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Por que nova diretora da Nasa trocou a Bíblia em juramento de posse

Makenzie Lystrup fazendo seu juramento com a mão em uma cópia do best-seller "Pale Blue Dot"  - Divulgação/ Nasa Goddard
Makenzie Lystrup fazendo seu juramento com a mão em uma cópia do best-seller "Pale Blue Dot" Imagem: Divulgação/ Nasa Goddard

Simone Machado

Colaboração para Tilt*, em São José do Rio Preto (SP)

13/04/2023 04h00Atualizada em 16/04/2023 09h22

Se olhar atentamente para a foto de posse da nova diretora da Nasa, você verá algo curioso: Makenzie Lystrup está fazendo seu juramento com a mão apoiada em uma cópia do best-seller "Pálido Ponto Azul', do cientista e escritor Carl Sagan, de 1994. Nada de Bíblia ou em qualquer outro livro sagrado convencional. A imagem foi divulgada pela Nasa, na sexta-feira (7).

Em entrevista ao site Futurism, Makenzie Lystrup, a primeira mulher a comandar o Goddard Space Flight Center, explicou que fez a escolha incomum por se inspirar em Sagan. Para ela, o astrofísico tinha uma vontade incansável de levar ciência à população.

Cientista, professor, astrônomo e biólogo, Sagan foi autor de mais de 600 publicações e de mais de 20 livros de ciência e ficção científica. Além disso, ele é considerado o cientista norte-americano mais influente do século 20.

Como muitos astrônomos e cientistas espaciais, minha paixão por esse universo começou quando eu era criança e assistia 'Cosmos', de Carl Sagan, na televisão aberta. Sagan trabalhou muito para tornar a ciência acessível e significativa para todos. E 'Pálido Ponto Azul' enfatiza a importância de explorar nosso universo e entender nosso planeta. Pareceu apropriado incluí-lo na cerimônia, dado o seu significado pessoal para mim e como sua mensagem ressoa no trabalho que fazemos na Nasa
Makenzie Lystrup

Na segunda-feira, a Nasa Goddard endossou a escolha da diretora e publicou em sua conta no Twitter uma foto acompanhada de uma citação de Sagan:

A imaginação muitas vezes nos leva a mundos que nunca existiram. Mas sem ela não vamos a lugar nenhum

Uso de qualquer livro é permitido

Embora a escolha Lystrup do livro a ser usado para realizar seu juramento seja "incomum" (a Bíblia costuma ser mais usada para atos do tipo), a lei nos Estados Unidos permite escolhas diferentes da Bíblia. Isso ocorre devido à separação entre Igreja e Estado.

O artigo 2º, § 1º da Constituição Federal norte-americana trata do juramento de posse do presidente, lista o texto que deve ser lido, mas não faz nenhuma menção sobre o uso obrigatório de Bíblias durante o ato.

Em outro trecho, a Carta Magna dos EUA descreve como os membros do Congresso, das legislaturas estaduais e outras autoridades públicas devem fazer seus juramentos. Também neste trecho não há nenhuma especificação de qual livro deve ser usado durante o juramento. Por isso, é possível usar qualquer volume significativo para quem estiver jurando, optar por não ter livro nenhum ou mesmo apenas levantar a mão durante a cerimônia.

Até revista em quadrinhos

Makenzie Lystrup não foi a primeira pessoa a usar um livro diferente da Bíblia em seu juramento.

Na Pensilvânia, o governador do estado, Josh Shapiro, que é judeu, prestou juramento sobre três textos judaicos. Entre eles, havia um livro emprestado da Sinagoga Árvore da Vida em Pittsburgh, local de um ataque anti-semita em 2018, onde um atirador matou 11 pessoas.

Em seu juramento, o deputado Robert Garcia (Califórnia) segurou uma cópia da Constituição dos EUA. Debaixo dela, porém, estavam a primeira edição de uma revista em quadrinhos do "Superman", emprestada da Biblioteca do Congresso, uma foto de seus pais, que morreram de covid-19, e seu certificado de cidadania. Para ele, todos os itens tinham significado pessoal.

Com informações de Futurism, The New York Times e American United