o celular, passando pelos que extraem informações e chegando até quem revende peças ou modelos para fora do país.