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Play Lucrativo: por que app que promete grana para assistir a vídeo é risco

Tela do site Play Premiado promovido nos anúncios do Google. App com inúmeras acusações de fraude possui diversas variações de nome - Gabriel Daros/UOL
Tela do site Play Premiado promovido nos anúncios do Google. App com inúmeras acusações de fraude possui diversas variações de nome Imagem: Gabriel Daros/UOL

De Tilt, em São Paulo

21/04/2023 12h05

Uma série de propagandas feitas por influencers nas redes sociais envolveram serviços fraudulentos, como o InstaMoney e o Money Looks. No geral, a promessa dessas plataformas é de dar dinheiro em troca de tarefas fáceis.

Outro app que segue um modelo similar é o Play Lucrativo — que também aparece com variações, como "Play Premiado". Contudo, ele também faz parte de um esquema de fraude para enganar usuários, segundo especialistas consultados por Tilt.

Aplicativos como esses podem ser enquadrados na categoria de estelionato, a indução ao erro para obter vantagem ilícita, explica a advogada Patrícia Peck, especialista em direito digital.

"Uma fraude digital é caracterizada por qualquer situação em que dados pessoais ou bancários são usados de forma indevida — e é exatamente o que acontece com uma pessoa que usa esse tipo e aplicativo", acrescenta.

Como funciona

O app promete "mudar a vida" de quem procura renda extra, com uma suposta tecnologia que paga o usuário para assistir a vídeos "em diversas plataformas, como Youtube, Instagram e TikTok."

Porém, ele coleciona várias reclamações na Play Store (loja de aplicativos do Google) e no ReclameAqui, como o comentário abaixo:

"Acabei acessando, fiz a minha inscrição e efetuei o pagamento só que eu não tive o acesso. O suporte entrou em contato comigo, super educada, e me disse que o site em que eu tinha feito [cadastro] não era oficial. E eu quero o reembolso do meu dinheiro, pois o curso que estão informando no site Evermart, não é nada relacionado ao Play Premiado".

Tilt contatou os desenvolvedores da plataforma. Eles não se pronunciaram até o fechamento da matéria.

Em resposta a reportagem, o Google informou que a versão do aplicativo consultado foi derrubada por violar as políticas de privacidade da Play Store.

"Contamos com uma combinação de inteligência de máquina, revisores humanos e denúncias de usuários para identificar conteúdo impróprio. Levamos muito a sério as denúncias de segurança contra aplicativos e, se descobrirmos que um app violou nossas políticas, agimos imediatamente", explicou a empresa em nota.

"Nossos usuários também são protegidos pelo Google Play Protect, que avisa os usuários ou bloqueia aplicativos maliciosos identificados em dispositivos Android", acrescentou.

A empresa recomenda que caso você se depare com apps similares, que eles sejam denunciados na própria Play Store. Para isso:

  • Na página do app, toque no botão de três pontos;
  • Em seguida, clique em 'Sinalizar como impróprio';
  • Pronto, o app estará denunciado.

Por que esses golpes dão certo?

Segundo a empresa de cibersegurança NetSafe, os golpes se aproveitam da impressão de que a vantagem é prática, rápida e legítima — algo que ocorre desde anúncios fraudulentos em revistas.

"Os criminosos são muito criativos e trabalham muito o emocional das pessoas, às vezes a fraude está escancarada e o usuário não consegue enxergar", explica Waldo Gomes, diretor de marketing da NetSafe Corp.

O app é fraudulento, mas... e a divulgação?

Márcio Chaves, advogado também especialista em direito digital, explica que o estelionato também pode se estender a pessoas pagas para promover apps falsos, já que estão induzindo ao erro para dar vantagem a outros.

"Para usuários — famosos ou não — isso também pode configurar um crime. Se você sabe que se trata de um golpe, e ainda assim divulga, pode sim responder criminalmente por essa divulgação", afirma.

Mesmo em casos que a pessoa não saiba que está promovendo um serviço fraudulento, ainda podem haver consequências judiciais: "ainda que ele consiga se esquivar de uma responsabilização criminal, ele também pode ter que responder na vara cível, a pagar indenização para aqueles que confiaram, que deram voto de confiança em uma figura pública", diz Chaves.

"Independentemente de crime, mesmo a situação de negligência, de associar seu nome e reputação para endossar algo que gere dano ou lesão a terceiros pode sim gerar responsabilidade civil para o influencer, por negligência e omissão", complementa a advogada Patrícia Peck. "Por isso, é importante estar atento antes de endossar/impulsionar algo na Internet."

Fui vítima de um app fraudulento. O que fazer?

  • Verifique se a adesão ao programa não está relacionada com assinatura (mensal, anual). Caso esteja, cancele o serviço imediatamente;
  • Denuncie na loja de aplicativo a sua experiência negativa;
  • Procure informações detalhadas da contratação para verificar qual a origem da empresa. Se conseguir algo, tente contato e solicite a restituição;
  • Se o sentimento e as informações levam a uma fraude escancarada, procure uma delegacia e realize um boletim de ocorrência;
  • Procure o meio de pagamento e verifique se é possível bloquear a transação.